Na última terça (26), o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), reuniu-se com o ministro golpista da Economia Paulo Guedes para apoiar a reforma da Previdência proposta há anos pelos golpistas. A reunião foi parte do chamado Forum de Governadores, realizado nos últimos dias no Palácio do Buriti, em Brasília. Fez as honras da casa o governador fascista Ibaneis Rocha (MDB), responsável pela militarização das escolas públicas.
O objetivo de Guedes era um só: ratificar que todo e qualquer apoio do Governo Federal aos Estados depende da aprovação da reforma da Previdência, cuja pauta é basicamente aumentar as alíquotas de contribuição, aumentar a idade mínima de aposentadoria de modo que trabalhadores braçais morram sem receber o benefício, estimular os planos privados de previdência que invariavelmente desaguam em falências fraudulentas e calote nos beneficiários. Os bancos, financiadores do golpe, são os grandes proprietários de planos de previdência privada. Além disso, com a reforma, o Estado garante o pagamento de juros a especuladores internacionais – rubrica hoje responsável por quase metade do orçamento federal. Daí a centralidade do tema para o Chicago boy Paulo Guedes, declaradamente a serviço do Imperialismo.
Todos os governadores apoiam a reforma da Previdência a portas fechadas. Sobretudo os que se dizem de esquerda – caso de Dino, Rui Costa (PT-BA), Wellington Dias (PT-PI), e Camilo Santana (PT-CE), afirmam à imprensa que são contra a reforma da Previdência devido ao óbvio: é uma medida impopular. Nos bastidores, porém, não apenas garantem apoio ao governo fascista de Jair Bolsonaro nessa empreitada, como também buscam suporte federal para implementar seus próprios ataques aos trabalhadores. O fazendeiro ultradireitista Ronaldo Caiado (DEM-GO), por exemplo, fez questão de ressaltar que a proposta vai autorizar os Estados a cobrarem uma alíquota extra dos servidores públicos estaduais.
O suposto “comunista” Flávio Dino, em sua conta do Twitter, buscou “perfumar” a esparrela, noticiando em tom faceiro:
Hoje estive em reunião com ministro Paulo Guedes, juntamente com os demais governadores. Apresentamos uma pauta que ajuda a Federação e gera crescimento econômico, com investimentos e manutenção de serviços públicos. Agora estamos na expectativa do que fará o Governo Federal.
Não é de se espantar.
Dino foi um dos artífices da candidatura avulsa de sua correligionária Manuela D’Ávila à Presidência da Republica já em 2017, como uma ponte para costurar uma aliança do PCdoB com o direitista Ciro Gomes (PDT), o qual hoje vocifera, no melhor estilo bolsonarista, que não apoiou o PT no segundo turno porque o Partido é composto por “marginais”. Em fevereiro desse ano, Dino já se lançou pré-candidato à Presidência da República nas eleições de 2022.
O objetivo é claro; constituir uma esquerda institucional que ajude a sedimentar o golpe de Estado imperialista em curso, dando um ar de naturalidade “democrática” ao legitimar de antemão um suposto processo eleitoral daqui a quatro anos. Um processo eleitoral ainda mais viciado, mais fraudado pelos golpistas que o de 2018 – onde a direita saiu vencedora por meio dos mais variados artifícios, incluindo a prisão ilegal de Luiz Inácio Lula da Silva. Para garantir seu cargo, seu projeto de poder burguês, Dino e toda uma ala institucional da própria esquerda estão dispostos a virar a página do golpe, assumi-lo como dado e servir de linha auxiliar da ditadura militar que se aprofunda por meio do governo Bolsonaro.
Ironicamente, a própria burguesia nacional – sobretudo do agronegócio e outros setores produtivos – vem entrando em choque frontal com o governo Bolsonaro, dificultando assim os planos de Dino. No mesmo dia em que Guedes se sentou à mesa com os governadores, fugira do debate sobre a reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, onde era sabatinado pelos parlamentares. À noite, a Casa aprovaria a PEC do orçamento impositivo, na mão contrária da proposta de Guedes de liberalizar completamente os gastos públicos. A luta entre setores da burguesia é clara: Guedes e Bolsonaro são de tal modo servis ao Imperialismo, que até mesmo os apoiadores locais do golpe serão atingidos pelo entreguismo de sua política.
A demagogia centrista, oportunista, de Dino e de outros governadores ditos de esquerda, pode chegar a um fim trágico. Ao ceder ao golpismo como vêm fazendo, tornam claro para a classe trabalhadora que acendem uma vela para cada santo, perdendo o capital político que têm junto à burguesia: a capacidade de conter a mobilização popular por meio de suas máquinas partidárias e sindicais. Acentuada a polarização política desses tempos de crise, enfim, é seguro que não é para a esquerda que tais figuras rumam. A classe trabalhadora segue dependendo unicamente de suas forças políticas reais que residem em sua capacidade de organização e de mobilização, e não em reuniões com golpistas.