Durante todo o período da pandemia, a burguesia orquestrou uma pesada campanha de propaganda em torno da palavra de ordem “fique em casa”.
Por trás da demagogia sanitária, havia um objetivo muito bem definido: impedir que os trabalhadores, os movimentos populares e a esquerda se manifestassem nas ruas contra Bolsonaro e todo o regime golpista.
Essa campanha começou justamente quando o movimento pelo Fora Bolsonaro ganhava força nas ruas, com as mobilizações do 8 de março de 2020. Esse foi o último ato público da esquerda, que, devido à sua dependência da burguesia, foi fisgada pela propaganda do “fique em casa”.
Agora, no entanto, essa campanha foi para a lata do lixo. A esquerda, pressionada pelas bases populares e operárias, que nunca tiveram o privilégio de “ficar em casa”, voltou às ruas. Em massa.
O volume dos atos de 29 de maio e 19 de junho pegou a própria burguesia de surpresa. Ela ficou inquieta. O “fique em casa” foi por água abaixo, foi atropelado a partir do poderoso ato de 1° de Maio na Praça da Sé, convocado pelos militantes do PCO e outras organizações.
Para impedir o desenvolvimento dos atos, que tendem a um enfrentamento direto com Bolsonaro e todo o regime, a burguesia mudou de posição. Já que o povo está na rua e está difícil conter à força, é preciso ir para a rua controlar e acabar com o movimento.
Isso ficou muito claro na nova propaganda da imprensa, de que os atos não podem ser da esquerda, mas de “todos” – isto é, a direita precisa participar. Para quê, para aumentar a pressão pelo Fora Bolsonaro? Logicamente, não. Pelo contrário: para que os atos se transformem em coxinhatos e levem a luta para as instituições, onde o povo não tem vez e quem controla é a direita e o próprio bolsonarismo.
A burguesia tenta uma manobra semelhante à de 2013: fazer uso do seu “estepe”, ou seja, os elementos da extrema-direita, para dominar os atos. Daí as palavras de ordem que começam a ressurgir: “sem partido”, “abaixa essa bandeira e levanta a do Brasil”.
Em 2013, esses elementos fizeram uso da força física para intimidar os manifestantes da esquerda e acabar com os atos.
Desta vez, não vamos deixar.
A direita pode pensar que seus elementos fascistas são os únicos que sabem fazer uso da força física. Ledo engano. O próprio MBL, que cogita se infiltrar nos atos, já sofreu na pele a fúria das massas. Se aparecer novamente, mesmo disfarçado, pode se preparar para o pior.
Nos numerosos atos de rua realizados pelo PCO e pelos Comitês de Luta desde o ano passado – os únicos da esquerda -, uma palavra de ordem tem sido entoada a todo o vapor. E tem sido muito popular. Ela diz: “se pintar fascista, a porrada vai comer”.
Os companheiros das torcidas organizadas mostraram total acordo com essa palavra de ordem nos atos do ano passado na Avenida Paulista. E eles sabem fazer “a porrada comer”. O sabem também os moradores da periferia, tão acostumados com a violência cotidiana. O mesmo vale para muitos operários e ativistas, que clamam pela organização de comitês de autodefesa.
Em mais de uma ocasião, a polícia teve de intervir para salvar a pele dos elementos coxinhas e fascistas que tentaram provocar atos da esquerda. Principalmente onde estavam os militantes do PCO, de outros grupos antifascistas e das torcidas organizadas. Se não fosse a intervenção policial, sempre disposta a reprimir a esquerda e proteger a direita, ninguém sabe o que poderia ter ocorrido com a saúde desses elementos direitistas.
Não há como controlar as massas quando elas estão enfurecidas. E, se aparecerem grupos da direita (mesmo que disfarçados), ninguém fará questão de entrar na turma do “deixa disso”.
Nos atos de 29 de maio e 19 de junho, inclusive, foi notável o “sangue nos olhos” de muitos dos manifestantes, embrutecidos com a raiva por toda a opressão sofrida. Tudo o que esse pessoal quer é extravasar, descontar essa raiva naqueles que representam essa opressão.
À medida que se radicalizam, os atos se tornam mesmo muito perigosos para quem é estranho e hostil à esquerda. Pela própria segurança daqueles que buscam abaixar as bandeiras da esquerda e pintar os atos de verde e amarelo, deixamos uma sugestão sincera: fiquem em casa. Caso contrário, ficarão por sua própria conta e risco.