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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Duas práticas antagônicas

O jornalismo burguês e o jornalismo revolucionário

Enquanto o jornalismo burguês, sob o manto da imparcialidade, manipula os fatos, o revolucionário os esclarece ao não ocultar seu partido

É grande a campanha da burguesia a respeito das “fake news”. O monopólio da comunicação, em todas as suas áreas, restringe cada vez mais ─ sempre de forma arbitrária ─ o espectro daquilo que é confiável e daquilo que não é.

Confiáveis são sempre os veículos de comunicação tradicionais da burguesia, ou os que são criados por ela. Não confiáveis são aqueles sobre os quais a grande burguesia de conjunto não tem controle. Dentre esses últimos estão, claro, os veículos partidários da classe operária.

Os jornais, sites, canais, emissoras, revistas que defendem expressamente um determinado partido político são tachados de não confiáveis ou mesmo de difundirem “fake news”. Isso é baseado no mito difundido pela burguesia de que o jornalismo deve ser imparcial.

Um mito forjado para dominar

O jornalismo moderno nasceu quando a burguesia ainda não era a classe dominante. Seguindo o pensamento burguês clássico, o jornalismo deveria prezar pela defesa do interesse público, ou seja, dos interesses do povo, daqueles que estão submetidos à dominação do Estado absolutista. É importante recordar que, naquela época, a burguesia fazia parte do povo, na verdade ela mesma assumia-se como “o povo”. Logo, desde a sua origem, não era um jornalismo imparcial, mas que tomava parte de interesses específicos da sociedade: os interesses do povo, isto é, da burguesia.

Quando a burguesia assumiu o poder do Estado e consolidou esse poder, percebeu que um dos meios pelos quais esse poder deveria ser mantido seria pela ideologia, expressa, entre outras maneiras, pela imprensa. Mas não poderia dizer que essa imprensa exprimia os interesses da própria burguesia, porque agora quem controlava o Estado era ela; a burguesia era a classe dominante que subjugava as demais. Teria de manter a fachada do “interesse público” para maquiar seus interesses particulares, mesmo que esse “interesse público” se referisse, originalmente, aos interesses do povo contra a ditadura do Estado.

Com a passagem da era liberal do capitalismo, da democracia burguesa, para a era monopolista, imperialista, os meios de comunicação seguiram a tendência à monopolização de todos os ramos econômicos: a imprensa pertencia agora somente a meia dúzia de capitalistas. Impérios da comunicação foram formados, assim como haviam sido formados impérios da indústria, das finanças, da tecnologia. Sempre uns interligados aos outros.

O jornalismo, agora, não atendia mais aos interesses populares, mas aos interesses oficiais. Nascia uma poderosa indústria da mentira, cuja mentira número um era a de que essa indústria estava a serviço do povo e que não tomava parte entre os interesses específicos das diversas classes sociais.

Essa era a premissa com a qual os monopólios da imprensa trabalhavam diariamente, enganando o povo que eles diziam defender, escondendo a verdade que diziam revelar e protegendo o Estado que diziam combater.

A imparcialidade não existe

Mais de cem anos depois, a situação permanece a mesma. Todos os jornais burgueses dizem, oficialmente, em documentos, e em sua linha editorial, defender os mesmos princípios iluministas, para encobrir que, com a burguesia no poder, com um sistema de monopólios e com um Estado ditatorial, na realidade esses princípios são completamente anacrônicos. Não é possível colocá-los em prática. Porque são princípios que vão contra o Estado que a burguesia controla inflexivelmente.

Para enganar os leitores, a Folha de S.Paulo utiliza o lema “Um jornal a serviço da democracia”. Em seus Princípios Gerais, O Estado de S. Paulo diz que “defende o sistema democrático de governo, a livre iniciativa, a economia de mercado e um Estado comprometido com um país economicamente forte e socialmente justo”. O Globo expõe em seus Princípios Editoriais que “será sempre independente, apartidário, laico e praticará um jornalismo que busque a isenção, a correção e a agilidade”.

Tudo isso não passa de lorota. A história, inclusive a história recente, comprova que esses jornais são as maiores fábricas de mentiras que já existiram no País.

A questão é que se escondem atrás do manto da neutralidade, da imparcialidade, do apartidarismo. Por isso mesmo o jornalismo burguês é baseado essencialmente na factualidade e não na opinião. As escolas de jornalismo e as redações dos jornais ensinam os jovens jornalistas que apresentar os fatos é a melhor maneira de contar uma história que busca a verdade. Assim, não há espaço para a opinião do jornalista. Mas somente os ingênuos podem pensar que, embora procurem ser imparciais, conseguirão fazer o público compreender a realidade. Porque, além do ponto de vista do jornalista, haverá a intervenção do revisor, do editor, do diretor de redação ─ cada um com uma posição mais alta que o outro dentro da empresa capitalista, todos funcionários de confiança do patrão, que, nos grandes monopólios, é um ou mais capitalistas.

Além disso, a notícia não está isolada do conjunto do noticiário. Mesmo que o repórter consiga fazer passar uma notícia que mostre, por exemplo, que Lula é inocente, o conjunto do noticiário do dia, da semana, do mês, do ano, da década, está montado para apresentar o contrário.

A imparcialidade não existe. A factualidade é escolhida como estilo predominante não porque está mais próxima da verdade, mas porque é mais fácil de ser manipulada. Um jornal burguês esconde sua opinião por trás da factualidade, mas a factualidade não o impede de dar sua opinião ─ pelo contrário: a opinião é transmitida como se fosse um fato consumado. Durante o golpe, as manchetes dos jornais não eram opinativas, mas factuais. Lula era tido como corrupto e Dilma como culpada sabe-se lá por quê. Mas havia “fatos” que comprovavam isso. Por trás, estava a burguesia influenciando a opinião do público, para que esse pensasse mesmo que as coisas eram assim. Se a burguesia expressasse claramente a sua opinião através de seus articulistas, não conseguiria convencer ninguém. Porque o povo, oprimido, não compartilha da mesma opinião da burguesia, sua opressora.

Hipocrisia e honestidade

Se a imparcialidade, portanto, não existe, algo deveria estar em seu lugar. Isso é a honestidade. A burguesia, desonesta, esconde sua opinião por trás das notícias “imparciais” porque sabe que ninguém compartilha de suas opiniões a não ser ela mesma. Mas é possível ser honesto no jornalismo. E ainda mais: é possível ser honesto sem ser imparcial. Mais ainda: só é possível ser honesto no jornalismo se você for parcial. Será honesto quando deixar absolutamente claro de que lado você está, quais os interesses que você defende; isto é, de qual classe social você é porta-voz.

Vejamos um exemplo do jornalismo “imparcial” que, no entanto, não poderia ser mais desonesto. Em coluna publicada no dia 11 de julho no Estadão, a renomada jornalista Eliane Cantanhêde, uma víbora da imprensa burguesa, escreveu: “O presidente Jair Bolsonaro está esfarelando e, se a eleição fosse hoje, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria eleito no primeiro turno, segundo o Datafolha. Lula, portanto, já é o grande vitorioso. É hora de reagir à ameaça de golpe com um golpe de mestre espetacular, de enorme grandeza, abrindo mão da cabeça de chapa e assumindo a vaga de vice numa chapa de união e pacificação nacional. Um gesto para a história à altura da sua biografia e do grande líder que ele é.”

Cantanhêde é uma das maiores representantes da direita dentro das redações. Ficou famoso seu comentário, quando cobria uma convenção do PSDB, de que aquilo era uma reunião de massas, mas de uma “massa cheirosa” ─ ou seja, de almofadinhas, de playboys e de madames. Ela sempre se declarou inimiga da esquerda e dos trabalhadores. Se fosse honesta, diria: “Lula, não queremos que você vença as eleições. Não te queremos de volta no governo, porque queremos um governo que esmague os trabalhadores e que entregue a última gota de petróleo para os capitalistas estrangeiros. Queremos um governo de assassinos e de entreguistas. Queremos um governo do PSDB, do DEM, do MDB. Então você não pode ser candidato.” Mas como isso iria apenas deixar o povo com ainda mais raiva da direita, ela precisa fazer malabarismos dos mais alucinados para transmitir sua opinião disfarçadamente.

É um jornalismo que esconde seus objetivos do público, um jornalismo feito para enganar o público. O manto da imparcialidade encobre os seus verdadeiros interesses. É um jornalismo desonesto.

Mas não são apenas os grandes meios de comunicação burgueses que praticam esse tipo de jornalismo. Os pequenos também o fazem, sejam eles de direita ou de esquerda. A imprensa progressista não escapa a essa lógica, porque em sua maioria ela funciona como uma empresa capitalista.

Exemplo recente na imprensa burguesa de esquerda (isto é, do jornalismo burguês de baixo orçamento e ideias mais progressistas) foram as calúnias espalhadas pela Revista Fórum, nomeadamente por seu editor, o jornalista de formação e de carreira Renato Rovai. Ele jogou no lixo o código de ética do próprio jornalismo burguês do qual faz parte ao acusar, sem prova alguma, os militantes do PCO de serem vândalos, ladrões, agressores e vagabundos. Reorganizou seu folhetim para orquestrar uma campanha de perseguição e calúnias contra o PCO, disfarçada de jornalismo. Mas qual é a real desonestidade de Rovai? Sua mais profunda desonestidade é não dizer a seu público o verdadeiro motivo de estar fazendo essa campanha. E o motivo é que o PCO é um obstáculo à política de uma parcela direitista da esquerda (PSOL, PCdoB, etc.) que pretende prostituir o movimento operário para a direita e a burguesia. Rovai não assume, embora seja evidente, que se prostituiu para a direita e que, além de prostituta, está trabalhando como cafetão da direita. Como ele e seus chefes (particularmente o PSOL) são incapazes de combater o PCO através do jornalismo de opinião, ou seja, por meio de argumentos, então ele tenta nos combater por meio do jornalismo factual que, como explicado, é um jornalismo desonesto, porque encobre os verdadeiros interesses daqueles que o praticam. Rovai não pode dizer: “o PCO nos impede de prostituir os trabalhadores e entregá-los para a burguesia.” Isso seria uma posição honesta, mas como o público não assumiria o partido de Rovai, então ele opta pela desonestidade. Não assume publicamente o seu partido. Todo o jornalismo burguês é assim, seja o de direita ou o de esquerda. Dizem-se plurais para esconder o seu partido. No final das contas, seu partido é o partido da burguesia. Mas sabemos que a burguesia não tem exatamente um partido, nem uma ideologia. A burguesia é uma classe que vive em função do lucro, da acumulação de capital. Em português claro: do dinheiro.

O jornalismo burguês, portanto, é, como todo empreendimento capitalista, fundamentado no dinheiro, na garantia da manutenção da dominação e no atendimento dos interesses dos capitalistas.

Os jornais burgueses, se fossem honestos, diriam que são defensores da burguesia, da direita, dos capitalistas, do imperialismo, da exploração dos trabalhadores, da morte, da fome e da miséria. Diriam isso oficialmente, em seus documentos públicos e em suas edições diárias.

Fossem eles honestos, fariam igual fazem os jornais revolucionários.

O verdadeiro jornalismo baseado na realidade

Os jornais revolucionários, da classe operária, desde que o movimento comunista foi fundado, são os mais honestos e transparentes. Nunca esconderam seu partido, jamais ocultaram os interesses que defendem: os interesses da classe operária, da revolução socialista, da abolição da propriedade privada, da expropriação da burguesia.

O jornalismo revolucionário assume um lado de maneira cristalina. Em uma sociedade dividida em classes não há como ser neutro. A realidade impele os membros da sociedade, em todas as esferas da vida, da ciência à imprensa, a estarem do lado de alguma classe. O jornalismo revolucionário não tem nada a perder, assim como a classe operária não tem nada a perder. Por isso é taxativo: é parcial, sim! E, deixando claro qual é o seu partido, o partido da causa operária, torna públicas as suas posições, oficialmente, diariamente em sua imprensa. Não se esconde por trás do mito da imparcialidade para enganar ninguém: assume um estilo opinativo que é fundamentado na ciência materialista, baseado nos argumentos, na batalha de ideias, no convencimento. Não precisa realizar campanhas de calúnias, de mentiras, de falsidades.

Para defender seu estilo jornalístico hipócrita, a imprensa burguesa dirá: “contra os fatos, não há argumentos!”. Mas enquanto o jornalismo burguês, sob o manto da factualidade, manipula os fatos para atender aos interesses de sua classe, o jornalismo revolucionário explica, esclarece os fatos por meio dos argumentos e do convencimento para que os fatos sejam realmente compreendidos pelo público ─ que é formado, quase que integralmente, pelas classes populares, às quais o jornalismo revolucionário serve. 

O jornalismo revolucionário, por estar, esse sim, a serviço do povo (ou seja, dos oprimidos, das massas populares, dos trabalhadores), por não ter rabo preso com ninguém, por não estar comprometido com ninguém além dos oprimidos, é um jornalismo verdadeiro, um jornalismo sincero, um jornalismo honesto. É um jornalismo que luta pelo mais nobre dos ideais, o ideal da emancipação do gênero humano, pela destruição dos grilhões que acorrentam a humanidade. E que não tem vergonha, ao contrário do jornalismo burguês, de assumir publicamente e de enfatizar diariamente suas posições. Porque não há que se envergonhar de estar do lado certo da História.

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