Em entrevista ao reacionário jornal O Estado de S. Paulo, o ministro do Exército, general Villas expressou claramente a posição golpista e de defesa da violação dos direitos constitucionais do ex-presidente Lula e de todo o povo brasileiro do comando das Forças Armadas.
Usando como pretexto o suposto atentado contra o deputado e capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL), o general – mais uma vez – fez ameaças em relação às eleições e, até mesmo, quanto aos possíveis resultados da mesma, assinalando que, se o novo governo não estiver de acordo com a vontade do Exército pode “ter sua legitimidade questionada”.
Para o general o suspeitíssimo atentado foi “a materialização das preocupações que a gente estava antevendo de todo esse acirramento dessas divergências, que saíram do nível político e já passaram para nível comportamental das pessoas”. Para o general não houve problemas no fato de dispararem contra o ônibus do ex-presidente da República; nada contra que os apoiadores de Bolsonaro espanquem um padre e mulheres; nenhum problema que uma vereadora da esquerda seja assassinada e que dezenas de pessoas sejam assassinadas nas comunidades pobres do Rio, por conta da intervenção militar…. mas, se há um suposto atentado contra o candidato militar que tem como vice o ex-segundo em comando do Exército, general Hamilton Mourão, aí a coisa muda de figura; e o general parte diretamente para ameaças.
Apesar de dizer que o Exército não tem partido, o general saiu em clara defesa de Bolsonaro, o candidato que distribuiu ameaças por todo País, como “metralhar” os petistas e a Comunidade da Rocinha e estuprar mulheres, inclusive, uma deputada; que atacou negros, homossexuais etc. Para o general, se Bolsonaro não for eleito, teria todo o direito de “dizer que prejudicaram a campanha dele”.
Mesmo dizendo Bolsonaro “não é candidato das Forças “, fez questão de destacar que “ele tem apelo no público militar, porque ele procura se identificar com as questões que são caras às Forças, além de ter senso de oportunidade aguçada”, mostrando que ele tomou claramente partido nas eleições e usa o cargo para fazer campanha, o que não é permitido legalmente nem a ele e nem a centenas de milhares de soldados.
Como parte de sua campanha bolsonarista, Villas Boas, elogiou as posições cínicas e reacionárias dos demais candidatos presidenciais que se solidarizaram com Bolsonaro diante do suposto atentado e criticou quem discorda delas – como é o caso do Partido da Causa Operária (PCO) que denunciou toda a armação em torno do ocorrido – como ele teria percebido nas mensagens de “intolerância nas redes sociais”.
O general não ficou apenas na pregação da harmonia com Bolsonaro. Ao ser interrogado sobre as tentativas legais e legítimas do PT de registrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, inclusive, com base em Resolução do Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas, o general que – entre outros episódios – atendeu às decisões da ONU quando se tratava de ocupar militarmente o Haiti ou apoiar o bombardeio do Iraque, sempre para defender os interesses dos EUA, disparou que se tratava de “uma tentativa de invasão da soberania nacional”, isso depois de ter apoiado a deposição sem qualquer crime da presidenta eleita por mais de 54,4 milhões de brasileiros e a posse de um presidente fantoche e do seu governo golpista que serve clara e cotidianamente aos interesses do grande capital internacional, destacadamente, do imperialismo norte-americano, contra a imensa maioria do povo brasileiro.
O mesmo ministro militar que, em abril, ameaçou com golpe militar caso o STF aprovasse o habeas corpus de Lula, desta feita bradou que “depende de nós permitir que ela [a candidatura] se confirme ou não. Isso é algo que nos preocupa, porque pode comprometer nossa estabilidade, as condições de governabilidade e de legitimidade do próximo governo”. E se metendo mais uma vez na decisão que deveria, supostamente, ser tomada pelos ministros do STF, sentenciou contra a candidatura apoiada por mais de 60 milhões de brasileiros (segundo as pesquisas eleitorais), afirmando que “o pior cenário é termos alguém sub judice, afrontando tanto a Constituição quanto a Lei da ficha limpa, tirando a legitimidade, dificultando a estabilidade e a governabilidade do futuro governo e dividindo ainda mais a sociedade brasileira”. Ou seja, para o militar, a Constituição (que estabelece os direitos políticos de Lula), vontade da imensa maioria da nação e até a opinião dos ministros não tem nenhum valor, porque ele, o chefe do Exército já decidiu que a candidatura de Lula seria “o pior cenário”.
Como nos tempos da ditadura, quando a vontade dos generais estava acima de tudo, Villas Boas, respondeu até mesmo em sua entrevista à pergunta – formulada sob medida – sobre “quando essa questão tem de ser decidida?”. Como se fosse presidente do STF, declarou que “seja decidida com oportunidade para que o processo eleitoral transcorra normalmente e naturalmente”, deixando evidente que até mesmo as eleições estão sob ameaça direta dos militares, podendo ser riscadas do mapa, se os militares considerarem que elas não estão dentro da “normalidade e naturalidade”.
O general ameaçou com o golpe militar, pelas urnas ou fora delas, todo o povo brasileiro.
Acertadamente, a direção do Partido dos Trabalhadores, chamou “as forças democráticas do país a repudiar declarações de cunho autoritário e inconstitucional do comandante do Exército divulgadas pela imprensa neste domingo”, classificando a entrevista como “o mais grave episódio de insubordinação de uma comandante das Forças Armadas ao papel que lhes foi delimitado, pela vontade soberana do povo, na Constituição democrática de 1988”.
É preciso ir além das palavras e da condenação. Villas Boas, o judiciário, imprensa golpista e os verdadeiros donos do golpe, estão deixando claro que não aceitam a candidatura de Lula porque ela é a principal arma do povo, neste momento, na luta contra o golpe de estado que eles buscam aprofundar com a eleição (ou oposição) de um novo governo golpista que deve adiante os ataques contra o povo brasileiro e a economia nacional, ditados pelo imperialismo.
Aceitar essa exigência desses violadores da Constituição e inimigos do povo é referendar o avanço do golpe que eles querem impor. Fica ainda mais claro que não se trata apenas de lutar pelos direitos de Lula. Está em jogo os direitos democráticos e a defesa das próprias condições de vida da maioria do povo brasileiro que não podem ser negociadas com os golpistas.
É preciso reafirmar a manutenção da candidatura Lula. e que eleição sem Lula é fraude, é golpe que, agora, aparece ainda mais claramente tutelado pelos militares.
Contra este golpismo explícito, é preciso convocar uma grande mobilização.
Dia 17, ocupar Brasília, parar o País, pela liberdade de Lula, pela aprovação de sua candidatura em cumprimento ao que determina a Constituição Federal.
Que seja o povo quem decida, não os militares e o judiciário golpistas.