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Frente ampla

União com os “democratas” é união com aqueles que criaram Bolsonaro

Diante das sucessivas ameaças da extrema-direita de fechar o regime político, Manuela d'Ávila, do PCdoB, procura apresentar a frente ampla como política para a esquerda.

Diante das declarações do fascista Paulo Guedes, ministro da Economia do governo Bolsonaro, de que o levante dos trabalhadores contra a direita poderia justificar um novo AI-5, Manuela D’Ávila, do PCdoB, saiu em defesa da frente ampla com a burguesia. A defesa da frente ampla por parte do PCdoB não é novidade alguma, uma vez que o partido vem fazendo intensa propaganda aberta em favor desse tipo de aliança. Cabe a este artigo, no entanto, apontar as consequências das frentes formadas pelo PCdoB no último período e explicar o que está por trás da chamada união dos democratas.

A frente ampla na prática

As declarações de Manuela D’Ávila propondo uma unidade contra as ameaças do governo Bolsonaro foram publicadas em sua página no Facebook, junto com uma foto em que aparecem políticos que participaram da campanha pelas Diretas Já no fim da ditadura militar de 1964-1985. A gaúcha começa assim seu texto:

A ameaça de Guedes de um novo AI 5, Bolsonaro deixando claro que quer autorização para atirar em passeatas, somado a todo o culto à ditadores e torturadores mostra que precisamos de unidade. O Brasil precisa de um novo palanque das diretas. Todos os democratas juntos, independente das divergências sobre outros assuntos.

Quando Manuela D’Ávila fala em unidade acima de qualquer divergência, trata-se, exatamente, da frente ampla que é defendida pelo PCdoB. Segundo essa concepção, quaisquer alianças seriam aceitáveis, desde que houvesse um pretexto abstrato para a união, como o interesse em resguardar a democracia. No fim das contas, tais alianças sempre se estabelecem como frentes em que a esquerda fica a reboque dos setores mais reacionários da burguesia.

O histórico de alianças do PCdoB, isto é, a frente ampla na realidade, mostra como que essas alianças são sempre desastrosas para a esquerda e o conjunto da população. No início desse ano, o PCdoB apoiou publicamente Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a Presidência da Câmara dos Deputados, alegando que Maia se comprometeu com uma gestão na presidência da Casa que garanta o respeito ao Regimento Interno, assegurando espaços à oposição e à minoria (Portal Vermelho, 30/01/2019). Pouco tempo depois, Maia iria se consagrar como uma peça fundamental para que a burguesia aprovasse o roubo da aposentadoria dos trabalhadores no parlamento.

O apoio a Rodrigo Maia não foi, nem de longe, o único aceno à direita que o PCdoB realizou no ano de 2019. Em agosto, todos os seus deputados votaram a favor da entrega da Base de Alcântara ao imperialismo norte-americano – na prática, um pedaço do território brasileiro, que cumpre um papel decisivo na segurança do país, passou a ser controlado diretamente pelos Estados Unidos. Mais recentemente, o governador Flávio Dino (PCdoB-MA) aprovou uma reforma da Previdência, castigando os trabalhadores de seu estado em favor da burguesia.

Ao mesmo tempo em que as alianças com a burguesia empurraram o PCdoB para uma política direitista, a frente ampla posta em prática não serviu para que a direita aderisse as pautas da esquerda em momento algum. Quando a direita pediu a liberdade de Lula, a derrubada do governo ou a anulação das reformas do governo Temer? Nunca.

Quem são os democratas?

O fato de que o PCdoB foi pressionado para se deslocar à esquerda e de que a direita seguiu atacando os trabalhadores é a prova da inviabilidade desse tipo de frente. Os democratas, que são evocados por Manuela D’Ávila em seu texto, não seguem nenhum princípio democrático. Afinal, a sociedade não é dividida entre aqueles que apoiam a ditadura e aqueles que apoiam a democracia, mas sim entre a burguesia e a classe operária. Tanto é que a mesma Folha de S. Paulo, que faz tanto alarde contra uma suposta ditadura na Venezuela, se cala contra a ditadura na Colômbia, que já assassinou centenas de lideranças da esquerda.

A direita é composta por aqueles que representam fielmente os interesses da burguesia e, portanto, não merecem a atenção dos trabalhadores. Os interesses da burguesia não podem ser alcançados por vias democráticas, o que faz com que todos os partidos e políticos da direita tenham de defender, em algum momento, uma política de guerra contra a população. A prova disso é que todo o chamado “centrão”, que supostamente seria uma ala mais moderada da direita, apoiou Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais de 2018. Partidos como o PSDB e o DEM não só apoiaram Bolsonaro no 2º turno em 2019 como criaram as condições para que o bolsonarismo se desenvolvesse – o fortalecimento brutal do aparato de repressão do Estado de São Paulo é uma demonstração.

Palanque das diretas

Foto do palanque das diretas, publicada por Manuela D’Ávila junto com seu texto.

No final de seu artigo, Manuela D’Ávila convida a esquerda para a formação de um palanque das diretas:

Deveríamos olhar para a experiência de lutas de nosso povo. A unidade das diretas é o melhor parâmetro e exemplo. Faço um chamado a todas as forças comprometidas com a democracia: vamos montar um novo palanque das diretas?

Para tentar sustentar uma aliança que não faz sentido algum, Manuela D’Ávila acaba por evocar a campanha pelas Diretas Já, que aconteceu na década de 1980. Na época, as direções da esquerda nacional se submeteram a uma frente com setores extremamente reacionários do regime político. Como mostra a foto publicada pela própria gaúcha, a campanha uniu desde lideranças do movimento operário, como Luiz Inácio Lula da Silva, a picaretas profissionais da burguesia, como Orestes Quércia (MDB), Ulysses Guimarães (MDB) e Franco Montoro (PSDB). Foi esse tipo de aliança, por exemplo, que permitiu que o PSDB tomasse o poder no Estado de São Paulo, que já está há duas décadas sob seu controle.

Diante da brutalidade e do terror da ditadura militar, seria razoável perguntar se esse tipo de aliança não teria sido necessária para o fim do regime. Não era esse o caso…

A ditadura militar foi toda desmantelada pela mobilização popular, sobretudo do movimento operário. A mobilização deixou o regime liquidado, de maneira que não conseguiria mais se sustentar. Prova disso é que, no meio dessa luta, os trabalhadores constituíram uma das maiores centrais sindicais do mundo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT).

A aparição de setores da direita na campanha pelas eleições diretas foi a única forma que a burguesia encontrou de sobreviver. Se a direita não tivesse se aproximado do movimento, os trabalhadores terminariam por pôr abaixo sozinhos o regime político e estabelecido um governo dos trabalhadores. No fim, a aliança com a direita foi toda canalizada para a eleição indireta de Tancredo Neves, mantendo assim a estrutura montada pelos militares. Hoje, o tal palanque serviria para o mesmo fim: ao invés de desenvolver um movimento pela destruição do regime político, seria canalizado para alguma mudança parcial.

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