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"Frente ampla"

“Direitos já” foi uma tentativa de “limpar a ficha” dos golpistas

Muito ao contrário do que defende o portal "Vermelho", o evento dos "Direitos já" foi mais uma tentativa da burguesia de cooptar a esquerda para a próxima etapa do golpe

No dia 27 de junho, o portal Vermelho, editado pelos dirigentes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), apresentou uma interpretação bastante esdrúxula do evento intitulado “direitos já”, ocorrido na noite da última sexta-feira (26). Com efeito, não há como defender a “frente ampla”, mote do evento citado, sem lançar mão de um verdadeiro malabarismo de argumentos — afinal, a aliança entre as organizações do povo pobre e os golpistas é algo absolutamente bizarro.

Segundo o texto “Ato histórico impulsiona frente ampla e democrática contra Bolsonaro”, assinado por André Cintra e publicado no portal citado, o “Direitos já” teria sido “maior evento digital em favor dos valores democráticos na história do Brasil” e “também um ato em defesa do resgate da política como instrumento maior para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito”. Citando ainda o deputado Marcio Jerry (PCdoB-MA), Cintra ainda descreve o evento como “uma passarela na qual desfila a democracia”.

Nada poderia estar mais distante da realidade. Em primeiro lugar, precisamos fazer a ressalva de que considerar o evento como um “ato” já corresponde a uma enorme distorção. Conforme a tradição histórica da luta dos trabalhadores, um “ato” tem como característica principal a participação do povo. Em um “ato virtual” não existe povo; poderíamos, portanto, chamar o evento de debate, colóquio ou qualquer outro termo mais pertinente. Em segundo lugar, passaram pela “passarela democrática” alguns dos piores inimigos do povo brasileiro — e, portanto, da democracia. Estiveram no evento bandidos políticos como Fernando Henrique Cardoso, Luciano Huck, Marina Silva e outros setores da direita, em geral ligados ao PSDB. Dois inimigos históricos dos trabalhadores, os ex-presidentes Michel Temer e José Sarney, foram convidados com a anuência de toda a esquerda, mas declinaram o convite. Esse aspecto, inclusive, está diretamente relacionado ao fato de que o evento não contou com o povo: unir esses vigaristas em um palanque físico seria impossível, pois seriam vaiados do começo ao fim.

Ainda tratando sobre os elementos presentes no evento, precisamos discutir os critérios utilizados pelo autor do texto. Segundo André Cintra, teriam participado do ato “nomes sem qualquer vínculo com governos, mandatos ou partidos – como o jornalista Reinaldo Azevedo, a cineasta Petra Costa e a roteirista Carolina Kotscho – levantaram essa bandeira”. Ora, afirmar que um pilantra como Reinaldo Azevedo, um homem do PSDB, que atuou de maneira explícita a favor do golpe de 2016, não é vinculado a governo ou partido é uma ingenuidade ou muita má-fé.

Poderíamos colocar na conta de algum delírio do autor do artigo a defesa apaixonada de vigaristas como Fernando Henrique Cardoso e Reinaldo Azevedo. No entanto, essa não é uma posição individual: houve um setor da esquerda relativamente influente que participou do evento. Entre eles, podemos citar os governadores Flávio Dino (PCdoB) e Camilo Santana (PT-CE), os ex-presidenciáveis Fernando Haddad (PT) e Guilherme Boulos (PSOL) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Como anunciamos na introdução deste texto, o evento dos “Diretos já” é, em si, uma tentativa de formação da chamada “frente ampla” entre a esquerda e a direita.

Apesar do ingresso desses setores na “frente ampla”, é preciso destacar que a principal ala do maior partido de esquerda do Brasil, a ala lulista do Partido dos Trabalhadores (PT), não esteve no evento. O texto do portal Vermelho chega a dizer que “não faltou praticamente ninguém”, o que, além de uma mentira, é uma indireta, obviamente, contra o ex-presidente Lula. A ausência de Lula, no entanto, não pode ser entendida como um pequeno detalhe: o fato de o maior líder popular do País não ter aderido à “frente ampla” mostra que essa política está em um grande impasse no momento. Sem Lula, a tal frente não conseguirá influenciar a maioria do movimento operário e, portanto, tende ao fracasso.

A posição de Lula, precisamos sublinhar, é corretíssima. De um lado, uma frente com esses golpistas é intolerável porque eles fizeram, durante muito tempo, uma raivosa campanha contra o PT. Por outro, a disposição do povo, que está saindo às ruas para enfrentar os bolsonaristas, mostra que os trabalhadores não são favoráveis a uma conciliação com a direita.

O problema da campanha de tipo fascista contra o PT é, inclusive, o que leva aos verdadeiros motivos da “frente ampla”. FHC, Reinaldo Azevedo e tantos outros estiveram diretamente envolvidos em uma campanha extremamente impopular e que levou à ascensão da extrema-direita. A aproximação desses setores com a esquerda não passa de uma tentativa desses setores de “limparem a ficha”, de mostrarem que não têm nada a ver com o monstro que ajudaram a criar. é preciso que fique claro, no entanto, que, se o bolsonarismo é um monstro, não há dúvidas que quem o pariu foram os setores que derrubaram Dilma Rousseff e prenderam o ex-presidente Lula.

De maneira muito grosseira, Guilherme Boulos, um dos porta-vozes da “frente ampla”, afirmou que aqueles que se opõem à aliança com a direita seriam pessoas “rancorosas”. Obviamente, não se trata disso de maneira alguma. Quem aparenta fazer política com base nas emoções é o próprio Guilherme Boulos, que usa o “medo” do “fascismo” para justificar uma aliança com os inimigos do povo. Não fosse o “medo” ou qualquer outro tipo de impulso, nenhum dirigente político experiente estaria metendo os pés pelas mãos em um desastre político como esses.

A posição contra a frente ampla não deriva de qualquer ressentimento, mas sim de uma análise científica sobre a posição que os diferentes setores assumem dentro dos processos políticos. A direita não apoiou o golpe de 2016 “por engano”, mas sim por uma questão de classe. Os políticos burgueses representam uma classe cujo único objetivo, na atual etapa de crise, é arrancar a pele dos trabalhadores. Estamos na mesma etapa que em 2016 — na verdade, em um aprofundamento da crise daquela época.

É possível, evidentemente, fazer alianças com inimigos políticos, mas é preciso que haja uma eficiência neste tipo de aliança. A “frente ampla”, além de ser extremamente desmoralizante, não tem eficiência alguma. Isso porque, para uma aliança eficiente, é preciso haver objetivos em comum entre a esquerda e seus aliados. Como discutimos, não há interesse algum: enquanto o povo precisa se livrar do governo Bolsonaro por uma questão de sobrevivência, a direita segue defendendo a permanência do presidente ilegítimo no poder. O PSDB, principal partido da direita na “frente ampla”, já deixou claro que é contra o impeachment de Bolsonaro. Além do objetivo em comum, seria preciso que a direita contribuísse de alguma maneira para a esquerda na luta pelo Fora Bolsonaro. Mas  que se vê é exatamente o contrário: a direita é um fardo que está dispersando a mobilização e inviabilizando a derrubada do presidente ilegítimo, até mesmo pela via parlamentar.

O único pretexto que serve para ligar elementos tão diferentes, com interesses tão distintos, é o discurso em torno da “defesa da democracia”. Contudo, isso não passa de uma abstração, um fantasma que serve para encobrir a operação suja por trás da “frente ampla”. Enquanto a esquerda estava dançando na ciranda da “frente ampla” no evento dos “Direitos já”, a burguesia estava atacando duramente os direitos democráticos do povo através da lei das “fake news” e da privatização da água. Se “democracia” é privatizar a água e legalizar a censura, o povo não tem de que se beneficiar com tal “democracia”.

É preciso dizer claramente que esse tipo de aliança, se bem sucedida, só servirá para conduzir o movimento de luta contra o bolsonarismo a uma derrota total e completa. Diante disso, é necessário romper completamente com essa política. É preciso que os trabalhadores deixem de lado qualquer colaboração com seus inimigos de classe e se organizem para derrubar, por suas próprias mãos, o governo Bolsonaro.

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