O Brasil enfrenta a situação mais grave das últimas décadas e Bolsonaro não tem política para enfrentá-la.
Há uma escalada da dívida pública, uma fuga de capitais recorde e um enorme agravamento da crise social, com desemprego oficial de 15 milhões de pessoas, ou seja, que não leva em conta aspectos como subemprego, pessoas que desistiram de procurar emprego etc., o que faria a cifra triplicar.
Nesse quadro, a suspensão do auxílio emergencial, que está em debate, levaria 40 milhões de pessoas a uma situação de pobreza absoluta.
A burguesia está dividida entre dois caminhos possíveis para a política econômica:
Primeiro, a injeção de dinheiro na economia, uma política antirrecessiva, que postergaria medidas mais duras, como arrocho fiscal e contenção de gastos. O segundo seria de um ajuste imediato na economia para conter os gastos.
Essa divisão revela as dificuldade políticas da burguesia para lidar com a situação.
Primeiramente, em tempos anteriores, um governo que perdesse o controle da maneira que Bolsonaro vem perdendo, estaria sofrendo um assédio muito duro da burguesia. Mas esta, pelo contrário, vem tratando o problema com muita cautela, pois não tem forças do ponto de vista político para fazer isso, o que é um elemento central da situação política.
Qualquer tentativa de tirar Bolsonaro vai enfrentar resistência e é preciso base popular para enfrentar isso.
Se a burguesia procurar se apoiar na base de esquerda que está polarizando com Bolsonaro, vai acabar perdendo o controle e a situação pode evoluir à esquerda.
O que ela vai tentar, no entanto, é se recuperar pelos meios tradicionais, e não apoiar nenhum movimento de tipo democrático, à esquerda. E se não for bem sucedida, vai apoiar Bolsonaro.
Nesse cenário, a manobra da frente ampla é fundamental para tais planos, uma vez que os candidatos da direita tradicional não têm popularidade nenhuma e precisam que a esquerda dê apoio a essa operação.
A esquerda e a frente ampla
Um setor muito amplo da esquerda não vê nenhuma possibilidade de ter uma política independente da burguesia, no caso, a coligação dos antigos Arena-MDB cujos partidos mudaram diversas vezes de nome, desde o fim da ditadura, se dividiram, mas que mantêm no essencial a mesma composição.
De modo geral, a esquerda pequeno-burguesa está envolvida profundamente na manobra da frente ampla, ou seja, de reabilitar os setores tradicionais da burguesia usando o espantalho do Bolsonaro. O PSOL e Guilherme Boulos aparecem como expoentes dessa política, sendo muito marcante o destaque que a imprensa dá a Boulos nas eleições municipais de São Paulo, inclusive com uma recente matéria da revista Veja que classificou Boulos como “o maior fenômeno eleitoral de 2020”.
Nas eleições, o que vemos é a esquerda de um modo geral entrando de cabeça na ilusão das eleições municipais, fazendo de conta que o problema nacional não existe e se desmanchando nas eleições. Assim, faz completamente o jogo da burguesia. Em lugar de ter uma independência da burguesia, PT, PCdoB, PSOL, entraram em coligações com inúmeros partidos burgueses golpistas, inclusive o próprio PSL em diversas cidades.
A única alternativa para os trabalhadores, no entanto, seria o desenvolvimento da polarização polarização política de uma maneira organizada e consciente pela esquerda, criando um movimento de rua pelo “Fora Bolsonaro”, levantando a bandeira da independência diante da burguesia golpista, que é a burguesia da frente ampla, que planejou e organizou o golpe de 2016.