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Direita do PT expressa tendência de adesão ao bolsonarismo

Com a ascensão de Jair Bolsonaro por meio de um processo eleitoral fraudulento, tornaram-se mais claras as posições políticas de diversas “lideranças de esquerda” e de grupos inteiros que antes vinham lutando contra o golpe apenas como demagogia eleitoral. Hoje é claro que, por compromisso com suas bases sociais fundamentalmente burguesas ou por mero oportunismo – visando a atender a interesses pessoais imediatos – tais personagens vinham jogando o jogo dos golpistas. Em que pesem suas vestes esquerdistas, operam na defesa de um regime de ataque brutal à classe trabalhadora.

Fora do PT, alguns agiram como se esperava. Ciro Gomes e toda uma ala do PDT, que haviam operado nas eleições para dividir os votos da esquerda, partiu para o ataque verbal às lideranças e organizações populares. Guilherme Boulos e o PSOL trabalharam arduamente na legitimação do governo golpista de Jair Bolsonaro por meio das eleições. O PCdoB, após tentar desembarcar da aliança com o PT por meio da candidatura avulsa de Manuela D’Ávila e pressionar pela adoção do “Plano B” da chapa sem Lula, aprofundou seus laços parlamentares com os golpistas mantendo o apoio intransigente a Rodrigo Maia (DEM) na Câmara.

Foi dentro do PT porém que tais contradições se tornaram mais visíveis. Aqueles que outrora haviam pugnado pela “autocrítica” de seu partido, pelo abandono de sua base popular e por “virar a página do golpe” hoje alinham-se resolutamente ao governo de Bolsonaro, apoiando-o em sua missão tipicamente fascista de “livrar o País do Socialismo”. Tal é o caso de correntes inteiras do Partido, como a Democracia Socialista (DS) de Tarso Genro ou de José Eduardo Cardozo o ministro que apoiou o treinamento de agentes públicos brasileiros nos Estados Unidos e fomentou a própria criação da Lava-Jato.

É o caso sobretudo daqueles que dependem dos cargos públicos obtidos junto aos golpistas, cujos exemplares mais visíveis certamente são governadores do PT reeleitos no Nordeste: Wellington Dias, no Piauí, Camilo Santana, no Ceará, Rui Costa, na Bahia. Todos subscreveram já em novembro um programa “bolsonarista” apresentado a Bolsonaro, que incluía medidas de ataque aos trabalhadores, como o fim da estabilidade no Serviço Público ou a reforma da Previdência.

A relação de Bolsonaro com a direita imperialista israelense foi parte do jogo de sua aproximação com a própria direita conservadora norte-americana. Além de uma famosa palestra racista na Hebraica do Rio em 2017, é sabido que a bandeira de Israel circulava juntamente à dos Estados Unidos em atos bolsonaristas e mesmo em sua posse em 1º de janeiro como um sinal de apoio ao imperialismo – evento prestigiado efusivamente pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Na esteira de tal ligação, o governador do Piauí, Wellington Dias, fez questão de reunir-se com o embaixador de Israel no Brasil, Yessi Shelley, agendando uma temporada de “férias” naquele país, na qual visa aprofundar ligações econômicas com o Estado criado pelo Imperialismo no Oriente Médio.

Rui Costa, governador da Bahia pelo PT, tem figurado entre os apoiadores mais empedernidos do bolsonarismo. Em seu discurso de posse, comprometeu-se com bandeiras programáticas direitistas como a “política de austeridade” anti-povo e a pauta da “segurança pública” que justifica a violenta repressão das forças de segurança. Chegou mesmo a afirmar que “no que depender de mim como cidadão, como governador para as coisas darem certo, eu vou ajudar” [o governo de Jair Bolsonaro]. Foi um compromisso pessoal e sincero: fosse mera demagogia, Costa teria delegado a declaração ao seu vice-governador, João Leão, cujo Partido Progressista comporá a base parlamentar do ex-capitão do Exército.

Como se sabe, o governador petista do Ceará, Camilo Santana, na verdade é um homem de Ciro Gomes, ligado às oligarquias locais do velho coronelismo. Após tentar repetidamente trazer uma intervenção militar ao seu Estado em 2017, o governador assumiu publicamente seu apoio à perseguição da esquerda nacional numa entrevista em que declarou apoio a Sérgio Moro, o ”Mussolini de Maringá” – responsável pela prisão de Lula e atual ministro da Justiça de Bolsonaro. Para Santana, “Moro é aliado contra o crime organizado no Ceará”.

O mote de apoio a Moro e à Lava-Jato – e consequentemente ao golpe e ao bolsonarismo, na verdade tivera sua expressão máxima ainda durante a campanha eleitoral presidencial, quando o próprio candidato do PT, Fernando Haddad, declarara que Moro, ”Mazzaropi” da Odebrecht, fizera “um bom trabalho” na operação. Não fosse a conhecida febre eleitoral que acomete a militância partidária em geral, tal descaramento teria sido motivo de proscrição imediata do candidato não apenas de seu Partido – principal alvo dos golpistas – mas do campo da esquerda como um todo. De fato, a capitulação de Haddad e sua traição a Lula se manifestaram não apenas em sua própria candidatura, como na “direitização” progressiva de sua campanha, assumindo as cores da propaganda adversária, a bandeira de um suposto apartidarismo, declarando-se contra a legalização do aborto, excluindo de seu programa a revogação dos atos golpistas de Michel Temer. À guisa de fecho de ouro, após sua própria derrota no processo eleitoral mais fraudado das últimas décadas, Haddad desejou “sucesso” a Bolsonaro em seu governo – mesmo sabendo que, por seu programa e por atender aos interesses imperialistas, o “sucesso” do militar significa o extermínio completo da esquerda no Brasil e uma política econômica brutal de opressão de nosso povo.

Todos esses falsos líderes populares foram unânimes na condenação da presença da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, em Caracas para a posse do presidente eleito Nicolás Maduro. O chavismo venezuelano é uma das pontas-de-lança da resistência latino-americana ao violento ataque imperialista que agora – com o apoio de Bolsonaro – pode até mesmo tornar-se uma sangrenta guerra. O apoio do PT ao regime de Maduro é um forte sinal de resistência em nosso continente. Porém, Haddad declarou não saber “o que levou Gleisi a Caracas”, posicionando-se resolutamente como representante da ala bolsonarista do PT, que visa a assumir o controle do Partido.

Para além da questão moral, tal cretinismo parlamentar é reflexo de profundos compromissos de tais lideranças com a burguesia: ao fim e ao cabo, tal relação fundamental, relacionada à luta de classes, é o que determina o comportamento de tais atores políticos – independentemente de sua legenda ou de seu discurso. É preciso tornar claras tais diferenças, de modo a livrar os movimentos verdadeiramente populares de sua pressão deletéria e capitulacionista. Para além de acordos de camarilha e trocas de prebendas, somente a mobilização popular será capaz de mudar de fato a relação de forças políticas em jogo e de barrar o fascismo, detendo o avanço do imperialismo sobre o Brasil. A base do PT precisa se livrar do jugo direitista de algumas de suas lideranças, exigindo nas ruas a deposição imediata de Bolsonaro e a liberdade para Lula.

 

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