Já explicamos aqui a distorção que setores da esquerda identitária procuram fazer em relação à posição do PCO sobre a polêmica no caso Robinho. Condenado por estupro na Itália, o jogador tem sido alvo de uma campanha, orquestrada pela imprensa golpista – em primeiro lugar a rede Globo – e seguida por essa esquerda, de linchamento e “caça às bruxas”. O PCO chama a atenção para o fato de que tal campanha não tem nada de esquerda e irá se voltar contra as próprias mulheres, já que reforça o sistema de repressão do Estado.
A distorção desses setores identitários consiste em afirmar que a posição do PCO é uma defesa do estupro ou do estuprador, no caso, o jogador Robinho. Portanto, ter uma posição política de princípios seria o mesmo que defender um crime comum, uma ideia da direita que, diante da posição da esquerda de que o crime é um problema social, acusa de estar “defendendo criminoso”.
O blogueiro do PCB, Jones Manoel, fez uma postagem em seu Twitter criticando artigo publicado por este Diário e procurando distorcer a posição afirmando que há um “reforço da cultura do estupro”. Outra blogueira esquerdista, Sabrina Fernandes, esta ligada ao PSOL, correu para apoiar a posição de Jones Manoel: “essa construção da frase é exemplo da cultura do estupro. Muito comum em reportagens da mídia hegemônica. Mas dessa vez não foi a imprensa burguesa que usou…”
A frase em questão é um trecho de artigo deste Diário onde se diz que “após sete anos do ocorrido, surgiu uma denúncia de abuso sexual contra uma moça e que o jogador de futebol Robinho teria participado”. Para Sabrina Fernandes, a frase acima é um “exemplo da cultura do estupro”.
O que significa a “cultura do estupro”
Antes de entrar propriamente na acusação de Sabrina Fernandes, é importante um esclarecimento sobre a ideia de “cultura do estupro”. Muito difundida inclusive na imprensa burguesa, por trás dessa ideia está a crença de que o estupro ou a violência contra a mulher em geral seria um problema cultural, ou seja, um problema de “mentalidade”, de “pensamento”.
Dessa ideia, devemos concluir duas coisas. A primeira é que o problema da mulher – e de todos os oprimidos – não estaria determinado pela situação material, concreta da sociedade, ou seja, um produto da exploração econômica e da luta de classes. Para resolver o problema, portanto, bastaria mudar a mentalidade sem mudar as relações sociais.
E coma fazer isso? Para acabar com a “cultura do estupro” deveriamos fazer uma espécie de lavagem cerebral. O papel da esquerda seria obrigar que todas as pessoas pensem como ele, um controle do pensamento. É uma concepção reacionária e que em última instância só pode ser colocada em prática pela classe social dominante, ou seja, a burguesa, que é quem domina as instituições repressivas.
Como fica claro, tal ideia é reacionária e só pode resultar em uma política igualmente reacionária. Não se trata de travar uma luta política em defesa dos direitos materiais das mulheres e não se trata de lutar para mudar a sociedade de classes, fundo de toda a opressão.
Acusou, é culpado!
Resulta da ideia de “cultura do estupro” que se uma pessoa fala alguma coisa que possa desagradar o senso comum identitário ele pode facilmente ser enquadrado como uma espécie de apologista do estupro. Esta é a insinuação de Sabrina Fernandes: o PCO falou algo que não a agradou, logo o PCO reproduz a “cultura do estupro”.
Mas vejamos concretamente o que signfica a acusação contra a frase em questão. Relembrando “após sete anos do ocorrido, surgiu uma denúncia de abuso sexual contra uma moça e que o jogador de futebol Robinho teria participado”. Para Sabrina, a “construção” dessa frase seria a reprodução da “cultura do estupro” porque coloca em questão a participação de Robinho no estupro. Uma simples falsificação impulsionada pela histeria sobre o caso.
Robinho está condenado em Primeira Instância, se declara inocente e, para ser definitivamente condenado precisa passar por três instâncias. Para Sabrina, nada disso importa, Robinho deve ser sumariamente condenado. Devemos fazer coro com a política reacionária da direita e condenar Robinho sumariamente. Do contrário, se defendemos o direito básico de qualquer cidadão se defender, estamos, na cabeça de Sabrina Fernandes, reproduzindo a “cultura do estupro”.
A blogueira do PSOL atribui a posição do PCO à imprensa burguesa. Essa é uma pura falsificação da realidade. Justamente a imprensa, que ela chama de “mídia hegemônica”, é quem está levando adiante não a posição do PCO, mas a posição da própria Sabrina, de Jones Manoel e de toda a esquerda identitária.
Para ser mais claro, é justamente a imprensa hegemônica quem impulsionou e leva adiante com mais força a campanha contra Robinho. A rede Globo – quer mais “hegemônico do que isso? – divulgou o caso, publicou conversas vazadas, deu espaço para que vários de seus jornalistas criticassem publicamente Robinho. Parece que quem está repetindo a imprensa burguesa não é o PCO.
Todos os órgãos da imprensa abriram fogo contra a contratação de Robinho pelo Santos. Os patrocinadores do Santos ameaçaram retirar o patrocínio. A ministra bolsonarista, Damares Alves, afirmou que Robinho deveria ser preso. Parece que não precisa ser muito astuto para perceber que a direita é quem tem o método defendido por Sabrina Fernandes. O método da caça às bruxas, ou seja, cria-se um clima histérico na sociedade para se colocar as pessoas na fogueira. Não precisa provar, basta acusar.
O que Sabrina Fernandes defende é justamente o que está defendendo a imprensa burguesa. Basta que Robinho seja acusado que automaticamente ele está culpado, ignorando os direitos básicos de defesa não apenas de Robinho, mas de todo cidadão.
A esquerda identitária está substituindo a defesa dos direitos democráticos da população pelo método fascista do linchamento público. Essa falta de princípios, que está relacionada à política demagógica da esquerda pequeno-burguesa, é o caminho para se colocar a reboque da direita, como está acontecendo no caso Robinho.