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É normal ser financiado?

Um “comunista” que defende a Fundação Ford

Ford e IREE são instituições da burguesia com o objetivo de servir politicamente ao imperialismo

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O youtuber Jones Manoel apresentou em seu canal uma tese bastante peculiar, principalmente se consideramos que ele, assim como seu partido, o PCB, se julga um comunista.

Ao falar sobre o financiamento de fundações ligadas a multinacionais, como a Ford, e outros órgãos imperialistas, a setores da esquerda nacional, Jones Manoel afirmou que “ser financiado pelo imperialismo não te faz agente dos EUA”. A análise de Jones, além de muito peculiar para quem se diz marxista, é, principalmente, uma confissão.

Como não dá mais para negar a relação de organizações e partidos de esquerda com o imperialismo, é melhor dizer que isso “não tem nada de mais”.  É a confissão de uma esquerda que se prostitui para o imperialismo e para os golpistas no Brasil e acha tudo normal.

Mas, afinal, sobre o que Jones Manoel está falando?

Para situar o leitor, vale uma breve retrospectiva. O comentário de Jones Manoel é uma tentativa de resposta ao levantamento feito por este Diário sobre as relações do IREE (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa) e de seu dono, Walfrido Warde, com elementos do golpismo, como o general golpista e ministro de Temer, Sérgio Etchegoyen, o também ex-ministro de Temer, Raul Jungmann e o ex-chefe da Polícia Federal em pleno andamento do golpe, Leandro Daiello. Todos esses com cargos de importância no IREE. Além disso, este Diário mostrou também as relações oficiais do instituto e do próprio Warde com ONGs e fundações imperialistas.

Guilherme Boulos é figura de proa no IREE e Warde um grande apoiador e financiador de sua candidatura.

O empresário (e seus sócios imperialistas) por trás de Boulos

Outros companheiros, como o perfil do Twitter Gringa Brazilien, também mostraram, com riqueza de informações, o financiamento da Fundação Ford ao movimento “Não vai ter Copa”, impulsionado pelo imperialismo para desestabilizar o governo Dilma. Jones, inclusive, participou desse movimento, como ele mesmo admite.

É sobre esses fatos que Jones Manoel tenta usar o seu “marxismo” de YouTube para justificar o injustificável.

Ser financiado é diferente de ser agente da CIA?

Quando afirma que uma pessoa não é agente dos EUA só porque é financiado por eles, Jones Manoel mostra sua desonestidade intelectual e política.

De fato, um agente da CIA é um funcionário, recrutado, treinado e com um pagamento regular. Recebe um salário ou alguma coisa próxima disso para agir como um espião, agente provocador ou algo assim.

O que está em questão quando se diz que determinada organização ou personalidade da esquerda age a serviço do imperialismo é que procura-se mostrar, em primeiro lugar, que sua política de uma forma ou de outra obedece ou está em acordo com os interesses imperialistas.

A CIA, assim como qualquer serviço estatal de inteligência de uma potência imperialista, não tem apenas empregados regulares e oficiais. Tem inúmeros agentes que prestam serviços irregulares, pontuais. Tem, também, outros que são utilizados como fantoches sem mesmo o saberem. Isso foi demonstrado, por exemplo, pela pesquisadora Francis Stonor Saunders em seu livro “Quem pagou a conta?”, que menciona uma série de artistas e intelectuais que receberam financiamento da CIA ─ via fundações, como a própria Fundação Ford ─ para realizarem apenas e tão somente o trabalho que já vinham realizando. E por quê? Porque o governo dos EUA acreditava que esse trabalho era importante para combater ideológica e culturalmente as posições revolucionárias e anti-imperialistas, e assim era de interesse do imperialismo promover as posições moderadas pois estas não representavam perigo algum ao imperialismo e deveriam ser predominantes na esquerda para domesticá-la.

Logicamente que não devemos colocar a mão no fogo por ninguém. Nem os editores deste Diário nem a maioria do povo sabem da vida de Jones Manoel, Guilherme Boulos, Walfrido Warde e outros. E é justamente por isso que não é possível afirmar nada categoricamente.

O que é possível fazer e o que de fato foi feito por este Diário é uma crítica política a essas relações. É essa, inclusive, a tradição da esquerda e do movimento operário. Para exemplificar: a crítica é justamente ao fato de que um movimento vendido como de esquerda, como é o caso do “Não vai ter Copa”, tenha recebido dinheiro do imperialismo e serviu ao golpe de Estado contra o governo do PT.

Jones Manoel deveria saber de tudo isso, mas se faz de desentendido. Melhor dizendo, como um youtuber arrogante que é, ele tenta sair pela tangente: “não tem nada de mais”. Só acredita nessa explicação quem quer ser enganado.

Fato é que, como afirmou o companheiro Rui Costa Pimenta em seu Twitter, “Ser financiado pela CIA não faz de você um agente da CIA. De fato, os agentes são recrutados, treinados e recebem pagamento regular. Os demais são apenas terceirizados, uma espécie de uberizados do imperialismo.”

Até que se prove o contrário ou que se descubra novas evidências, Jones Manoel e seu amigo Guilherme Boulos podem ficar tranquilos: para nós, eles não passam de uns terceirizados do imperialismo.

A explicação de Jones Manoel apenas revela suas implicações com o imperialismo e com o golpe, coisa, aliás, que para quem acompanha a política desse setor da esquerda pequeno-burguesa, nunca foi grande novidade.

O próprio Manoel reconheceu há algum tempo que a Fundação Ford é um instrumento de dominação do imperialismo.

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Jones não tem nada de marxista ou comunista, é um aspirante a pseudo-intelectual acadêmico. Por isso, para ele, as citações, como essa indicação do livro de Pierre Bourdieu e Loïc Wacquant, dois acadêmicos burgueses, é apenas um jogo de palavras, pura masturbação teórica.

Quando o financiamento da Fundação Ford é apenas um assunto abstrato, Jones aponta a influência do imperialismo pelo mundo; quando se trata da política real, como agora, aí não tem problema, “tudo normal”.

O financiamento da Fundação Ford e outras a pesquisas, organizações e movimentos é a difusão da ideologia norte-americana pelo mundo. E esse é um dos meios tradicionais que o imperialismo utiliza para influenciar a política no mundo todo.

Além da desonestidade e baixeza intelectual, a posição de Jones se revela profundamente oportunista. Se mexerem os amigos dele, vai negar até o fim, mesmo que as evidências estejam escancaradas, para qualquer um ver.

Esse é o caráter da esquerda pequeno-burguesa, que cada dia que passa se revela mais integrada ao regime imperialista.

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