“Falta um pouco de conteúdo, e precisa de menos rede social, menos pancadaria”, disse a deputada estadual Janaína Paschoal à Folha de S.Paulo no sábado (2).
O “fenômeno” (da fraude eleitoral) de 2 milhões de votos em 2018 fez parte da campanha da direita “tradicional” pelo impeachment em 2016. À época, integrou a ala extrema direita da campanha, que atacou a ex-presidenta Dilma Rousseff com muita virulência.
Ela avaliou o resultado das eleições municipais – na qual a vitória coube aos partidos tradicionais da direita – como prova de que a população “se cansou” da política “teatral” de “jogar para a torcida” daqueles que propõem uma “nova política”. A população teria criado uma expectativa grande em relação à direita que “não consegue dar andamento para as pautas”.
Para a deputada, a direita (e ela está se referindo aos partidos e políticos burgueses que tendem à extrema direita, beiram o fascismo) é muito intransigente. “A postura típica de petista virou a postura do bolsonarista, de uma maneira muito agressiva”.
O repórter da Folha tenta extrair dela uma declaração taxativa contra Bolsonaro. Ela, embora “crítica”, permanece entre os que “tentam ajudar”. Negou interesse nos pedidos de impeachment do presidente e ressaltou que os recebe frequentemente, e que em número maior chegam pedidos para impedir Doria.
Ao falar das eleições municipais, não deixou de demarcar seu terreno. “Foi uma disputa de centro-esquerda contra a esquerda”, disse. Afirmou ter votado em Bruno Covas porque a direita não tinha uma candidatura, “por causa da inabilidade da direita”.
A entrevista é interessante apenas na medida em que uma figura escatológica da direita pode ser considerada interessante. Mas ela põe em relevo algo muito peculiar da política brasileira, o paralelo entre a moderação que, segundo ela, falta à extrema direita, e que abunda no meio da esquerda.
Direita e esquerda estão fazendo um movimento de convergência. A política de frente ampla, que une a esquerda pequeno-burguesa, parlamentar e burguesa à direita tradicional, aos partidos que dominam o regime político desde a ditadura militar (PSDB, DEM, MDB e outros).
Com essa política, a direita tradicional caminha para colocar para escanteio a ala mais agressiva, exaltada e fascista da direita e retomar o controle do governo federal fazendo, por meio de um tortuoso caminho, o país retroceder a uma espécie de “era FHC 2.0”.
Janaína Paschoal é, em alguma medida, consciente de que seu mandato, tanto quanto o de Bolsonaro, está ameaçado. Perguntada sobre qual seria sua base, já que é “rejeitada por bolsonaristas e pela esquerda”, disse: “não sei”, “se o povo quer votar, vota”.
Janaína Paschoal deu a chave para o problema. Se os setores que tendem à extrema direita quiserem continuar a cumprir algum papel relevante (e não voltar à posição de “baixo clero” no Congresso), têm que atuar como políticos burgueses tradicionais, parlamentar ao invés de gritar nas redes sociais. Em outras palavras, para sobreviver, a extrema direita precisa se tornar uma “direita paz e amor”.
Só há um problema: será possível que, neste processo, consigam ocupar um lugar que já está ocupado pelos demagogos profissionais, com longa ficha de serviços prestados à burguesia?