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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Polícia Militar

“Acontece hoje e acontecia no sertão”

No carnaval pernambucano, a Polícia Militar impediu, ao menos duas vezes, que bandas tocassem canções de Chico Science e Nação Zumbi.

Por Victor Assis

Por mais repugnante que seja a figura do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, a revolta crescente da população contra seu governo é o resultado de anos e anos de experiência dos trabalhadores com a política neoliberal — que teve no PSDB, no DEM e no MDB seus principais representantes. A situação explosiva em que se encontra todo o continente é, portanto, consequência de uma crescente revolta contra o regime político de conjunto — dito de outra maneira, contra as instituições “democráticas”, responsáveis por garantir a ditadura da burguesia sobre a esmagadora maioria da população.

Ao mesmo tempo em que Bolsonaro suspira aliviado ao fim de cada dia de seu mandato, o STF e todo o Judiciário, o Congresso Nacional e todas as instituições estão completamente desmoralizadas perante a população. E assim também é, como não poderia deixar de ser, com a Polícia Militar, uma milícia fascista legalizada e sustentada pelo orçamento público.

Dados recentes mostraram que a Polícia Militar do Rio de Janeiro matou mais pessoas do que os “bandidos” de São Paulo — ou seja, a maior ameaça à vida dos trabalhadores é a própria PM, que se promove pelo discurso farsesco do combate à criminalidade. Vale destacar, ainda, que esses dados são apenas os dados oficiais: se forem levados em conta os assassinatos provocados pela polícia que não constam nos registros, esse número se torna ainda mais assombroso.

Se por um lado essa polícia, inimiga do povo, capacho dos patrões, racista e truculenta, receba cada vez mais autorização por parte do regime político para atacar o povo, por outro, a disposição da população em colaborar com seus agentes é cada vez menor. Em vários momentos, no ano de 2019, a população se revoltou contra a PM, como no caso do enfrentamento dos ambulantes no Brás, em São Paulo, e nos protestos contra a morte da menina Ágatha, no Rio de Janeiro.

Assim como a revolta contra o governo Bolsonaro colocou na ordem do dia uma mobilização pelo “Fora Bolsonaro”, a insatisfação com as arbitrariedades da PM colocou na ordem do dia a necessidade de uma campanha pela dissolução imediata da Polícia Militar. A PM, que foi concebida apenas para atender aos interesses da classe dominante, não tem nenhum motivo para existir: é preciso pôr um fim no órgão estatal responsável pelo maior número de mortes e torturas no Brasil.

Como era de se esperar, essa situação tem feito com que a PM reagisse com ainda mais brutalidade. Ao mesmo tempo em que os governos neoliberais congelam todos os investimentos em áreas importantes para a população, a Polícia Militar tem recebido cada vez mais equipamentos, aumentado mais seu efetivo e ganhado mais proteção legal. Antes que a explosão de fato aconteça, a polícia vai tentando se impor, cada vez mais truculenta, para reprimir qualquer possibilidade de um movimento que possa exercer uma vitória sobre a direita ganhar força.

No carnaval baiano, o cantor Igor Kannário, ao ver seus fãs sendo agredidos pela PM, protestou contra a instituição, chegando a chamar um policial de bunda mole. Um direito, obviamente, que deveria pertencer a todos: o de criticar uma instituição quando ela viola direitos básicos da população. No entanto, Kannário deverá ser judicialmente processado e está sofrendo uma perseguição da direita de todas as formas, tendo inclusive tido um show cancelado.

No carnaval de Recife, a arbitrariedade da polícia apareceu de maneira ainda mais explícita. Duas bandas foram censuradas pela Polícia Militar pelo mesmo motivo: por decidirem cantar canções de Chico Science e Nação Zumbi, que é uma das principais bandas tocadas no carnaval pernambucano. Em ambos os casos, o que irritou particularmente os policiais foi a canção Banditismo por uma questão de classe, que denuncia a atuação da polícia ao longo da história.

No caso da banda Devotos, seus integrantes, durante apresentação na terça-feira de carnaval (25), no Polo da Várzea, foram advertidos pela Polícia Militar que, e continuassem a tocar canções que criticassem a corporação, o show seria encerrado. Já o caso mais absurdo aconteceu com a banda Janete saiu para beber: na segunda-feira (24), a polícia interrompeu o show e fez uma barreira entre a banda e o público, chegando a ameaçar de prisão o seu vocalista.

Como diz a própria canção de Chico Science e Nação Zumbi, acontece hoje e acontecia no sertão, quando um bando de macaco perseguia Lampião: a atuação da PM em toda a história sempre foi a de esmagar a população em favor dos capitalistas. Por isso, diante de mais essa arbitrariedade, é preciso exigir a dissolução da Polícia Militar e a constituição de milícias populares armadas.

Em tempo: segue abaixo a letra da canção censurada.

Há um tempo atrás se falava em bandidos
Há um tempo atrás se falava em solução
Há um tempo atrás se falava em progresso
Há um tempo atrás que eu via televisão
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Oi sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava muitos hoje ainda falam
“Eu carrego comigo coragem, dinheiro e bala!”
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fodido
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Galeguinho do Coque não tinha medo, não tinha
Não tinha medo da perna cabeluda
Biu do olho verde é que fazia sexo, fazia
Fazia sexo com seu alicate
Sobe morro, ladeira córrego, beco, favela
A polícia atrás deles e eles no rabo dela
Acontece hoje e acontecia no sertão
Quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava muitos hoje ainda falam
“Eu carrego comigo coragem, dinheiro e bala!”
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fodido
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe
Banditismo por uma questão de classe

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