A censura praticada pelos monopólios da internet tem sido pauta de grande discussão política dentro na esquerda. O debate ganhou maior intensidade após Twitter, Facebook e YouTube desativarem as contas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A defesa histérica deste tipo de ação ditatorial acaba por conferir liberdade para que esses gigantes das redes sociais censurassem qualquer publicação, como foi o caso do jornalista Antero Greco que teve uma publicação censurada.
Antero Greco fez uma publicação na rede social Twitter sobre sua coleção de jornais da “imprensa alternativa”, como denominou a imprensa de esquerda, junto da mensagem uma foto da capa do jornal da corrente do PT “O Trabalho” que trazia os dizeres: “Se Lula não for solto, São Paulo vai parar”. Evidentemente buscava-se transmitir uma mensagem política aos seus seguidores, assim o Twitter classificou o conteúdo da foto como sensível ocultando a mesma na postagem. Diante disso, o jornalista protestou contra os critérios empregados.
Houve uma época em que eu colecionava jornais, sobretudo da "imprensa alternativa". Perdi muito do acervo. Às vezes, aparecem relíquias, como esta publicação semanal, de maio de 1980. Lula já era tema de capa. pic.twitter.com/hgKRtCwZio
— Antero Greco (@anterogreco) February 6, 2021
O regime político em decomposição, resultado dos governos neoliberais em todo mundo, permitiu o crescimento da extrema-direita. Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, Boris Johnson se tornou primeiro-ministro no Reino Unido e Jair Bolsonaro ascendeu à presidência do Brasil após golpe. Junto do avanço da extrema-direita em todo planeta surgiu uma onda histérica da necessidade de derrotar o fascismo a todo e qualquer custo (mesmo os mais inúteis). Por não ter um programa a esquerda foi levada a apoiar os principais inimigos do povo.
Diante da ascensão da extrema-direita no Brasil, a esquerda perdeu totalmente o rumo e adotou como política a frente ampla com os partidos que encabeçaram o golpe de estado contra a ex-presidente Dilma Rousseff. O medo do fascismo cegou a esquerda que buscou se apoiar na direita tradicional golpista para combater Bolsonaro, nada mais absurdo. Assim, a esquerda passou a apoiar qualquer medida antidemocrática contra elementos da extrema-direita, como foi na censura imposta a Donald Trump pelos monopólios das redes sociais.
A esquerda não entendeu que a censura praticada por esses gigantes da internet não tinha qualquer relação com a defesa da democracia, mas dos interesses políticos e econômicos do próprio imperialismo como ficou demonstrado na nomeação de quadros importantes destes monopólios para ocupar cargo no governo de Joe Biden nos Estados Unidos.
Além disso, pouco tempo depois da censura a Trump, a conta da Assembleia Constituinte da Venezuela presidida pelo deputado chavista Luis Parra também foi desativada sem qualquer motivo pelo Twitter, que manteve ativa a conta do antigo parlamento ilegítimo dominado pelo golpista Juan Guaidó. As contas do governo da China também foram censuradas após emitir opinião sobre os protestos golpistas em Hong Kong.
Antes mesmo das ações das redes sociais contra as contas dos governos da China e Venezuela, que sucederam a censura ao ex-presidente dos Estados Unidos, este diário denunciou o perigo de conferir maior poder aos principais inimigos da classe operária mundial. A esquerda não deveria fazer defesa dessas arbitrariedades, pois também seria vítima destes monopólios que dominam toda internet, como já aconteceu diversas vezes na rede.
A situação demonstra de maneira cristalina que os monopólios das redes sociais não aplicam medidas restritivas com base na democracia e tampouco para combater o fascismo que é um de seus recursos quando não consegue controlar o regime político. Na verdade, a censura é imposta contra qualquer manifestação política de oposição aos seus próprios interesses. Assim fica evidente que à medida em que a crise se intensificar ainda mais, a censura contra a esquerda também vai aumentar. É preciso combater todas as arbitrariedades na internet.
A histeria sobre as “fake news” que teriam resultado na eleição de Bolsonaro e Trump levou a esquerda apoiar o projeto de lei no Senado. As notícias falsas sempre foram utilizadas pela imprensa burguesa contra a esquerda, foi assim que a Globo ajudou a eleger Fernando Collor de Melo, a derrubar a presidenta Dilma Rousseff e a prender Lula. Esta lei, se colocada em prática, será usada pelos golpistas contra a própria esquerda. O mesmo erro se comete agora, a esquerda passa a defender a censura do “discurso do ódio” pelos monopólios que são controlados pelo imperialismo e que servem para espionar o mundo todo.
A esquerda não pode cair na armadilha de abrir mão de uma de suas principais bandeiras por uma suposta conveniência política, o fascismo deve ser combatido nas ruas com os métodos históricos desenvolvidos pela esquerda. Não se pode perder de vista os principais inimigos da população mundial conferindo ainda mais poder a esses monopólios que, por não estarem sob controle dos trabalhadores, representam verdadeiras ditaduras na internet. É preciso defender o direito fundamental da liberdade de expressão a todos sem exceção. Não à censura na internet!