Historicamente, os estudantes desempenham um papel de vanguarda nas mobilizações populares, em especial nos primeiros estágios das grandes agitações de massas. Em parte, pelo caráter progressista e contestador de grande parte da juventude na sociedade.
A depender das grandes organizações estudantis brasileiras, nossa vampiresca burguesia pode se organizar tranquilamente diante da crise atual, pois a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) aderiram totalmente à quarentena da esquerda nacional.
Não bastasse o cancelamento de importante ato contra o governo Bolsonaro que ocorreria no último dia 18, sucedido pelo fechamento da maioria dos sindicatos na semana seguinte, as duas grandes entidades com potencial para mobilizar amplamente a juventude para que a burguesia brasileira arque com os prejuízos econômicos diante desta crise resolveram deixar a iniciativa política com os governos de direita.
Sob o pretexto de serem responsáveis, evitando as aglomerações, ambas abandonaram o terreno natural da luta política, que são as ruas. Em seu lugar, entraram as redes sociais, as janelas de apartamentos e até enquetes do Senado Federal.
Em sua página no Facebook, na última quinta-feira (26), a UNE chama os estudantes a votar favoravelmente ao Projeto de Lei Complementar nº 183/2019, que visa instituir o Imposto sobre Grandes Fortunas, previsto na Constituição Federal.
A exemplo da tardia campanha parlamentar pelo impeachment de Bolsonaro, é outra iniciativa que depende totalmente do Congresso, dominado pelos partidos da direita tradicional, o chamado “centrão”.
Deixando de lado a falta de poder de fogo da medida diante da enorme crise, que está apenas em seu começo, esta esquerda vende a ilusão de que é possível transferir a luta política das ruas para a internet.
Não se trata de ignorar a importância das medidas sanitárias necessárias, mas de constatar, entre outras coisas, que a quarentena em vigor atualmente só é possível para uma pequena camada da sociedade, um setor da pequena burguesia que está realizando o teletrabalho (home-office) e a própria burguesia, que já não trabalha mesmo.
Enquanto isso, o governo BolsoDória, por exemplo, que vem sendo até elogiado por setores mais confusos da esquerda, já demitiu em massa trabalhadores terceirizados da rede estadual de educação de São Paulo, muitos sendo notificados apenas por mensagens na rede Whatsapp.
Como funciona a quarentena para quem vai ficar sem renda para as despesas básicas, imprescindíveis à sobrevivência?
Enquanto a esquerda tira férias, a população mais pobre se vê confrontada com o abandono do governo e tende a reagir por conta própria. A Aliança da Juventude Revolucionária (AJR) entende que o papel da juventude é promover agitação e propaganda nas ruas e está agindo conforme suas forças, indo às periferias das grandes cidades e trabalhando para organizar conselhos populares para ajudar a população a se mobilizar em sua própria defesa.