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Victor Assis

Editor e colunista do Diário Causa Operária. Membro da Direção Nacional do PCO. Integra o Coletivo de Negros João Cândido e a coordenação dos comitês de luta no estado de Pernambuco.

Estelionato

“Frente ampla” em Pernambuco, um duro golpe durante a pandemia

Burguesia procura organizar uma operação para limpar o passado criminoso da direita pernambucana

Na cidade de São Paulo, centro político do País, a chamada “frente ampla” vem sendo operada a todo o vapor pela burguesia. Guilherme Boulos (PSOL), um dos representantes da operação, tem se destacado como um verdadeiro sabotador da mobilização popular. Essas iniciativas, no entanto, já se espalharam por todo o Brasil e, como não poderia deixar de ser, se infiltraram com todas as forças na política pernambucana.

Duas das principais cidades do estado já começaram a apresentar sinais claros da “frente ampla”. Em Olinda, o Diretório Municipal do PT publicou a seguinte resolução política:

Diante da inércia da gestão municipal para combater o COVID-19, onde não foram apresentadas propostas efetivas para controlar os casos na cidade, tampouco amenizar as crises econômica e social causadas pela pandemia, mostrando-se cada vez mais iminente à ideologia fascista adotada por Bolsonaro e o Governo Federal, que pregam apenas a segregação e o preconceito, esquecendo-se de atender as primícias da população. O Diretório Municipal do PT de Olinda resolve, por unanimidade, afirmar:

‘Oposição à atual gestão do prefeito Lupércio, com o compromisso de reorganizar uma frente com as esquerdas, que possa restabelecer um governo democrático e popular em Olinda’.

A capitulação expressa na nota acima pode não aparecer de maneira tão explícita para o leitor pouco habituado à política local. Contudo, as intenções por trás da nota ficam ainda mais claras quando consideramos a decisão tomada em reunião do Diretório Municipal do PT de Recife:

Recorrer ao Diretório Nacional do PT, solicitando que reconsidere sua posição de lançamento de candidatura própria no Recife e adote a posição de ampla maioria dos delegados e delegadas presentes ao encontro municipal.

Não vamos adentrar aqui em um debate teórico sobre os pretextos alegados em defesa da “frente ampla”. Para encurtar nosso trabalho, deixo aqui uma sugestão de artigo sobre o tema. Meu intento, com o texto de hoje, é denunciar as consequências de tal política em Pernambuco. Faço, antes disso, a importante ressalva de que as posições encontradas nas resoluções não representam o PT de conjunto, mas sim as alas mais direitistas do partido, que controlam os diretórios municipais. Alguns importantes quadros do PT, como Fernando Ferro (Recife) e Tereza Leitão (Olinda) assinaram uma nota contrária à resolução contra a candidatura própria. A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, também se colocou contra a decisão do Diretório Municipal.

Comecemos por Olinda. Em um primeiro momento, as conclusões apresentadas na nota seriam bastante óbvias: oposição ao prefeito bolsonarista Professor Lupércio (SD) e união às demais organizações políticas de esquerda contra a ofensiva da burguesia. No entanto, é preciso perguntar: em que termos se dará essa oposição e em que termos se dará essa união?

A oposição, pelo que se vê, seria puramente parlamentar, desprovida de qualquer ação real nas ruas. Até o momento, o Diretório Municipal não está convocando, nem mesmo participando dos atos de rua, nem propondo nenhuma mobilização real contra a direita. Nesse sentido, podemos concluir que a única “oposição” possível seria uma oposição que visasse às eleições, e não uma oposição que tivesse como fim, de fato, salvar o povo do genocídio em marcha.

O problema da oposição parlamentar, no entanto, não apresenta grandes novidades, uma vez que essa tem sido a política geral da esquerda nacional. O que mais chama a atenção é essa “frente com as esquerdas”. Em Olinda, o PCdoB, relativamente influente na política local, tem sempre lançado candidatos à prefeitura da cidade e tentado pressionar para que o PT apoie suas candidaturas. Essas candidaturas são tipicamente frente-populistas, candidaturas de colaboração com a direita. É preciso sinalizar, inclusive, que o PCdoB conta com membros na própria gestão do Professor Lupércio. Ao que tudo indica, o aceno do Diretório do PT a uma “frente com as esquerdas” significaria uma capitulação aos interesses do PCdoB.

Em Recife, o caso já é amplamente conhecido: Marília Arraes, que foi eleita pela base do PT a pré-candidata para as próximas eleições municipais, acabou de ser, novamente, derrubada pelos dirigentes do próprio partido, sobretudo os ligados ao senador Humberto Costa. O grande beneficiário, obviamente, será o PSB, que pretende lançar João Campos, filho de Eduardo Campos, como candidato a prefeito.

Assim como no caso de Boulos, essa política está levando a uma esvaziamento das ruas. Por causa do apoio de setores da esquerda ao governo Paulo Câmara (PSB) e o apoio ao pré-candidato João Campos, a ala direita da esquerda pernambucana está se colocando contrária aos atos pelo Fora Bolsonaro. Em reunião da Frente Brasil Popular, surgiu até a tese de que Pernambuco seria diferente de São Paulo, por ser governado por Paulo Câmara, e que por isso não deveria ter atos de rua. Isto é, que o povo paulista teria “motivos” para sair às ruas, mas o povo pernambucano, bem tratado pelo PSB, não teria razão para protestar. Não há dúvidas de que essa tese é o reflexo da pressão que as alas mais direitistas têm feito sobre a esquerda, em uma clara tentativa de salvaguardar seus acordos com o PSB.

O PSB, maior beneficiário da “frente ampla”, não é apenas um partido mais direitista que o PT. O PSB, incluindo o próprio Paulo Câmara, apoiou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. É, portanto, um inimigo do povo pernambucano e um dos responsáveis pela ascensão da extrema-direita. Ao mesmo tempo, apesar de controlar toda a máquina pública do Estado, o PSB até hoje não contribuiu em absolutamente nada para qualquer mobilização. Muito pelo contrário: a Polícia Militar já reprimiu várias manifestações, como no caso da greve dos técnicos em enfermagem no início de 2020.

A “frente ampla” com o PSB não poderá trazer qualquer benefício para a esquerda, muito menos para a luta contra o governo Bolsonaro. Essa aliança, inclusive, empurra o regime político cada vez mais para a direita. No único ato em que participaram os partidos de esquerda que estão forjando a “frente popular”, quem conduziu a manifestação foi a Polícia Militar. Todos cumpriram as ordens de não usar vermelho, de não levantar bandeiras de partidos e de não usar carro de som. Ao mesmo tempo que esses partidos vão tirando suas bandeiras das ruas, partidos direitistas vão ingressando na tal “frente ampla”. No dia de ontem (29), o Partido Verde (PV) declarou apoio à candidatura de João Campos.

Formalmente, os partidos de esquerda que estão defendendo a “frente ampla” em Pernambuco são o PCdoB e a ala direita do PT. No entanto, é preciso deixar claro que a chamada “Frente Povo sem Medo”, composta pelo PSOL e pelo PCB, está tão ou ainda mais imersa na operação. Na medida em que essas organizações aderiram claramente à campanha de sabotar os atos de rua e de seguir às ordens da Polícia Militar, estão fazendo a defesa da “frente ampla”. A confusão que esses partidos fazem é, inclusive, muito pior: por não defender abertamente seus interesses — a colaboração com a direita —, os motivos que levam a esses métodos reacionários de colaboração com a Polícia Militar ficam escondidos.

Se a esquerda vai assistindo o potencial explosivo de mobilização da classe operária sendo enterrado pela “frente ampla”, a direita só tem a comemorar com a aliança. Afinal, todos os inimigos do povo, que estavam beirando a falência política, estão sendo ressuscitados como grandes “heróis” do povo pernambucano. É o caso do próprio Paulo Câmara, golpista, que liberou seus secretários para votarem a favor do impeachment de Dilma Rousseff, do senador fascista Jarbas Vasconcelos (MDB), da Polícia Militar, odiada pela população e do igualmente golpista Partido Verde.

Nenhum militante sério pode ficar a reboque da política direitista e capituladora da “frente ampla”. É preciso romper com qualquer tentativa de acordo com a burguesia e mobilizar o povo para derrubar, nas ruas, o governo Bolsonaro e todos os golpistas. Não à “frente ampla”! Fora Bolsonaro e todos os golpistas!

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