Nesta quinta (28), foi aprovada pelo Congresso, a Medida Provisória (MP) 936/2020. Com ela, que agora segue ao Senado, será possível alterar a legislação trabalhista. A redução de salários, por exemplo, estará legalizada.
A aprovação é um aprofundamento da precarização das condições de trabalho, num momento de crise econômica e sanitária. No entanto, mesmo neste contexto de desolação total para os trabalhadores, há setores do movimento sindical, da esquerda, que elogiaram a aprovação da medida.
É o caso da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), que através de seu presidente, Adilson Araújo, afirmou:
“Considerando a difícil correlação de força e as manobras do governo para cooptar grande parte do Centrão, conseguimos, sim, reduzir o mal maior… Apostamos na grande política e protagonizamos, através do diálogo, medidas que rompem o ranço conservador do bolsonarismo.”
Da forma que é colocada, a afirmação faz parecer que o movimento operário teria conseguido, depois de anos, sua primeira vitória no Congresso golpista. No entanto, qual seria a vitória no fato de ter sido legalizada a redução dos salários, que diga-se de passagem, todo ano já é consumido pela inflação e pela reposição abaixo dela?
Mas o dirigente sindical vai além. Para ele, isso só foi conseguido graças à atuação do deputado federal Orlando Silva (PcdoB-SP), que foi o relator da medida! Segundo Araújo, a participação do deputado “foi um ato de grandeza, numa tarefa de grande envergadura”. Para ele, “o deputado do PCdoB teve a capacidade de exercer um papel de diálogo com oposição e com os prepostos da situação. Soube ouvir o movimento sindical, as centrais, e convergir para o acordo possível. Orlando conseguiu externalizar seu compromisso com os interesses da classe trabalhadora, sobretudo com aqueles que mais necessitam.”
Ou seja, para o sindicalista, perder direitos numa medida totalmente contra os trabalhadores brasileiros, aprovada pelo governo Bolsonaro, com anuência e participação direta da esquerda, é uma prova do compromisso com os interesses dos trabalhadores. Mas qual compromisso com os trabalhadores há em reduzir seus salários e direitos?
Qualquer trabalhador que soubesse desse episódio se perguntaria porque seria uma vitória perder direitos, num projeto bolsonarista, e com o voto e articulação de parlamentares de esquerda, que supostamente seriam sua representação no regime parlamentar?
A lógica do dirigente da CTB, apesar de muito contraditória, fica mais clara se considerarmos falas de outros dirigentes sindicais, de centrais pelegas como a Força Sindical:
“Orlando foi um mestre. Numa bancada contra nós, conseguiu acordo possível, que reduziu os males da MP 936”, disse João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical.
Mais, se considerarmos a resposta dada pelo conjunto das centrais sindicais, fica claro que Araújo não inventou essa abordagem, apenas reproduz ela num nível escancarado.
Isso pode ser visto numa nota conjunta, publicada por presidentes de centrais sindicais (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB, NCST, CGTB e Intersindical) na sexta (29). Para os dirigentes, Orlando Silva “atuou dialogando com as lideranças sindicais, com a situação e oposição para fazer com que a Medida causasse menos danos para os trabalhadores”.
Essas lideranças de esquerda propagam como vitória essa derrota, sofrida na aprovação da MP 936, porque concebem que seu papel como dirigentes se limita apenas a fazer pressão parlamentar no Congresso, que diga-se de passagem, está dominado pelos golpistas. Materializam em sua atuação a política da frente ampla, de se aliar com o centrão, que supostamente seria contra
Esse é o ponto central da questão. As direções das maiores organizações de trabalhadores no país acreditam no regime. Acreditam que é possível progredir “dialogando com o centrão”, mesmo que o centrão seja a direita golpista que pariu Bolsonaro.
Essa ilusão é uma cobertura ideológica que permite omitir o que é fundamental no tema. Ou seja, a de que a aprovação dessa medida é uma manobra para revogar a CLT e os direitos dos trabalhadores durante a pandemia do coronavírus. Tudo isso para defender o interesse dos grandes capitalistas, que são os financiadores do golpe de Estado e de todas as suas consequências, das quais essa MP é apenas um dos gigantescos ataques presentes na lista dos golpistas.
Ou seja, essas ilusões servem para tornar plausível para estas mesmas direções da esquerda parlamentar e sindicais, para abdicarem do seu papel de liderança dos trabalhadores para aceitarem ser um apêndice da burguesia contra os próprios trabalhadores.