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Censura nos estádios

Não se combate a homofobia atacando a liberdade de expressão

A esquerda dá munição para a direita calar os movimentos

Gerou muita repercussão matéria publicada neste Diário na última quarta-feira, dia 3, com uma polêmica sobre a proposta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que visa interromper os jogos e até mesmo descontar pontos dos times no Campeonato Brasileiro cuja torcida seja pega fazendo algum tipo de grito considerado homofóbico. (leia aqui: Homofobia nos estádios: mais um pretexto moral para destruir o futebol) Não iremos retomar neste artigo todos os argumentos levantados na matéria, é preciso apenas reforçar a ideia de que colocar para as instituições controladas pelos grandes capitalistas, como é o caso da CBF, o poder de controlar o que será dito ou não nos estádios não irá resolver o problema dos LGBTs. O objetivo deste artigo é debater sobre o problema da liberdade de expressão.

Alguns críticos da matéria do DCO afirmaram, de maneira desleal, que o PCO chamou “homofobia de liberdade de expressão”, como foi o caso de uma matéria na Revista Fórum. Uma confusão completa sobre o que é a liberdade de expressão. Tem-se a impressão que a sanha da esquerda pequeno-burguesa, influenciada pela política da direita, de procurar solução para todos os problemas sociais no aumento da repressão estatal, a está fazendo abandonar princípios básicos que sempre balizaram a política da esquerda e dos setores progressistas. Esse é o caso da defesa da liberdade de expressão.

O direito à liberdade de expressão, assim como o direito de greve e a liberdade de imprensa, deve ser irrestrito e sua defesa deve ser incondicional. E por que? Porque se a esquerda e os movimentos dos oprimidos, que em geral se encontram fora do controle dos órgãos estatais, derem a estas instituições o poder de decidir o que se pode ou não falar, quem irá sofrer com esses limites à liberdade serão os oprimidos. Esse é o bê-a-bá da política democrática, nem diremos socialista. Dito de outra maneira, se está aberta a possibilidade de limitar o direito à liberdade de expressão, então isso valerá para a esquerda e para a direita e quem irá prevalecer é claro será a direita que controla o Estado e as instituições.

Bolsonaro pode falar mil absurdos por dia, nada irá acontecer com ele. Uma massa de torcedores no estádio de futebol não podem falar nada, que todo o peso cairá contra eles.

Mas é ainda mais grave. Se a esquerda defende limitar a liberdade de expressão, pressupõe-se que a direita também poderá fazer o mesmo, como de fato faz. Então, se podemos considerar que um palavrão é ofensivo aos homossexuais e que portanto podemos calar quem faz isso, a direita também pode considerar ofensivo uma determinada consideração sobre a religião e calar quem está dizendo. Aí fica a grande questão que não é difícil de responder: quem sairá vitorioso nesse jogo de calar o outro? Claro que será a direita.

E isso de fato está acontecendo. Há inúmeros casos de exposições, peças de teatro, filmes etc censuradas porque “ofendem” alguém.

Ou seja, diferente do que a esquerda afirma, homofobia não tem absolutamente nada a ver com liberdade de expressão. A homofobia seria a agressão ao homossexual ou ainda uma medida restritiva a uma pessoa apenas pelo fato de ser homossexual ou ainda a proibição por exemplo da legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Tudo isso é um problema concreto contra o qual devemos lutar. Mas não passa por essa luta calar ninguém. Não se estrangula um direito como a liberdade de expressão sob nenhum pretexto, pois como explicamos acima, quem será calado vai ser a esquerda.

A luta pelos direitos dos LGBTs não passa pela censura de nenhum modo. Pelo contrário, essa luta passa pela defesa irrestrita da liberdade de expressão. Se garantimos esse direito, poderemos responder à altura a cada ataque da direita, se tentamos calar a direita estaremos dando munição para quem já tem muita munição para nos calar.

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