A campanha do imperialismo contra a Rússia ganhou novo capítulo com o anúncio do governo russo referente ao registro da vacina desenvolvida contra o Covid-19. Por toda a parte, é perceptível o esforço da burguesia das nações avançadas em desacreditar o medicamento russo, ao mesmo tempo em que diversas pressões ocorrem no sentido de marginalizar ao máximo a descoberta russa, como parece ser o caso verificado no recuo do governo do Paraná. Uma dúvida que a situação causa é por que tais críticas não são feitas quando as “descobertas” vêm dos países imperialistas e de seus órgãos (como a OMS) mas a Rússia sempre sofre desse tipo de desconfiança?
Que fique claro, não é objetivo deste artigo fazer qualquer tipo de juízo sobre o valor medicinal da vacina. A questão fundamental é política. O que leva, por exemplo, o governo federal a prontamente descartar a vacina russa (que afinal, já está produzida), preterindo-a em favor de um medicamento que ainda se encontra em fase de testes, com possibilidade de produção para junho do ano que vem?
Em grande medida, a atitude do governo brasileiro ajuda a esclarecer a questão. Demonstrando uma indiferença criminosa quanto descontrole da pandemia no País e às mortes por ela provocadas, ninguém em sã consciência pode acreditar piamente que o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, está preocupado com qualquer coisa que não sejam os interesses dos grandes capitalistas das nações desenvolvidas. E não é de hoje que estes mesmos capitalistas apresentam acusações contra a Rússia das mais variadas espécies, sempre valendo-se, para isto, tanto da máquina de propaganda quanto das burocracias governamentais e de instituições como a ONU.
Não faz muito tempo, convém lembrar, que os russos foram acusados de “roubar” estudos sobre a vacina que vinha sendo desenvolvida nos países centrais do capitalismo. Estes episódios somam-se a outros tais como:
- A Copa do Mundo de 2018, quando – a exemplo do que fora visto no Brasil – um movimento do tipo “Não vai ter Copa” tentou minar a realização do evento no país, valendo-se de críticas à política de direitos humanos do governo Putin.
- Caso Skripal (2018): Ex-espião duplo da Rússia, Serguei Skripal estava preso no país, condenado por alta traição quando sua dupla atividade foi descoberta, refugiando-se na Inglaterra após uma troca de prisioneiros entre os dois países ocorrida em 2010. Há 3 meses da Copa do Mundo, Skripal e sua filha ganharam os noticiários por um suposto caso de ataque por envenenamento. Primeira-ministra britânica na época, Theresa May, acusou a Rússia pelo ocorrido, expulsando do país 23 diplomatas, o que foi questionado pelos russos. Apontando a falta de evidências, os russos questionaram também qual o antídoto usado para tratar o envenenamento, já que o agente nervoso identificado seria extremamente tóxico, o que levantou suspeitas sobre o fato dos médicos britânicos possuírem as substâncias necessárias para tratamento. O caso nunca foi esclarecido.
- Suspensão de atletas russos por “dopping”(2019): Em dezembro de 2019, um relatório “independente” atestou a existência de um suposto esquema de dopping envolvendo o serviço secreto russo, acusado de violar testes de urina pela ambição de “vencer a qualquer custo”, conforme as palavras de um dos denunciantes, o médico russo exilado nos EUA, Grigory Rodchenkov. Em decorrência do episódio, a Rússia foi banida de todas as competições esportivas internacionais até o ano de 2022, incluindo as Olimpíada de 2020, em Tóquio, a Olimpíada de Inverno de 2022, em Pequim, e a Copa do Mundo de 2022, no Catar.
- Recompensa por cabeça de soldados americanos no Afeganistão (2020): “A notícia dos pagamentos russos é apenas mais uma história de ‘fake news’, contada para me prejudicar a mim e ao Partido Republicano. A fonte secreta provavelmente nem existe, tal como a própria história”. Sob estes termos, e em postagem no Twitter, o presidente americano Donald Trump precisou defender-se diante de acusações de que o governo russo estaria oferecendo recompensas a mercenários por soldados americanos mortos no Afeganistão, que afinal, é um país invadido pelos EUA.