A crise política na Itália se agrava a cada investida de Salvini. Embora seu discurso abertamente fascista tenha revelado o aprofundamento da política rumo ao descompasso entre os setores da burguesia italiana e o capital financeiro, Salvini tem encontrado resistência dos setores burgueses tradicionais.
Nesta quinta-feira (15), Giuseppe Conte, primeiro-ministro da Itália, fez duras críticas ao epígono de Mussolini, vice-premier e ministro do Interior, Matteo Salvini. Conte recriminou as atitudes de Salvini em relação ao navio Open Arms, de uma ONG espanhola, que está há 114 dias à deriva no Mar Mediterrâneo com 147 imigrantes.
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As críticas também foram reproduzidas pela ministra da Defesa, Elisabetta Trenta, que se recusou a assinar uma ordem que proíbe o navio de desembarcar em portos locais. Vale lembrar que Trenta é do partido 5 estrelas (M5S), o qual, até semana passada, fazia uma aliança com a Liga Norte, partido de Salvini.
“Tomei essa decisão motivada por sólidas razões legais, escutando minha consciência. Não devemos esquecer nunca que, atrás de todas as polêmicas dos últimos dias, existem crianças e jovens que sofreram violências e abusos de todo o tipo. A política não pode jamais perder a humanidade. Por isso, não assinei”, afirma Trenta.
Salvini tem se posicionado contra as atuações das ONGs na crise imigratória européia, chegando a emitir uma ordem que proibia a Open Arms de desembarcar na Itália. A ONG espanhola, todavia, recorreu da decisão na justiça e, ontem (14), um Tribunal do Lazio derrubou a ordem de Salvini, permitindo a entrada do navio em águas italianas.
Embora transpareça que o conflito se dê entre um setor humanista e outro abertamente fascista, é preciso destacar que, em primeira ordem, a burguesia não quer Salvini no governo. Trata-se, em todo caso, de um fascista que não representa os interesses do capital financeiro. Nesse sentido, a burguesia está articulando seus partidos tradicionais para tirar Salvini, utilizando diversos mecanismos de campanha contra ele, como ligação com os russos, projetos do governo travados para desestabilizar Salvini, e agora uma propaganda contra a decisão de não receber imigrantes. O conflito em curso, porém, não deve esconder a demagogia da burguesia para tirar Salvini, para que a burguesia consiga estabilizar minimamente o regime.