Até o fechamento dessa edição, nenhum dado oficial da apuração das urnas das eleições presidenciais uruguaias, que aconteceram ontem (27), havia sido divulgado. De acordo com as pesquisas de boca de urna, os comentários da imprensa local e as projeções dos institutos de pesquisa, nenhum postulante à presidência deverá alcançar 50% dos votos, que é a condição necessária para a vitória em primeiro turno. O segundo turno devera acontecer no dia 24 de novembro.
Os principais candidatos das eleições uruguaias são dois: Daniel Martínez, da Frente Ampla uruguaia, considerada uma coligação de “centro-esquerda”, e Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, considerado um dos expoentes da direita uruguaia. Martínez conta com o apoio do atual presidente uruguaio, Tabaré Vázquez. Já Lacalle Pou foi derrotado nas últimas eleições presidenciais, ocorridas em 2014, e é filho de Luis Alberto Lacalle Herrera, resposnável pela aplicação da política neoliberal no Uruguai no início da década de 1990.
O Uruguai vem sendo governado pela Frente Ampla por 15 anos, o que permitiu que a esquerda uruguaia tivesse alguma participação no regime político na última década e meia. No entanto, essa participação é bastante restrita: os governos da Frente Ampla foram marcados por algumas medidas profundamente direitistas, como diversas privatizações. Martínez é a continuação dessa política, uma tentativa de fazer a esquerda participar de um regime totalmente hostil aos trabalhadores, um regime que é substancialmente controlado pela burguesia.
Mesmo limitando muito a participação da esquerda, a burguesia uruguaia está dando vários sinais que indicam um interesse em expulsar completamente as organizações populares do regime político. O candidato Lacalle Pou, que é uma espécie de Mauricio Macri uruguaio, representante direto dos interesses do imperialismo e autodeclarado “liberal”, tem sido impulsionado pela burguesia uruguaia e apresenta condições de vencer as eleições em segundo turno.
Outro sinal de que a burguesia uruguaia pretende controlar a situação política de maneira ainda mais firme é a tentativa de aprovar um referendo para aumentar brutalmente a repressão no país. Caso fosse aprovado, o referendo permitiria a criação de uma guarda militar com 2 mil agentes, instituiria a prisão perpétua e acabaria com a progressão de pena. O referendo era tão impopular que nem mesmo o candidato da direita golpista, Lacalle Pou, quis defendê-lo publicamente.
Para aprovar o referendo, a direita precisaria atingir mais de 50% dos votos. Mesmo com todo o apoio da burguesia e uma propaganda baseada no terror, o referendo não deve ter a maioria: as projeções informam que a direita só deve alcançar cerca de 46% dos votos.
Independente do resultado final, que deverá ser divulgado ainda hoje (28), está claro que a direita uruguaia, assim como em toda a América Latina, está procurando criar condições para aumentar a repressão e impor um regime ainda mais duro de exploração dos trabalhadores e de toda a população. Por isso, é preciso organizar um amplo movimento que faça com que o povo uruguaio impeça, na marra, a ofensiva da direita.