Procurando capitalizar politicamente o debate sobre a greve dos policiais militares no Ceará, Ciro Gomes (PDT), após defender a atitude fascista de seu irmão – o senador Cid Gomes (PDT-CE) – colocou-se como um grande combatente do fascismo. Uma tentativa de omitir o fato de ser um oligarca direitista, reacionário, que se somou à campanha da burguesia contra Lula e o PT, sendo responsável pela eleição fraudulenta de Bolsonaro.
Com a polêmica surgida do episódio, um setor de esquerda acabou capitulando diante da burguesia e abordou o conflito como se os Ferreira Gomes fossem verdadeiros opositores da extrema-direita. Uma tentativa de colocar as oligarquias como algo progressista e não como um fenômeno reacionário que é, datado da época das capitanias hereditárias e que se mantém naqueles locais onde a burguesia não se desenvolveu o suficiente para extingui-las.
Daí a necessidade de resgatar claramente quem é Ciro Gomes, o principal representante da oligarquia Ferreira Gomes e acabar com o mito do “centrão anti-fascista” ou da “direita anti extrema-direita”. Ciro Gomes pode ter enganado muita gente nas eleições, mas sua trajetória política oferece um diagnóstico preciso de quem ele é e a quais interesses de classe sempre serviu e continua servindo.
Ciro Gomes começou na política profissional os 23 anos, época em que seu pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, foi eleito prefeito e o nomeou como procurador do município de Sobral. O pai de Ciro Gomes era um político oligarca tradicional, que passou por partidos da ditadura (UDN, ARENA, PDS) e terminou saindo do PMDB para o PSDB. Ciro Gomes não diferiu muito do pai (PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB, PROS, PDT), seguindo os passos da oligarquia cearense dos Ferreira Gomes. Ou seja, muito diferente de seu discurso pseudo progressista das eleições de 2018, Ciro Gomes sempre foi um político oligarca, de direita.
Em meados de 2015, já mirando a campanha eleitoral de 2018, Ciro Gomes adotou um discurso de suposta denúncia do golpe de Estado, colocando-se contra o impeachment da presidenta Dilma Roussef. No entanto, sua “defesa” do mandato de Dilma não passou de discursos e demagogia barata. A medida que o golpe de Estado se aprofundou e a direita ampliou sua investida contra o PT, sobretudo contra Lula, Gomes recuou da sua posição supostamente combativa, na denúncia da direita, passando a fazer coro com as acusações e calúnias mais tradicionais da direita contra o PT. Inclusive chegando a dizer que Lula não era um “preso político”, mas sim um “político preso”.
Na eleição, serviu como um instrumento da burguesia para tirar votos do Partido dos Trabalhadores (PT). Com seus discursos inflamados, retórica persuasiva e demagogia delirante, procurou se colocar como um candidato alternativo ao PT, dividindo votos que, sem sua candidatura possivelmente, iriam para o PT e seu candidato. Neste sentido, foi um dos principais atores no enfraquecimento da já debilitada candidatura do PT com o plano B (Haddad) e do fortalecimento do bloco golpista de trás de Bolsonaro. Não por acaso, retirou-se da campanha no 2º turno, dizendo que não faria campanha para o PT.
Muitos mais exemplos que provam o caráter reacionário de Ciro Gomes poderiam ser dados, mas para finalizar, um episódio que mostra a sua vinculação de classe e de qual lado se posiciona no conflito entre uma categoria e a burguesia.
Em entrevista ao Jornal de Hoje em 01/08/2016, Ciro Gomes lamentou que o irmão Cid, ex-ministro e ex-governador do Estado não tenha reprimido a greve da PM no Ceará, em 2011. Ciro afirmou que Cid “devia ter mandado prender esse vagabundo (Capitão Wagner), que é mancomunado com tudo que não presta e vive de explorar o terror”. Hoje Ciro mantém o mesmo discurso da repressão e do ataque ao direito de greve, numa clara defesa de um programa burguês, motivo pelo qual deve ser desmascarado como pseudo esquerdista que é.