Desde o começo da pandemia do coronavírus, o capitalismo tem sofrido duros golpes no que diz respeito ao seu desenvolvimento. Ao redor de todo o mundo, gigantes empresariais declaram perdas financeiras enormes, chegando, quase sempre, à casa dos bilhões de dólares. Ao mesmo tempo, a classe operária fica cada vez mais pobre, sendo colocada em um papel de salvar os grandes capitalistas desta crise, e não o contrário.
Prova disso são as bazucas fiscais que os governos têm fornecido às grandes empresas. Não deve haver dúvida, este dinheiro é do povo. Todavia, é utilizado unicamente com o objetivo de perpetuar a pérfida existência de negócios que deveriam há muito ter falido. No fim, é corriqueira a menção do chamado “livre mercado” ao citarem as grandes maravilhas do capitalismo. Entretanto, no momento em que essas empresas dependem inteiramente de um salva-vidas fornecido pelo aparato estatal, não estão mais concorrendo, tampouco livremente.
No começo deste mês, vemos ainda mais um exemplo de como as regras simplesmente não se aplicam à burguesia. Nesta terça-feira (9), o ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, anunciou que o governo da França irá destinar €15 bilhões ao setor aeronáutico do país. Dentro desse montante, €7 bilhões serão designados à Air France e €1,5 bilhão será reservado para financiar pesquisas voltadas à sustentabilidade aérea. Segundo Le Maire:
Decretamos o estado de emergência para salvar nossa indústria aeronáutica e permitir que ela seja mais competitiva e mais livre da emissão de carbono, produzindo o avião verde do futuro.
É arguível que o setor de transporte aéreo tem sido um dos mais afetados pela crise do coronavírus. Isso se dá, principalmente, devido à baixíssima procura por parte da população que, no momento, está em vias de distanciamento social. Segundo o próprio CEO da IATA, Associação Internacional do Transporte Aéreo, para evitar mais perdas, os países devem evitar também a imposição da quarentena e que “Se a quarentena é introduzida, as economias estão efetivamente bloqueadas no que diz respeito ao setor de viagem”.
Logo, fica evidente que sua preocupação é puramente financeira. Está, claramente, disposto a sacrificar quantas vidas forem necessárias para que o setor de aviação mundial não se prejudique ainda mais. Prova disso é quantidade de trabalhadores que serão demitidos de companhias aéreas nos próximos meses: a British Airways já anunciou que cortará 12.000 empregos; a escandinava SAS, 5.000; a irlandesa Ryanair, 3.000 e a United Airlines, 3.450.
No momento, o que está em jogo é a vida de milhões de trabalhadores. Ao invés de fornecer auxílio às suas populações, as potências imperialistas preferem salvar o grande empresariado, procurando manter a sua aliança com esse setor. E isso não é de agora: devemos voltar à 2008, no meio da crise do setor imobiliário estadunidense que chacoalhou a economia de todo o mundo. A União Europeia escolheu, mais uma vez, fornecer bilhões de euros para salvar os negócios de meia dúzia de banqueiros o que, segundo alguns especialistas, agravou ainda mais a crise pela qual estão passando agora.
No final das contas, as empresas que não conseguirem se sustentar frente a uma crise financeira devem ser estatizadas. Não é e não pode ser papel do estado salvar este setor às custas dos trabalhadores. O ponto é que, enquanto a burguesia tiver controle de todo o aparato parlamentar, isso não vai mudar. É somente com a revolução e o estabelecimento de um governo operário que a classe operária saíra dessa posição. A burguesia está unicamente preocupada com a manutenção do capitalismo e o desenvolvimento cada vez mais doentio do imperialismo. Nesse sentido, somente os operários defenderão os seus próprios interesses e, finalmente, suas próprias vidas.