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O que vem misturado com um Cafezinho?

No último dia 31 o jornalista Miguel do Rosário publicou um artigo em seu blog, O Cafezinho, no qual ele propõe alguns dos maiores absurdos já ditos pela esquerda a nível mundial em toda a história. E que, ao contrário do que alguém pode pensar, de autenticidade não tem nada.

No texto intitulado “Considerações críticas sobre as manifestações da esquerda”, o articulista volta a defender que os grandes atos dos dias 15 e 30 foram, essencialmente, “em prol da educação”, escondendo seu caráter político abertamente contra o governo Bolsonaro.

Não vamos nos estender nesse ponto, pois este diário já demonstrou em inúmeras matérias que os atos têm sido, com uma tendência cada vez maior, confrontos diretos pela derrubada de Bolsonaro. Porém, essa posição de Rosário está longe de ser a maior bizarrice exposta por ele no artigo.

“Não sou contra manifestações de rua. Muito pelo contrário!”. Quando alguém começa uma frase assim, é porque sabe que está contradizendo seu próprio argumento, mas quer dar uma enganada nos mais incautos para justificar suas posições. E posições nada mais nada menos do que reacionárias. Ele realiza um longo (mas medíocre) malabarismo retórico para tentar explicar por que as manifestações populares não devem ser realizadas nos centros das cidades, mas nas periferias. E mais: não deveriam ocorrer em dias da semana, mas aos finais de semana (!).

Primeiro, o blogueiro diz que os trabalhadores demoram muito tempo para conseguir chegar ao local do ato, pois vivem em zonas muito afastadas do centro. Vamos abordar esse aspecto mais abaixo, mas é preciso refutar o argumento de que os protestos no centro favorecem a direita, que consegue “encher uma manifestação” coxinha porque seus participantes moram perto de onde será o ato. O dia 26 demonstrou que a direita não consegue encher absolutamente nada sem que a burguesia esteja unida e coesa para fabricar artificialmente uma manifestação.

Depois, provavelmente para o espanto de seus próprios leitores, ele afirma que “a antiga tradição sindical que hegemoniza a maioria das manifestações progressistas”, que faz com que os atos sejam na “hora do rush”, apenas atrapalha o trânsito e não deveriam existir atos nos dias úteis (!!).

É exatamente o que pensa a burguesia, a direita e os coxinhas. “Quem protesta em dia de semana é vagabundo que não gosta de trabalhar”, “esses protestos atrapalham o trânsito”, “estão prejudicando a economia do País” são algumas das reclamações típicas da coxinhada, incomodada com o povo que expressa sua indignação nas ruas, para todos verem. Isso, sem falar nos capitalistas, os maiores prejudicados com esse tipo de manifestação ou greve, uma vez que, se o seu empregado não está trabalhando, logo não está gerando mais-valia para encher seus bolsos. Não está gerando lucro para o patrão. Nosso blogueiro metido a guru, no entanto, acha que esse é um papo ultrapassado, pois a atual divisão do trabalho fez com que não haja mais fábricas nos centros e os trabalhadores possam trabalhar de casa. Ou seja, segundo ele, a produção não é prejudicada com essas manifestações. Como explicar, então, que, por exemplo, na greve geral de abril de 2017, quando 40 milhões de trabalhadores cruzaram os braços, a burguesia tenha calculado que o estrago tenha sido de R$ 5 bilhões para a economia nacional?

Outro recurso encontrado pelo jornalista é apontar que boa parte da população não gosta de manifestações. Ele se baseia em pesquisas da burguesia que mostravam, em junho de 2013, que houve uma “virada na opinião pública”, quando parte da população teria se voltado contra os atos. Mas basta lembrar da famosa enquete feita pelo apresentador José Luiz Datena no programa Brasil Urgente (tradicionalmente assistido por uma maioria conservadora), ao vivo, na qual a maior parte dos telespectadores votou a favor dos protestos.

Datena surpreendido em pesquisa! Passe Livre 13/06/13

Diante de todos esses “entraves” para alavancar o poder da esquerda, o que nos sugere o nobre interlocutor? Aí é que surge a suspeita sobre o que Miguel do Rosário estaria acrescentando em seu cafezinho.

“Não seria hora de pensar em organizar eventos na própria periferia, de preferência em finais de semana?”, tal é o questionamento “inocente” do comunicador. “É uma ideia a se pensar, não?”, completa. Então, ele propõe “algumas mudanças no formato e nas estratégias”.

Mas quais seriam essas mudanças? “Workshops profissionalizantes, cadastros para participação em ações políticas objetivas e, sobretudo, debates abertos”, responde. Leia em voz alta, caro leitor: UORQUI-XOPIS PRO-FI-SSI-O-NA-LI-ZAN-TES. O Cafezinho quer transformar atos políticos de combate ao Estado em feiras de negócios, de empreendedorismo para jovens! Além disso, ele quer trocar carros de som por “pontos de debate”. Mas de “debates sérios, consequentes, sobre a questão do comércio ambulante, do uso do lixo, nutrição, economia doméstica, segurança pública e, sobretudo, emprego”. Mais uma vez: o que vem dentro do cafezinho?

A questão é que Miguel do Rosário faz todos esses malabarismos para acentuar a política que vem defendendo já desde 2018: a “luta” através das instituições, esvaziando o conteúdo político dos atos de massa (ou melhor, impedindo atos de massa), sem protestos grandes e unificados para parar as cidades (e o País, uma vez que são muito importantes atos nacionais em uma única cidade, como a capital Brasília), sem contestação direta e radical ao regime político. Sem a “hegemonia” da classe operária e de seus partidos. Sem uma pauta definida, mas sim várias pautas menores e parciais. Sem que o povo desça o morro para fazer barulho na orelha da burguesia.

Essa é a política, mal disfarçada, do abutre Ciro Gomes, do qual O Cafezinho virou correia de transmissão de ideias para confundir a esquerda. Trata-se de uma política direitista sob a máscara de uma esquerda “moderna”.

Porém, de moderno esse discurso não tem nada. Os socialistas utópicos do século XIX tentaram colocar a sua política própria para a classe operária, assim como antes deles muitos indivíduos que sequer participaram das lutas concretas das classes oprimidas também tentaram guiar esses movimentos. Mas os métodos de luta foram criados historicamente. O que Miguel do Rosário tenta impor é uma compilação de besteiras propagadas pela esquerda pequeno-burguesa historicamente, e que sempre foram ignoradas pela luta dos explorados.

Mas o que vem acompanhando o cafezinho? Não é pura alucinação do articulista. Ciro Gomes e sua garota propaganda, a deputada da Ambev Tabata Amaral, estão plenamente sintonizados com O Cafezinho. Sem luta nas ruas, respeito ao governo ilegítimo de Bolsonaro, eleições em 2022. Dentro em breve, Rosário estará sintonizado até mesmo com o PSDB, a Globo e o próprio Bolsonaro. Afinal, eles também detestam manifestações populares no centro da cidade em dias de semana. Atrapalham o trânsito.

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