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Colaboração de classes

“Ultra-esquerdismo”, um pretexto stalinista para o oportunismo

Dirigente do Resistência PSOL qualifica a política revolucionária para as eleições como uma prática "anarquista"

Em artigo recente publicado pela Revista Fórum, Valério Arcary, dirigente do Resistência/PSOL, decidiu lançar mão de escritos de Leon Trótski e Vladimir Lênin para criticar o que chamou de “ultra-esquerdismo”. Não é novidade nenhuma que Lênin tenha se debruçado sobre o que chamou de “doença infantil do comunismo”. A forte crítica ao anarquismo e às tendências centristas da pequena burguesia sempre esteve presente na obra do principal dirigente da Revolução Russa de 1917. Sobre Trótski, podemos dizer o mesmo: o sectarismo, expressão da indisposição da pequena burguesia de levar até o fim a luta pela revolução proletária internacional, ocupa parte significativa da obra do comandante do Exército Vermelho. O que nos cabe analisar, portanto, são os motivos pelos quais Arcary decidiu atacar o “ultra-esquerdismo”.

Para Lênin, Trótski e o marxismo em geral, o “ultra-esquerdismo” que deve ser combatido é aquele que está relacionado às tentativas da pequena burguesia de se abster da luta política. Nesse sentido, não podemos deixar de assinalar o sectarismo de Valério Arcary quando, no PSTU, defendia que os trabalhadores não se mobilizassem contra o golpe de 2016 porque o governo do PT não mereceria ser defendido. Baseando-se em critérios morais e subjetivos, que misturam os desejos da pequena burguesia com pitadas rarefeitas da realidade, o sectarismo é capaz apenas de distinguir duas cores: preto e branco. E sempre utiliza como refúgio ora o preto, ora o branco, na medida em que a polarização política aumenta e uma tomada de posição precisa ser tomada.

Mas o “ultra-esquerdismo” que Valério Arcary critica não é o seu e de seu partido em 2016, nem uma crítica série as tendências anarquistas que são tão danosas ao movimento operário. Uma rápida lida no texto de Arcary é suficiente para comprovar que, na verdade, de maneira bastante distorcida, o dirigente psolista cita Lênin e Trótski para embasar sua política capituladora diante do avanço da extrema-direita. Uma prática tipicamente stalinista, uma vez que a burocracia sempre acusava os setores combativos da esquerda internacional de “ultra-esquerdismo”. O stalinismo é um inimigo mortal do marxismo.

Disse ele:

“Sectários não são aqueles que dizem o que pensam, inclusive, quando criticam os outros. O contrário do sectarismo não é o tato ou a diplomacia, mas a disposição de intervir na realidade e aprender dessa intervenção. Sectários são os que sacrificam a possibilidade de um passo em frente em comum nas lutas, em função de outros desacordos, confessando sua impotência”.

Aparte sua escrita pomposa, perguntamos a Arcary: o que o dirigente considera um “passo em frente”? Em seu texto, Arcary responde:

“Não é incomum que venha associado ao slogan “as eleições não mudam nada”. Há um grão de verdade nesta ideia, porque as eleições, quando comparadas com as revoluções, são um terreno, essencialmente, desfavorável. (…) Mas, se não estamos diante da iminência de uma situação revolucionária, as eleições têm muita importância. Portanto, transformada em dogma esta ideia é errada, e estranha à tradição marxista. Não somos indiferentes nem às eleições, nem aos seus resultados. Porque as eleições são, em uma situação defensiva, a forma concentrada da luta política. (…) Além disso, os resultados eleitorais incidem na relação social e política de forças. Portanto, não é verdade que não importam. Mas esta discussão não é nova e é interessante conhecer os antecedentes”.

Aqui, Valério Arcary não consegue citar Trótski ou Lênin. Não consegue, afinal de contas, porque essas palavras jamais saíram, nem sairiam, de um revolucionário. São com as palavras de Valério Arcary que nos defrontamos, e não são precisos muito argumentos para mostrar que o arcarysmo, bem como o stalinismo, é apenas uma revisão medíocre do marxismo para justificar a sua incapacidade de defender uma política verdadeiramente revolucionária para a classe operária.

As eleições sempre foram, para os marxistas, uma tribuna, uma oportunidade para que a classe operária fizesse propaganda de seu programa e defendesse seus interesses. O abstencionismo eleitoral nunca foi pauta dos marxistas, uma vez que isso significaria largar os trabalhadores em uma ambiente dominado pela burguesia. Mas afirmar que o resultado eleitoral seria um fator decisivo para a situação política é o mesmo que vender ilusões para os trabalhadores. Ora, se o resultado eleitoral incidisse na relação de forças, então estaria justificado que um partido de esquerda fizesse qualquer coisa para se eleger. Segundo a tese de Arcary, se o PSOL dobrasse a sua bancada no parlamento, mesmo que, para isso, tivesse de se aliar à imprensa burguesa e a figuras direitistas, isso tornaria o clima mais favorável à mobilização. Se, por outro lado, um partido de esquerda investisse todos os seus esforços na campanha eleitoral para denunciar seus inimigos políticos, o clima ficaria menos favorável para a mobilização. Trata-se, portanto, de um absurdo.

E essa é justamente a conclusão que Valério Arcary quer chegar, embora não tenha expressado neste artigo. O dirigente, há algumas semanas, já expressou o seu apoio à candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, uma candidatura que busca reproduzir o fenômeno da frente popular. Em outras palavras, que coloca a possibilidade remota de uma vitória eleitoral acima da tarefa de mobilizar as massas.

E, se por acaso Valério Arcary insistir que o papel dos marxistas nunca foram o de utilizar as eleições para denunciar o regime político, citamos aqui Lênin — não Arcary —, mais precisamente, na mesma obra que o dirigente do PSOL recolheu trechos para justificar seu centrismo:

“Mais uma vez, constatamos que os “esquerdistas” não sabem raciocinar, não sabem conduzir-se como o partido da classe, como o partido das massas. Vosso dever consiste em não descer ao nível das massas, ao nível dos setores atrasados da classe. Isso não se discute. Tendes a obrigação de dizer-lhes a amarga verdade: dizer-lhes que seus preconceitos democrático-burgueses e parlamentares não passam disso: preconceitos. Ao mesmo tempo, porém, deveis observar com serenidade o estado real de consciência e de preparo de toda a classe (e não apenas de sua vanguarda comunista), de toda a massa trabalhadora (e não apenas de seus elementos avançados).”

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