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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Brincando de fazer revolução

Os ditos “trotskistas” também se escondem debaixo da cama

Os que se passam por trotskistas adotam a política dos burocratas reformistas e stalinistas

Não nos causa nenhuma surpresa a traição das direções reformistas, conciliadoras e pelegas neste 1º de maio.

No entanto, foi curiosa a postura de alguns grupos ditos revolucionários que criticaram e denunciaram o 1º de maio das “centrais” com os patrões. Ao analisarmos a “alternativa” ao 1º de maio da CUT com FHC, observamos que essas denúncias não passam de pura demagogia. A política, no final das contas, é muito semelhante.

O PSTU, na fase final de sua decadência histórica, propôs uma espécie de “contra-live” ridícula. Mas os morenistas orgulharam-se da ideia “genial”. “Sim, um ato classista, de luta e internacionalista”. Que grande ato! Tremam, capitalistas, com a “live” combativa e revolucionária do PSTU!

O “fique em casa”, que se trata tão somente de um desdobramento natural do imobilismo e da integração da esquerda pequeno-burguesa ao regime político, é uma política adotada tanto pelos reformistas autodeclarados como pelos pseudorrevolucionários. Isso se deve a que ambos são controlados pela pequena burguesia de esquerda, classe essa cujo medo e a histeria dominam seu coração e que, por ter uma posição relativamente cômoda economicamente, expressa esse comodismo na ação (ou na inação) política.

O PSTU assimilou de uma maneira tão profunda a política pelega das organizações que diz combater, que considerou que o 1º de maio com os maiores inimigos dos trabalhadores apenas “sinaliza uma submissão à ordem do Capital que deseduca e desmoraliza a nossa classe”. Bom, então ainda podemos ter esperança nas direções da Força Sindical, UGT, NCST, quem sabe esse sinal que indica uma possibilidade de submissão não possa ser revertido? Quem sabe não conseguimos abrir os olhos do grande companheiro Paulinho da Força e mostrar que ele está correndo o risco de se submeter à burguesia?

Não sair de casa em um 1º de maio, não organizar um ato presencial de luta dos trabalhadores, é um crime quase tão gritante quanto convidar a direita. A diferença é que um tem patrões e o outro não, mas ambos anularam a presença da classe operária, justamente no dia exclusivo de agrupamento das massas trabalhadoras.

O também morenista MRT criticou o famigerado evento das “centrais” escondendo a participação de seu partido hospedeiro, o PSOL, nas figuras de Guilherme Boulos e de Juliano Medeiros. Quem leu a conclusão do artigo do Esquerda Diário, que dizia “Por um 1º de Maio que mostre a força da classe trabalhadora!”, deve ter acreditado que o MRT faria algo diferente da “live das centrais”. Eis que esse grupo ultrarrevolucionário realizou… uma “live”! E ainda mais capenga que a do PSTU, sendo na verdade a apresentação de um manifesto. Ainda bem que a força da classe trabalhadora não depende do combativo e radical MRT.

Outro agrupamento que hoje se hospeda no PSOL, a Esquerda Marxista, também fez sua “live” de 1º de Maio. Tal como o MRT, foi apenas um evento de praxe, absolutamente ordinário.

Não romperam, nem o MRT nem a Esquerda Marxista, com qualquer política de conciliação com a burguesia, ao contrário do que disseram. O PSOL, partido ao qual são intimamente fiéis, entrou de cabeça na chanchada das “centrais”, tendo parcela na organização do evento, com a Intersindical na figura do sindicalista Índio, mas também com Boulos e Juliano Medeiros. Trata-se de um partido cada vez mais integrado na colaboração de classes com a direita através da frente ampla, dos acordos de Boulos com a PM, a Folha de S.Paulo e os grandes capitalistas (haja vista a lista de financiadores na sua campanha para a prefeitura de São Paulo).

Os psolistas  – apesar da demagogia pseudorrevolucionária dos grupos ditos trotskistas – não apenas beijaram as mãos de FHC e de Ciro Gomes como também sabotaram as iniciativas que foram realmente combativas. Temos exemplos concretos de chantagem para impedir pessoas que iriam nas manifestações de rua, como a que ocorreu na Praça da Sé (foto).

A corrente O Trabalho, do PT, também criticou a “live” frente-amplista. Segundo os lambertistas, no entanto, o problema real seria a participação da direita, não um evento feito do sofá, sem os trabalhadores. Tudo bem trair a mobilização das massas com uma “live” contanto que não tenha convidados estranhos.

O máximo que fez O Trabalho foi endossar algumas carreatas e pequenos protestos. Ora, carreata não é manifestação. Os trabalhadores, ainda mais nesta crise que os assombra, sequer têm automóvel! É uma manobra das direções burocráticas para fingir alguma combatividade dizer “não faremos evento online, faremos uma carreata”. A bunda do burocrata continua sentada confortavelmente. Já os atos zonais, embora sejam um avanço com relação às “lives” e carreatas, são atos pequenos e são feitos para serem pequenos. Uma organização que se diz revolucionária deve buscar a mobilização de amplas massas e no Dia dos Trabalhadores, quando existe essa mobilização centralizada, O Trabalho a boicota. Boicota um ato do qual participou uma parcela importante de militantes e trabalhadores da base do próprio partido ao qual pertence O Trabalho. Um ato no qual uma das principais reivindicações era Lula presidente.

O Primeiro de Maio mostrou a falência, não apenas das direções reformistas da esquerda, mas também das próprias organizações que reivindicam o trotskismo. Adotaram, com uma ou outra nuance irrelevante, a mesma postura das centrais pelegas de abandono completo da classe trabalhadora, que já perdeu 400 mil de seus membros pelo coronavírus, que vê 120 milhões com risco de padecerem pela fome.

Os trotskistas são a vanguarda operária. É uma vergonha tremenda se esconderem debaixo de suas camas quentinhas, esses que se dizem trotskistas, quando os trabalhadores estão amontoados no transporte público e são despejados de suas casas de madeira. Trótski atacou a esquerda alemã por abaixar as calças para Hitler e, quando o nazismo tomou o poder, propôs que os trabalhadores pegassem em armas. Quase 90 anos depois, os que reivindicam seu legado se escondem debaixo da cama e chamam os trabalhadores a ficarem em casa diante de um sistema que torna simplesmente impossível que a classe operária fique em casa e a obriga a ir trabalhar. 

Nada no mundo pode suspender o trabalho político. É a política que manda no mundo. A sociedade se mantém pela luta política entre os setores sociais, isto é, pela luta de classes. Enquanto uma classe estiver amarrada, a outra classe ganha vantagem. E a esquerda, mesmo sua vanguarda ideológica, é quem está amarrando a classe operária. Amarrando os trabalhadores para que não se mobilizem contra aqueles que os chicoteiam.

Enquanto a esquerda, seja ela reformista ou dita revolucionária, borra-se de medo de mobilizar os trabalhadores, aqueles que são os maiores inimigos dos trabalhadores se organizam. Os bolsonaristas, em que pese o financiamento empresarial, ocuparam o lugar da esquerda nas ruas neste Dia dos Trabalhadores. Foram os fascistas que estiveram nas ruas, para propagandear a supressão da democracia operária. Não fosse o ato da Praça da Sé, que reuniu milhares de pessoas graças à iniciativa do PCO, este teria sido o 1º de maio mais vergonhoso de toda a história. O ato da Sé honrou o Dia Internacional de Luta da Classe Operária. Todas as inúmeras “lives” o envergonharam.

Mas a tendência dos trabalhadores é a mobilização concreta, real. A tendência dos trabalhadores é o ato da Praça da Sé, não o bate-papo no sofá com os patrões ou com meia dúzia de pequeno-burgueses. A tendência é se rebelar com ódio contra todas as mazelas e injustiças que estão sofrendo, contra a fome, a miséria, o desemprego.

O papel dos trotskistas é estar à frente e organizar esse movimento, não ficar em seu apartamento confortável, enquanto aqueles pelos quais lutamos estão morrendo aos montes.

O lugar da vanguarda é no meio dos trabalhadores, e para isso é preciso sair debaixo da cama.

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