Nesta última quarta-feira (28), Valério Arcary (PSOL) publicou artigo no Brasil 247 – “Por que Ciro Gomes não apoia Lula Livre?” – onde critica o abutre nordestino por defender exatamente as mesmas posições políticas que Arcary e do PSOL defenderam nos últimos períodos, a favor da Lava Jato, da prisão de Lula e contra o Fora Bolsonaro.
Para Arcary, é Ciro Gomes, e não o PSOL, quem não pode defender Lula Livre por ter apoiado a Lava Jato:
“Ciro Gomes decidiu apoiar a Lava Jato na campanha eleitoral. Por isso, não pode defender Lula Livre. Admite que houve excessos nas ações de Dallagnol e dos procuradores, mas apoia a Lava Jato. Do que decorre uma ambiguidade em relação à campanha Lula Livre. O PDT, em consequência, não se incorporou ao Comitê Lula Livre. Mas esta localização está ficando, a cada dia, mais insustentável.”
Talvez pela insustentabilidade desta “localização”, como diz Arcary, é que o PSOL agora, e somente agora, parece ter percebido que a “Lava Jato foi instrumento de uma guerra política”, onde o alvo “era toda a esquerda brasileira”, ainda que Lula seja “sua principal vítima”.
E após demonstrar que este erro foi o motivo de todas as derrotas da esquerda, Arcary encerra sua envergonhada confissão revelando, finalmente, o reposicionamento do seu partido, que agora se coloca “lado a lado do PT na campanha Lula Livre”.
Mas para não perder o disfarce, isto também é feito sob a máscara de um “conselho” a Ciro Gomes:
“Todas as correntes, partidos ou lideranças de oposição a Bolsonaro que imaginam que irão se beneficiar da sanha da extrema direita em destruir o PT, e silenciam diante da prisão de Lula vão se desmoralizar. Só terão autoridade política aqueles que tiverem agora a honestidade moral de defender Lula.”
O problema desta tortuosa confissão de culpa de Arcary, escondendo por trás de uma denúncia que a política agora criticada como sendo apenas de Ciro Gomes foi exatamente a mesma que setores do PSOL defenderam vigorosamente em todos os momentos do golpe, não se limita à clássica fraude de tentar colocar nas costas do outro os seus próprios erros.
O cinismo é típico das lideranças do PSOL, que certamente estão sofrendo bastante com a pressão aguda das suas bases, assim como todos os demais partidos da esquerda, para adotarem as campanhas naturais e óbvias do período, Fora Bolsonaro e Liberdade Para Lula.
O problema é que este cinismo já é em si mesmo um claro indicativo de que esta nova posição do PSOL não tem seriedade nenhuma.
Trata-se apenas da mais nova demagogia das lideranças daquele partido e que tudo indica não será efetivada em esforços concretos de luta, nas ruas, pelas palavras de ordem que agora dizem defender.
É óbvio que, com o governo golpista caindo cada vez mais em desgraça perante o povo, quem não defender a liberdade de Lula e o Fora Bolsonaro, daqui para frente não vai só se “desmoralizar”, como afirma Arcary, mas tende a ser varrido completamente para fora do mapa político do país nos próximos períodos.
O povo na rua não deixa mais dúvidas de que dirige a sua luta para a derrubada do governo.
A campanha pela Liberdade de Lula é questão central desta mesma luta e as poucas dúvidas que ainda pudessem existir quanto a isto viraram pó a partir da quase aniquilação da operação Lava Jato, promovida pelas denúncias do Intercept.
A falta de seriedade do PSOL em confessar seus erros pelo disfarce de uma denúncia a Ciro Gomes, demonstra que estamos frente apenas a mais retórica, com fortes traços de demagogia oportunista, que provavelmente se dirige mais às eleições de 2020 do que a um apoio efetivo ao PT e à campanha Lula Livre.
O que toda esta dissimulação do PSOL deve nos ensinar é que um partido de esquerda que não se limite a questões menores de cunho eleitoral, mas que realmente lute pelos interesses do povo, precisa ser a vanguarda consciente, o setor mais esclarecido do povo e desta mesma luta. Não pode estar reduzido a ser apenas uma média qualificada da opinião pública aparente. Agindo assim jogará a todos em uma constante situação de engano e confusão, que é justamente o que as lideranças do PSOL fazem com sua base e seus simpatizantes.
Para não ser constantemente desmoralizado é fundamental que o partido formule suas posições não sob os ventos oscilantes da opinião pública, tentando acertar aquilo que o seu eleitor quer ouvir, mas a partir de um programa, construído sobre a base de princípios e de contínua discussão interna, ampla, democrática e que depois tenha a seriedade de se concretizar em ação unificada.
E para que esta democracia interna do partido e unidade de ação externa de fato ocorra, é necessário estar em contato contínuo com a população, nas ruas, em contínua militância, percebendo diretamente o que de fato preocupa as pessoas de carne e osso, que naturalmente não são meras estatísticas de institutos de pesquisa, cujas tendências são habitualmente manipuladas pela imprensa burguesa.
O partido que não tenha um pé nas ruas e outro em seu programa e princípios, certamente viverá de oportunismo e será conhecido pela constante e desmoralizante hesitação. E nestas condições, é claro que não terá autoridade política para liderar e organizar a luta popular. Terá que se contentar em vestir-se de laranja no Congresso ou em mendigar votos à base de demagogia crônica.
Enfim, se o PSOL só agora vai divulgar opiniões favoráveis ou não ao Fora Bolsonaro à Liberdade Para Lula, até porque quem não fizer isto irá para o fundo do oceano, abraçado com a Lava Jato, hoje isto é questão de menor importância.
O que realmente vai fazer a diferença será a capacidade de organizar a luta, dar um rumo político concreto e efetivo para a enorme indignação popular, sem demagogias, mas com a seriedade que só as ruas, em contato contínuo com o povo, pode dar.