A final do Mundial de clubes de futebol de 2020 ocorreu há poucos dias em Dubai. Enfrentaram-se a milionária equipe alemã Bayern de Munique (atual campeã europeia) e o Tigres, do México (campeão da América do Norte e Central). Foi o primeiro time mexicano a chegar a uma final de mundial, após ter eliminado o Palmeiras nas semifinais. O resultado final, porém, não foi decidido na bola, mas no apito. Ou melhor, no VAR (Árbitro Assistente de Vídeo), já que o único gol da partida foi validado graças à ineficiência do aparato tecnológico.
Diferentemente do prognóstico geral, o time mexicano, comandado pelo treinador brasileiro Tuca Ferreti, ia fazendo uma boa partida contra o Bayern, tendo, inclusive, as primeiras boas oportunidades da partida. Uma delas com o atacante francês Gignac, um dos seus principais jogadores, desperdiçando uma chance clara dentro da área ao cabecear livre com pouca precisão.
Os alemães não conseguiam ditar o ritmo do jogo, já que o meio campo do Tigres dominava as ações, ora cadenciando ora acelerando a partida, graças à boa atuação do brasileiro Rafael Carioca, volante que já teve destaque no futebol brasileiro em grandes clubes, como Grêmio, Vasco da Gama e Atlético-MG.
Gol do Bayern ocorre após passe de mão
Aos 13 minutos do segundo tempo, o Bayern de Munique abriu o placar com o gol de Pavard, após sobra de bola numa disputa aérea entre o goleiro Nahuel Guzmán e o atacante Roberto Lewandowski. Contudo, neste lance, o atacante polonês ganhou a disputa com o braço, o que, segundo a regra do jogo, é proibido. A regra é clara ao dizer que, em qualquer toque da bola no braço por parte do atacante, a falta deve ser marcada.
Todo gol é revisado pelo árbitro que comanda o VAR na cabine. Neste momento, o responsável pelo VAR e seu assistente checam o lance e chamam o árbitro de campo para a análise conjunta. Ou seja, são, pelo menos, três pessoas analisando a mesma jogada, com a mesma câmera e conversando entre si. Acontece que nenhum dos seis olhos enxergou o atacante do time alemão ajeitando a bola para o companheiro com a mão, que, livre, marcou o tento! Ou se estava diante de três incompetentes no jogo de clubes mais importante do calendário mundial, ou há uma clara manipulação do resultado em favor da equipe mais rica, oriunda do centro do capitalismo europeu.
O tão badalado padrão europeu de futebol é falacioso quando posto em confronto contra times de outros continentes, principalmente os da América do Sul, mais especificamente o Brasil. Salvo um caso ou outro, as vitórias europeias têm sido por diferenças mínimas, e, em geral, contam com a benevolência de entidades que controlam o futebol, como a FIFA.
Para se ter uma clara noção do que realmente aconteceu, tome-se o exercício de inverter hipoteticamente os personagens. Imagine-se que algum jogador do time mexicano tocasse a bola com a mão para o companheiro dentro da área e isso resultasse em gol. O lance seria validado? Difícil. É importante destacar que o futebol é uma importante atividade industrial do capital mundial, movimentando bilhões de dólares anualmente. Obviamente, não fica de fora dos interesses do imperialismo econômico.
Considerando as duas equipes em questão, ambas têm como patrocínio da Adidas. Uma delas, porém, tem maior atenção, trabalho de divulgação em jogos eletrônicos, venda de camisas em todos os aeroportos e shoppings do mundo. Seria interessante que esse clube, vindo do central do imperialismo mundial, perdesse para um clube que ninguém nunca ouviu falar e de um país periférico? E mais, qual o interesse da FIFA em montar um torneio em Dubai para ver uma bela zebra? Quem é mais importante para a FIFA, Alemanha ou México? Ignorar os aspectos imperialistas no futebol é negligenciar as relações de domínio econômico inerentes ao capitalismo.
Diante disso tudo, o bilionário time do Bayern de Munique teve de suar a camisa para ganhar a partida no apito. Assim como foi no ano anterior na disputa entre Flamengo vs Liverpool. O que mostra como, mesmo tendo todo o dinheiro do mundo para varrer os maiores talentos de países como Brasil, Argentina, Uruguai etc – onde os verdadeiros craques nascem – o futebol europeu ainda não consegue dominar em talento. Pelo contrário, ao enfrentar as equipes latino-americanas, deixam mais nítido o quão fraco são as competições europeias, já que por lá deitam e rolam contra os times pequenos e médios.