A coalizão uruguaia Frente Ampla venceu no último domingo a eleição para a prefeitura da capital Montevidéu. A ex-ministra da Indústria, Carolina Cosse, foi eleita prefeita no que será o sétimo mandato seguido da Frente Ampla na cidade.
Enquanto parte da esquerda, em especial os “craqueiros eleitorais”, celebra ingenuamente essa “vitória de Pirro”, a direita e a extrema-direita controlam o país sul-americano. Pirro (318 a.C. – 272 a.C.) foi rei do Epiro e da Macedônia, ficando eternizado o seu balanço após a vitória sobre os romanos na Batalha de Ásculo: “Outra vitória como esta e estamos acabados”. Ou seja, uma “vitória de Pirro” significa que os ganhos obtidos na vitória não compensam as perdas envolvidas.
As últimas eleições presidenciais no Uruguai deram a vitória para uma coalizão entre direita e extrema-direita, que tirou a Frente Ampla do governo do país. A interferência dos militares foi marcante no processo eleitoral, primeiro apoiando o candidato de extrema-direita do Cabildo Abierto e depois espalhando ameaças na véspera da votação através de mensagem amplamente divulgada no WhatsApp, numa campanha de terror. Ainda existe uma grande possibilidade de haver ocorrido fraude eleitoral, pois o resultado foi bem apertado.
Nesse cenário de guinada à direita, que foi favorecida pela política de conciliação da Frente Ampla (que incluiu até acenos ao imperialismo), a vitória municipal tem pouca relevância e não altera o quadro geral do regime político uruguaio.
É preciso ter muita clareza nesse ponto, pois guarda muita relação com a situação brasileira. A esquerda que ficou entocada durante todo o governo Bolsonaro, eleito a partir de uma fraude, agora vem a campo para semear ilusões nas eleições municipais. Além de ignorar as possibilidades reais de eleger prefeitos e vereadores, esses setores pequeno-burgueses prestam um enorme desserviço ao sugerir que o quadro político pode ser transformado através das eleições municipais.
Não podemos ignorar, para ter uma análise lúcida, que vivemos em meio a uma onda de golpes impulsionados pelo imperialismo, em especial na América Latina. Em cada país essa tendência se manifestou de uma maneira própria nos processos eleitorais. No Brasil, o judiciário impediu a participação do candidato mais popular; no Equador, o candidato apoiado pela esquerda foi comprado e se tornou um fiel escudeiro do imperialismo norte-americano; na Bolívia, um golpe militar mais explicitamente fascista, que recusou aceitar a derrota eleitoral; na Argentina, a derrota já veio antes das eleições, quando Cristina Kirchner abriu espaço para a ala direita do Partido Peronista, e a crise se acentua.
A tendência à fascistização do regime político faz com que a esquerda, presa no jogo institucional, acompanhe uma direitização da política, distanciando-se do movimento popular e, aderindo a uma política direitista, perdendo legitimidade dentro desse movimento.