Durante o período da pandemia de coronavírus, a ala mais direitista da esquerda nacional se aproveitou da situação de desmobilização para defender abertamente a política reacionária da “frente ampla”. Dentre esses “amigos da onça”, destacaram-se Guilherme Boulos, dirigente do MTST e do PSOL que assinou inúmeros documentos com a direita que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, e Flávio Dino (PCdoB), que decidiu lançar sua candidatura para presidente da República enquanto o povo morria de coronavírus. A política de aliança com os golpistas, conforme discutimos exaustivamente neste diário, é uma que vem da burguesia e que favorece apenas a essa classe. Neste artigo, a fim de demonstrar o caráter reacionário dessa política, exporemos que Vera Magalhães, representante da direita e, por vezes, da extrema-direita brasileira, não só defende essa política, como pretende dar “conselhos” sobre como formar a “frente ampla”.
Em artigo publicado no dia 25 de junho, a jornalista declarou que:
O termo frente ampla e a democracia como meta deveriam ser fatores a unir esquerda, centro-esquerda, centro e centro-direita, além de setores da direita não-reacionária, mas as diferenças partidárias, as rusgas recentes e o pensamento voltado para 2022 impedem que se tirem os bodes da sala em nome de objetivos comuns.
Em meio a essa definição bastante precisa do que seria a “frente ampla” — bem mais precisa do que as definições dos dirigentes da esquerda nacional, em suas tentativas de amenizar o quão reacionária é essa política —, podemos estabelecer quais seriam os princípios desse tipo de aliança. Seria dissolver as “diferenças partidárias” entre a esquerda e todos os demais segmentos da política nacional para apresentar uma candidatura suficientemente forte para as eleições de 2022.
Aqui, ficam claros duas questões fundamentais sobre a “frente ampla”. Em primeiro lugar, que o seu intuito é eleitoral. Portanto, os defensores da “frente ampla” consideram que a extrema-direita liderada pelo fascista Jair Bolsonaro só pode ser derrotada por meio da união de todos os demais setores. Em segundo lugar, que as diferenças entre o programa que a esquerda defende e o programa que um partido como o DEM defende é um problema secundário.
Ambos os aspectos revelam greves equívocos sobre a situação política. Em primeiro lugar, Bolsonaro não é uma força mais poderosa do que a esquerda isolada. Bolsonaro possui uma base social extremamente limitada e só se tornou presidente por causa de uma fraude eleitoral escancarada. A esquerda, como se viu nas manifestações de maio e em praticamente todas as manifestações populares, é muito superior ao bolsonarismo. Em segundo lugar, as diferenças entre a esquerda e a direita “democrática” não são poucas. Nesse exato momento, o chamado “centrão está defendendo a privatização da água e a destruição de vários direitos trabalhistas.
Apesar de ter um propósito muito bem definido, a frente ampla passa, nesse momento, por um impasse. Afinal de contas, o maior partido de esquerda do País, que é o PT, não está inserido diretamente na frente, o que tem dificultado em muito um acordo entre a esquerda e a direita golpista. Justamente por causa disso, Vera Magalhães decidiu dar seus “conselhos”:
Lula não vai porque, para ele, só interessa uma frente ampla que diga que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, sua prisão após condenação por crimes comuns foi política e que, de quebra, faça um linchamento público de Sérgio Moro.
O convite a Moro, aliás, ameaça provocar defecção de setores da esquerda que estavam se desgarrando da orientação de Lula e pretendiam participar.
(…)
Torcer o nariz e fazer campeonato de quem é mais democrata neste momento ajuda uma única pessoa, e ela se chama Jair Bolsonaro. Não surpreende que o PT queira isso: deixando Bolsonaro como espantalho e boicotando qualquer possibilidade de aliança que, lá na frente, possa resultar no apoio a um candidato não-petista, o cacique vive a ilusão de que pode prorrogar sua influência já francamente declinante.
O Lula não ingressou na “frente ampla” porque a ala que o ex-presidente representa é inconciliável com a direita golpista. Lula é a expressão da maioria da população, que está sofrendo com o coronavírus, o desemprego e todos os demais ataques do governo Bolsonaro. Como a própria jornalista de direita deixou claro, a decisão de Lula e da ala que lidera de não participar da “frente ampla” não é um capricho pessoal: Lula não quer participar de uma frente que envolva os responsáveis pelo golpe contra Dilma Rousseff e pela sua prisão.
A decisão de Lula é não somente correta como óbvia. Não há como defender os interesses do povo defendendo, ao mesmo tempo, os interesses da direita que levou Bolsonaro ao poder e que continua a apoiá-lo. O que merece destaque, portanto, é o outro lado: o fato de que a direita se valeu da voz de Vera Magalhães para tentar retirar a influência de Lula do acordo da “frente ampla”. O que a direita quer é uma frente sem Lula, sem o povo e sem qualquer perspectiva de luta. É preciso, portanto, que os trabalhadores rejeitem completamente a frente ampla e se organizem de maneira independente da burguesia.