Após um mês do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, o número de pessoas envolvido nos resgates cai para quase um terço do que estava sendo mobilizado inicialmente.
Com pelo menos 131 pessoas ainda desaparecidas debaixo da lama, o efetivo envolvido nas buscas foi reduzido de algo em torno de 500 pessoas dos momentos iniciais das buscas, que também contavam com a ajuda de 15 helicópteros e 20 cães farejadores, para pouco mais 180 militares dos bombeiros, apenas quatro cães e nenhum helicóptero.
O tenente-coronel Anderson Passos pede “paciência” e ainda tenta justificar a drástica desmobilização dizendo que agora “não precisamos mais de tantos homens”, “é um outro momento operacional”, em que o uso de retroescavadeiras mostra-se a melhor solução, uma vez que “efetividade do maquinário para as escavações é, obviamente, muito mais produtiva”.
O que é óbvio, entretanto, é que ninguém tem que ter paciência nenhuma com mais este crime.
Se já não bastasse o descaso da Vale em utilizar de uma verdadeira gambiarra para acondicionar rejeitos de mineração, ainda temos que aceitar essa escandalosa desmobilização nas buscas?
À parte qualquer conversa mole oficial, o que interessa é que passado um mês da consumação do crime da Vale, os parentes e amigos de suas vítimas deveriam ao menos contar com o mínimo, ou seja, ter a possibilidade de velar pelos corpos daqueles que foram assassinados pelas ações e omissões dessa empresa capitalista, que não tem nenhum interesse a não ser acumular montanhas de capital, ainda que seja à custa de todas as montanhas de Minas e da vida de seus habitantes.
É de se notar, inclusive, que a Vale sequer mobilizou recursos e pessoal próprios para executar estas buscas, o que seria, isto sim, a mais óbvia uma medida a ser tomada pela empresa, de simples caráter humanitário, coisa que passa muito longe da natureza dessas empresas sanguessugas do minério que tomaram conta das riquezas do nosso povo.
Para a classe trabalhadora a experiência concreta não permite mais nenhuma dúvida: deixar tantas vidas humanas – e todos os recursos do meio ambiente – nas mãos dos pilantras assassinos e parasitas da burguesia, é o mesmo que assinar a própria sentença de morte.
O próprio Estado, nas mãos da burguesia, não fará outra coisa senão virar as costas para o povo assim que os holofotes da golpista imprensa burguesa puderem relegar para o esquecimento os crimes cometidos contra populações inteiras. Como, aliás, já aconteceu no caso do crime de Mariana.
A classe trabalhadora deve compreender que é assim que invariavelmente funciona a burguesia. Explora o povo, o meio ambiente, coloca as nossas riquezas nos seus bolsos, e joga todos os prejuízos nas costas do povo e do Estado.
Até porque o Estado é totalmente dominado por esta mesma burguesia. Ainda mais quando à frente do governo está um representante direto dessa mesma classe, como é o caso atual, com a eleição vergonhosamente fraudulenta de um perfeito inimigo do povo, ele mesmo um burguês bolsonarista, o Zema.
Mas não importa quem seja o eleito, enquanto nós permitirmos que a burguesia tenha o direito de vida e morte sobre todos nós e se ache dona de nossas riquezas, o que vamos assistir é uma sucessão sem fim de destruição, miséria e assassinatos, como os que ocorreram há um mês em Brumadinho e há alguns poucos anos em Mariana.
Minas está para se tornar não um rio, mas um mar de lama tóxica, recheada de corpos, enquanto as mineradoras continuarem a lavrar nossa terra, embolsando nossas riquezas.
Prova disto é que, em meio a todo este escândalo de Brumadinho, a mesma Vale já obteve direito de lavra da Serra da Piedade, local histórico, querido de todos os belorizontinos, e que poderá simplesmente desaparecer nos próximos anos para ir direto para o bolso da mesma meia dúzia de assassinos que hoje pede “paciência”.
Por este exemplo já se vê que não podemos confiar no Estado burguês, nem por um segundo, e muito menos nesses “donos” burgueses das mineradoras, ou de qualquer outra empresa capitalista.
A única maneira de parar este cenário de mortes e tragédias é a classe trabalhadora imediatamente organizar-se para ocupar todas as mineradoras e passar a controlá-las diretamente. Inclusive contando com a ajuda financeira do Estado, justamente por ser este o interesse de todos, ou seja, que nossas riquezas sejam inteiramente revertidas para o benefício dos trabalhadores brasileiros, cientes que o único controle que pode afastar a possibilidade de novas tragédias é o controle popular direto, exercido pelos próprios trabalhadores e comunidades onde estas mineradoras se localizam.
Somente o poder popular, diretamente exercido pelo povo, é que tem condição de colocar um ponto final neste pesadelo de tragédias, descaso e roubo a que Minas – e o Brasil – hoje parece estar preso.