Valério Arcary, ex-PSTU e agora no Psol, publicou no último dia 31, coluna no sítio A Terra é redonda uma coluna intitulada “As causas das derrotas recentes da esquerda”. Ali, como em outros artigos, o autor procura apresentar um debate entre diferentes análises sobre a situação política atual. Dentre elas, vamos nos ater ao que Arcary se dedica a explicar sobre a posição dos grupos que defendem o “fora Bolsonaro.
Para ele, o País não estaria em uma “situação pré-revolucionária em que se abre a oportunidade de derrubar o governo, convocando o Fora Bolsonaro.” Arcary insiste novamente que defender a derrubada do governo de extrema-direita seria um erro. Vejamos o argumento levantado.
Para Arcary, não estamos em uma situação pré-revolucionária e isso bastaria para afirmar que não é hora do “fora Bolsonaro”. De fato, a evolução da luta das massas no País não chegou ao ponto de uma etapa pré-revolucionária, mas a grande questão é: esse fato é o suficiente para descartar um chamado à derrubada do governo? Claro que não.
Se seguirmos a lógica de Arcary, seriam pouquíssimos os momentos em que seria correto chamar a queda do governo. Na realidade, só seria correto um chamado dessa natureza se as massas já estivessem prontas não apenas para derrubar um governo mas já estivessem evoluindo inclusive para a tomada do poder. Mas se fosse assim, um simples chamado à derrubada do governo já estaria ultrapassado pelas próprias massas.
Quando Collor foi derrubado por uma mobilização, por exemplo, não havia no País uma situação pré-revolucionária. O que havia era uma grande mobilização de massas que poderia ter se desenvolvido como uma situação pré-revolucionária. Ao derrubar Collor, as massas poderiam ter se desenvolvido para uma tomada do poder, mas não foi o que aconteceu. Na realidade, o que estava colocado após a queda de Collor seriam novas eleições com a vitória natural de Lula, o que não ocorreu por conta da política capituladora da esquerda, em primeiro lugar o próprio PT, que decidiu por apoiar o governo do vice de Collor, Itamar Franco.
Mas é preciso ter claro pelo próprio desenvolvimento da situação que as massas que derrubaram Collor estavam ainda distantes de evoluírem para uma situação pré-revolucionária, ainda que Lula tivesse sido alçado como presidente, essa etapa ainda seria posterior. A evolução das massas nesse sentido, então, foi interrompida muito antes que se pudesse ter chegado próxima a uma situação pré-revolucionária. Mais ainda, o que se viu a partir de Itamar foi um enorme refluxo do movimento operário que durou décadas.
Para o argumento de Arcary basta dizer, então, que o fora Collor foi chamado e concretizado sem que houvesse uma situação pré-revolucionária. Casos como esse se repetem na história.
Uma questão que fica é que os que chamaram “fora Temer” durante o governo do golpista do PMDB, dentre eles o Psol de Arcary, acreditavam que o Brasil estava numa situação pré-revolucionária? Obviamente que não.
Na realidade, mais uma vez Arcary se junta à maior parte da esquerda pequeno-burguesa na defesa do “fica Bolsonaro”. É um esforço para não lutar contra o golpe e contra o governo de extrema-direita.