Segundo revelação do ex-comandante geral das Forças Armadas, o general da reserva Eduardo Villas Bôas, publicada em seu novo livro, a postagem que fez em 2018 ameaçando o Supremo Tribunal Federal (STF) e o País no Twitter foi conferida por antecipação por pelo menos 3 ministros do atual governo golpista de Bolsonaro.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, os demais oficiais intervieram para moderar o texto original de Villas Bôas, que era ainda mais agressivo e direto sobre a intervenção das forças armadas no regime político.
“Um alerta”, golpe branco
As informações presentes na reportagem possuem revelações dos militares que mostram como eles deram um golpe branco. Segundo relatado por ex-integrantes do governo golpista de Michel Temer (MDB) ao jornal, a publicação de Villas Bôas foi “atenuada por ação do então ministro da Defesa, general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje diretor-geral de Itaipu”.
Segundo a matéria, em 2 de abril de 2018, uma segunda-feira, o comandante Villas Bôas discutiu a ideia de chantagear o STF, que dois dias depois iria julgar um pedido de habeas corpus que poderia evitar a prisão do ex-presidente Lula, que havia sido condenado em segunda instância pelo TRF 4 (Tribunal Regional Federal da 4ª região, no Rio Grande do Sul) no caso do tríplex do Guarujá.
Alertado sobre a publicação de Villas Bôas no Twitter, Silva e Luna ficou assustado e contatou o general da reserva conhecido por ser moderado, Alberto Mendes Cardoso, que foi chefe da Casa Militar/Gabinete de Segurança Institucional do governo Fernando Henrique Cardoso, do PSDB (1995-2002).
Desta forma, Silva e Luna e Mendes Cardoso trabalharam no texto para retirar trechos que “sugerissem intenções de interferência institucional aberta contra o STF”. O resultado desta moderação foi a ameaça velada, que no livro do ex-comandante das Forças Armadas – “General Villas Bôas: Conversa com o comandante”, de Celso Castro – o próprio diz ter sido “um alerta”.
Estas revelações levaram à troca de farpas entre o ex-comandante das Forças Armadas e o ministro do STF Edson Facchin, que posteriormente também envolveu o ministro Gilmar Mendes. Chegou-se ao cúmulo do ministro Facchin ser ridicularizado por Villas Bôas, que respondeu sua crítica com: “3 anos depois” [em alusão ao fato do ministro estar fazendo a crítica anos depois do ocorrido, insinuando que esse atraso é um indício de cumplicidade do magistrado].
Mendes, que também apoiou o golpe de 2016 e a fraude de 2018, chegou a falar em “ditadura nunca mais”. No entanto, o tribunal sequer propôs indiciar os militares golpistas, que intervieram no cenário político, no governo eleito em 2014 e no resultado das eleições de 2018. Uma prova de que o principal órgão do poder Judiciário não só está, como é “acovardado”.
Se a Constituição fosse defendida pelo STF, que tem esta função como propósito de sua existência, o mandato de Bolsonaro deveria ser anulado, assim como todos os processos contra Lula, dado que esta intervenção dos militares comprova que as eleições de 2018 foram fraudadas muito antes da sua votação, quando o ex-presidente foi tirado do processo por decisões dos juízes supremos, que foram ameaçados pelo alto comando das Forças Armadas.
O fato é que a declaração de Villas Boas mostra que não há democracia no País, corrobora aquilo que este Diário afirmou desde o início: não há golpe de Estado sem aval ou intervenção direta dos militares. Ora, o próprio golpe de Estado 2016, que derrubou o governo através do impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) foi articulado pelos militares ao realizarem cálculos e sondagens sobre quantos parlamentares eram necessários para votar a favor da destituição da petista.
Em seguida, os militares apoiaram a transição do governo Temer, que como uma de suas primeiras medidas recriou o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e colocou o general Sérgio Etchegoyen para dirigi-lo, como o homem forte do seu governo, tendo o controle de todo o aparato de inteligência, como a ABIN (Agência Brasileira de Inteligência).
O governo Temer aumentou as operações militares, decretou a intervenção federal no Rio de Janeiro, uma espécie de ensaio geral para um possível golpe militar, que quase ocorreu durante a greve dos caminhoneiros, segundo o vice-presidente ilegítimo, o general Hamilton Mourão (PRTB).
Nem falar então no governo golpista de Bolsonaro, onde os militares aumentaram ainda mais o seu poder dentro do aparelho do Estado. Com ainda mais ministérios, milhares de cargos dentro do governo e de seus entes, como estatais, autarquias, fundações, etc, os profissionais da violência gozam hoje de um poder só comparável ao do período da ditadura militar de 1964.
Não é por acaso, na prática eles nunca perderam seu poder, mesmo após a “redemocratização”, o Brasil, apesar de governado por civis, manteve um regime tutelado pelos militares, que seguiram dando as cartas, influenciando o regime ou mesmo forçando posições através de ameaças, como se viu no caso de Villas Bôas em relação ao STF.
Logo, muito diferente do que setores da direita e da própria esquerda chegaram a afirmar, o general Villas Bôas não é nacionalista em nenhum sentido da palavra, pois ele, ainda mais do que os demais generais e comandantes, foi o elemento de proa no golpe de Estado de 2016 e na fraude eleitoral de 2018 que entregou o país de bandeja para ser devorado pelas aves de rapina imperialistas. Foi dele quem partiu todas as iniciativas mais reacionárias, como impulsionar o golpe contra Dilma e ameaçar o STF sistematicamente para manter Lula preso e com seus direitos políticos cassados. Ou seja, Villas Bôas é ainda mais fascista do que os outros oficiais e teve como prêmio um cargo logo que o governo golpista de Bolsonaro foi empossado.