A crise da capitalismo mundial não é algo recente, ela vem se agravando em maior ou menor intensidade a décadas. Com a pandemia do covid-19 esta crise se agravou ainda mais em 2020, promovendo um verdadeiro rebuliço na política em todo o mundo. Um dos efeitos imediato que demonstram o agravamento da crise foi o crescimento da extrema direita em várias nações do mundo, isso antes mesmo do coronavírus. Agora, estamos diante de um crescimento significativo dos partidos de apelo ecológico na Europa. Qual seria o significado dessa tendência?
Os Partidos Verdes europeus vem conquistando significativas vitórias em 2020, na França acabam de conquistar a prefeitura de importantes cidades como Marselha, Bordeaux, Lyon e Estrasburgo. Mesmo Paris, onde foi vitorioso o partido socialista, a ideologia verde exerceu forte influência no resultado uma vez que a prefeita Anne Hidalgo, foi reeleita com a promessa de reestruturar a cidade ao modelo de Amsterdã, o paraíso dos ciclistas do mundo. Diante do avanço verde, Macron respondeu com a promessa alocar de 15 bilhões de euros para medidas de combate às mudanças climáticas.
Na Irlanda, diante da derrota iminente para o partido de esquerda Sinn Fein, o partido Verde se une a seu principal rival e fecham um acordo para dividir meio a meio o mandato de primeiro ministro, desta forma, o Verde perde o cargo mas garante o retorno na metade final do mandato.
Na Alemanha o crescimento dos verdes é ainda mais pronunciada, nos últimos anos a legenda, juntamente com os social-democratas, representam as duas principais forças do país. O partido Verde já controla a maioria dos estados e se consolidou como um partido ativista, e também já é visto como uma força a compor o próximo governo alemão.
A onda verde que se espalha pela Europa se apoia naturalmente na preocupação com o meio ambiente, este mês de maio foi o mês mais quente já registrado na Europa, além disso foram registradas temperaturas de até 38 graus Celsius no círculo palar Ártico. O discurso verde não surpreende, condena a emissão de carbono na atmosfera, fomenta o uso de energias limpa como o caso das bicicletas francesas e conta com a simpatia da mídia e portanto da classe média.
Apesar do agravamento de alguns indicadores ambientais, não lhes podemos atribuir o vertiginoso crescimento dos verdes. É mais provável que a explicação esteja no risco que a burguesia enxerga no horizonte político. O crescimento da extrema direita e por consequência direta, a possibilidade do crescimento da extrema esquerda em resposta, criando uma polarização política que coloca a classe trabalhadora em um dos extremos é algo real, estamos testemunhando este fenômeno nos EUA, no Brasil, na Argentina e em vários outros países.
A reação da burguesia, uma classe social organizada, é agir na prevenção fomentando uma esquerda menos radical, controlável, com as cores da classe média. A burguesia pode até até consentir com “salvem as baleias”, “plante uma árvore”, “não às sacolas plásticas”, mas apenas para não ser surpreendida com reivindicações como “saúde pública universal”, “melhores salários” ou estas coisas comunistas de verdade.