A ação da PM do Ceará, que impediu a realização do ato nacional de manifestantes contra o governo golpista de Bolsonaro em Fortaleza, é muito ilustrativa da completa falta de substância política nas estrambólicas ações e declarações de seus membros mais destacados da oligarquia cearense dos Ferreira Gomes, cujo representante mais renomado, Ciro Gomes, voltou aos holofotes dizendo “vamos pro cacete, vamos defender a democracia.” Isto, vale lembrar, foi dito horas depois da PM de seu governador, Camilo Santana, “ir pro cacete” de fato, efetuando 7 prisões políticas e acabando com os atos contra a Bolsonaro, o que na prática, não coloca os oligarcas na defesa da democracia mas sim do bolsonarismo.
O uso do aparato repressor para impedir uma manifestação popular em si já é uma demonstração clara da natureza política dos Ferreira Gomes. A ação alucinada do irmão de Ciro, Cid, ao tentar romper um piquete com uma retroescavadeira é típico de uma mentalidade coronelista, de alguém louco o bastante para se achar inatingível ante um grupo grande de pessoas armadas. A tentativa de capitalizar em cima da loucura de Cid pode ter causado alguma confusão no momento mas certamente se desmascara agora, com a opção de recorrer aos outrora denunciados como fascistas (o que a PM de fato é) para impedir a população de se manifestar contra o presidente fascista.
O governador do Ceará Camilo Santana, é bom que se esclareça, está no Partido dos Trabalhadores mas é acima de tudo um funcionário dos Ferreira Gomes. Tendo reproduzido a política da oligarquia cearense, todo tipo de aproximação com o bolsonarismo, inclusive o uso da Força Nacional, já foi realizado pelo governador da direita petista. A ordem de reprimir o levante popular acaba sendo um dos gestos mais profundamente reacionários de seu governo, a ponto de causar um mal-estar inclusive na CUT. Contudo, é um equívoco creditar a ação repressora da PM apenas à uma vontade do governador direitista.
Aqueles a quem o governador de fato serve, os grandes responsáveis por sua eleição, são de fato os Ferreira Gomes, que seguem a política da burguesia de colocar Bolsonaro na linha sem alarmar demais a população, que por sua vez, tende a ver no ex-presidente Lula a liderança capaz de atender os interesses do povo. Nesse sentido, não chega a ser surpreendente que depois da comoção causada pelo episódio da retroescavadeira, os Ferreira Gomes continuem indo à Rede Globo chamar Lula de traidor da luta contra o fascismo enquanto ordenam à PM que ataque manifestações contra o fascismo. É acima de tudo, uma certa coerência burguesa, que pouca ou nenhuma atenção dá a “detalhes”, desde que consiga impor seus interesses.