Como é tradicional dos períodos que marcam a passagem do ano, a esquerda pequeno-burguesa tratou de realizar balanços políticos de 2019 marcados pela falta completa de uma visão crítica da própria esquerda, que se recusou, cada vez com maior profundidade, a colocar o problema da derrubada de Bolsonaro e do regime golpista de conjunto. Escrava de uma política eleitoral rasteira, a esquerda se adaptou de maneira vergonhosa a cada ataque de Bolsonaro.
Essa adaptação tem como fundo a ideia de que seria preciso se apresentar para as eleições com um programa que fosse uma espécie de versão de esquerda para a política da direita. Acredita na imprensa golpista quando afirma que Bolsonaro é popular, que o povo em geral seria de direita e que, portanto, para agradar o eleitorado cada vez mais conservador (segundo essa concepção) seria preciso apresentar-se com uma roupagem direitista.
Um truque eleitoral que só poderá levar ao desastre. Não apenas ao desastre político da luta das massas contra o golpe e a direita, mas uma derrota inclusive no terreno eleitoral.
O que essa esquerda se recusa a entender é que as eleições estão fraudadas desde o início. A burguesia golpista tem o controle sobre ela, assim como teve em 2018.
O ano de 2020 que começa agora é ano de eleições municipais. Toda a esquerda já se volta para uma tática eleitoral nas cidades, o que é ainda mais absurdo. Mesmo se ignorássemos o fato de que as eleições serão completamente dominadas pela direita, é absurdo por si só acreditar que uma mudança em nível municipal poderia resolver o problema da política nacional. Quando a esquerda volta suas forças e suas manobras para as eleições deste ano trata-se de uma demagogia eleitoral rasteira, uma política completamente inócua, sem resultado.
Daí que devemos concluir que toda a demagogia e adaptação direitista para as eleições municipais é na verdade um preparativo para 2022. Todas as manobras eleitorais da esquerda agora são na verdade planos para as eleições presidenciais, o que nos obriga a concluir que uma capitulação ainda maior está por vir.
Os truques eleitorais e parlamentares não são capazes de derrotar a direita, nem mesmo no terreno eleitoral. Só um enfrentamento das massas com o regime golpista, em primeiro lugar a derrubada de Bolsonaro, pode colocar abaixo o golpe.