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Uma operação contra o povo

Um bloco para ajudar a direita a estabilizar o neoliberalismo

Toda essa operação se dá em nome de um suposto “combate ao fascismo”. O objetivo é fazer com que, por meio da esquerda, a população apoie a direita neoliberal.

Na última semana foi noticiada pelos meios de comunicação, com grande comoção no mundo inteiro, a invasão do Capitólio nos Estados Unidos. Um grupo de manifestantes de extrema direita, partidários de Donald Trump, invadiu o parlamento norte-americano. Quatro deles foram assassinados.

Tal acontecimento deu lugar a desdobramentos na situação política internacional e no Brasil, desdobramentos esses que nos oferecem importantes indícios acerca da forma como estão se alinhando as forças políticas no cenário nacional e internacional.

 

A posição da esquerda diante do acontecimento

 

As forças políticas da esquerda nacional se posicionaram e é importante analisar esses posicionamentos, visto que eles determinam, em grande medida, o rumo dos acontecimentos no Brasil. A posição de grande parte da esquerda nacional foi condenar a manifestação como uma tentativa de golpe de Estado.

Entretanto, deixemos de lado, momentaneamente, o fato de que eram manifestantes de extrema-direita. Deixando isso de lado, resta o fato de que eram manifestantes, que denunciavam  uma fraude nas eleições e que invadiram ou, se preferirmos assim dizer, ocuparam o parlamento em protesto contra a fraude que eles afirmam existir. Analisemos isso.

A esquerda brasileira não é afeiçoada a ideia de que uma eleição pode ser fraudada e cultiva, com especial carinho, seu fetiche pela urna (principalmente a eletrônica), que costuma aparecer no imaginário dos esquerdistas como uma espécie de oráculo, ou algo sagrado, inviolável. Entretanto, não deveria ser segredo para ninguém que qualquer eleição pode ser fraudada e que, longe de ser uma exceção, a fraude eleitoral é uma regra. Isso serve tanto para os Estados Unidos como para o Brasil. Se reconhecemos isso, imperioso é também reconhecer que questionar a validade de uma eleição e protestar contra isso é um direito democrático.

Entretanto, assustada pelo fascismo e presa ao respeito às instituições burguesas, a esquerda não consegue reconhecer isso. Seu medo da extrema direita faz com que ela corra para os braços de representantes da direita tradicional, como Joe Biden nos EUA e João Dória no Brasil. Chegam ao extremo de apoiar a repressão política contra a extrema direita, o que inevitavelmente tende a se voltar contra a própria esquerda e os trabalhadores. Cientes disso, Bidens e Dórias vem usando Trumps e Bolsonaros como espantalhos, colocando em prática uma engenhosa operação política para reabilitar e dar estabilidade a uma política que, por onde passa, provoca uma destruição sem precedentes: o neoliberalismo.

 

A engenhosa operação do imperialismo

 

Os acontecimentos que vimos nas eleições (e também depois delas) nos EUA, mas também o que se pode ver no Brasil, são fortes indícios de que, até o momento, os planos do imperialismo vem obtendo sucesso em uma engenhosa operação política. Temos assistido uma operação da direita nacional e internacional, do imperialismo, para operar um atrelamento político do conjunto da esquerda e da opinião superficialmente democrática da classe média.

O imperialismo tem usado de maneira hábil o medo que a extrema direita desperta nos setores de esquerda pequeno burguesa e na classe média em geral de espírito liberal ou semi – liberal (no sentido do liberalismo político e não econômico) para que eles apoiem a direita tradicional

Toda essa operação se dá em nome de um suposto “combate ao fascismo”. O objetivo é fazer com que, por meio da esquerda, a população apoie a direita neoliberal: para evitar o mal maior (personificado em personagens como Trump e Bolsonaro, representantes da direita fascista) ela deve apoiar o mal menor (Biden, Dória, Maia, Baleia Rossi, representantes da direita neoliberal).

 

O que significa o neoliberalismo 

 

Já que esse é o objetivo da operação que está em marcha, é necessário explicitar o que está em jogo quando se fala em neoliberalismo. Trata-se de uma política aplicada pelo imperialismo e seus lacaios que reverteu todos os regimes de bem estar social que foram construídos após a segunda guerra mundial, que levou a frente uma política de privatizações em grande escala, que destruiu os direitos trabalhistas da população e levou bilhões de pessoas à miséria. Junto com isso, uma política militar muito agressiva, que culminou na invasão do Iraque, afinal, com uma política econômica tão antissocial, não há como controlar as massas, a não ser por meio da intensificação da repressão.

Essa política começou a ser aplicada mais intensamente no Brasil há mais ou menos três décadas. E qual foi o resultado? Milhões de pessoas foram colocadas na miséria, durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, governo que até agora melhor encarnou o neoliberalismo em terras brasileiras. Essa política de submeter o povo a um regime de fome e miséria foi freado, em parte, pelos governos Lula e Dilma, embora a situação não tenha sido completamente revertida e, podemos ver que após o golpe de Estado de 2016, boa parte dessas pessoas que tiveram algum alívio, estão voltando a miséria.

Com a política econômica neoliberal o Brasil vem passando por um processo de desindustrialização e perdeu, nas últimas décadas, de 25% a 30% do seu parque industrial. Inúmeras empresas simplesmente faliram. Graças ao neoliberalismo, o Brasil vem retrocedendo décadas na história.

Em outros países não é diferente. Nos EUA a política neoliberal destruiu inúmeros postos de trabalho. A mesma coisa se repete em todos os países do mundo. Trata-se de uma das coisas mais mortíferas feitas pelo capitalismo.

A política neo liberal é o retrato do capitalismo em decadência. Para que as empresas possam manter a sua lucratividade, principalmente no mercado especulativo, torna-se necessário a destruição de empresas, o fechamento de postos de trabalho, que significa enxugamento de um mercado saturado, levando um número cada vez maior de pessoas em situação de miserabilidade, a tal ponto que se vê o retorno do trabalho escravo em grande escala. Um cenário de destruição geral.

 

Quem são os responsáveis pelo caos?

 

Os responsáveis por essa política não são os bárbaros partidos e os políticos de extrema direita, mas aqueles que agora tentam se apresentar como democráticos e civilizados. Aliás, o próprio fortalecimento dos fascistas é o resultado da atuação da direita tradicional. Essa política de destruição aliada a uma luta política, a uma propaganda sistemática para destruir as organizações dos trabalhadores, enfraquecer os sindicatos e as lutas populares levou ao fortalecimento da extrema direita.

Contraditoriamente, a extrema direita se apresenta, em alguns casos como, contrária ao neoliberalismo. Eles representam alguns setores da burguesia que estão insatisfeitos, pois a política neoliberal levou à falência setores médios da burguesia, que se agrupam e por meio de uma intensa demagogia direitista procuram criar um movimento de massas contra os neoliberais, embora em determinados lugares eles também apoiem a política neo-liberalista.

O que temos em escala internacional é uma decomposição do regime político do imperialismo internacional e a extrema direita é uma expressão dessa decomposição. O que, nesse contexto, significa falar em decomposição do regime político internacional”? Significa que essa política econômica, que levou amplas parcelas da população diretamente para o abismo social, abriu falência e, com isso, o regime que dá sustentação a ela também.

Os governos nacionalistas de esquerda que tomaram conta da América Latina de esquerda também são uma expressão dessa falência, pois são resultado da reação da população, que se levantou contra o neoliberalismo. Os neoliberais, depois de um determinado período, se lançaram a desmantelar esses governos por meio de golpes de Estado, dentre eles o de 2016 no Brasil.

Agora o que está em jogo é recompor as condições políticas para levar adiante a mesma política neoliberal que levou anteriormente ao completo caos social. Na América Latina essa tentativa de recomposição se deu por meio dos golpes de Estado, mas os golpes de Estado até o momento enfrentaram inúmeros problemas políticos, o que não quer dizer que eles foram abandonados e sim que eles estão atravessando uma etapa de impasse.

 

Como os responsáveis pelo caos pretendem se reabilitar

 

O crescimento da extrema direita, causado pela política de golpes de Estado, contribuiu para desestruturar ainda mais o regime político. Trump e Bolsonaro são sinais da desestruturação do regime político, pois são um indício da incapacidade dos setores fundamentais da burguesia de colocar em prática um sistema de dominação política estável para levar adiante a destruição da economia em favor do grande capital.

Esse bloco político, que aqui denominamos como setores fundamentais da burguesia, é formado pelo imperialismo e seus lacaios. Eles perceberam que a única maneira de reorganizar o sistema político é através do apoio da esquerda, pois todo o período anterior foi marcado por uma ofensiva direitista (guerra ao terror, golpes de estado, anticomunismo) organizada por eles mesmos. Essa campanha direitista fez com que esse bloco perdesse uma parte de sua base para a extrema direita e agora eles precisam recuperar uma parte do apoio social por meio da esquerda. Para isso, é preciso utilizar a extrema direita como espantalho, explorando o medo que a esquerda pequeno burguesa tem dela.

Entretanto, a suposta direita civilizada e que se apresenta, aos olhos da classe média de esquerda, de maneira mais simpática, não é nenhum pouco menos ameaçadora.  Citemos apenas dois exemplos da ameaça que ela representa, um dos EUA e outro do Brasil.

Nos EUA, o Wall Street Journal, um dos principais jornais da burguesia imperialista, noticiou que Biden tem como prioridade aprovar uma lei contra o terrorismo doméstico, ou seja, o endurecimento da repressão. Em outras palavras: o inimigo do fascismo tem como uma de suas principais metas a adoção de uma medida fascista puro sangue. Uma lei antidemocrática que, em quatro anos de governo, Trump não aprovou.

No Brasil, Baleia Rossi, o candidato de Rodrigo Maia e que é apoiado por todos os partidos de esquerda presentes na Câmara dos Deputados por, supostamente, ser oposição ao bolsonarismo, deixou claro que será o homem das reformas neoliberais que, por sinal, os bolsonaristas vem tendo dificuldade de levar a frente.

 

Diante de tais coordenadas políticas: que fazer?

 

Quando a esquerda, ao defender a política de frente ampla, diz que é preciso juntar todos contra o fascismo, é preciso dizer em alto e bom som: não se trata disso, não são essas as coordenadas políticas gerais nesse momento. Embora a luta contra o fascismo precise ser feita, as coordenadas que estão sendo dadas pela direita dizem respeito ao uso do pretexto da luta contra o fascismo para a reanimação e estabilização da política criminosa e genocida do neoliberalismo.  Essa operação está em pleno desenvolvimento e precisa ser duramente combatida

Um aspecto da luta política na próxima etapa é a luta contra a tentativa de subordinar e colocar a reboque da direita o conjunto da esquerda. É um aspecto central da luta e, nesse momento, até mais importante do que a luta contra a extrema direita.  Enfatizamos: a luta contra a extrema direita deve ser travada, mas o perigo maior nesse momento é colocar o movimento operário e popular a reboque daqueles que destruíram todos os países do mundo.

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