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Leninismo e stalinismo

Trótski: resposta às posições de Louis Fischer

Resposta às Posições de Louis Fischer

Dando sequência à série de textos publicados por Leon Trótski (muitos deles inéditos em português), o Diário Causa Operária traz ao leitor a tradução de mais uma entrevista do revolucionário russo, concedida em outubro de 1932. Entre tantas outras, esta é mais uma das homenagens que este diário faz ao criador do Exército Vermelho e continuador do legado de Vladimir Lenin em sua luta pela revolução socialista e contra a burocracia stalinista.

Leon Trótski

Leninismo e stalinismo

Resposta às Posições de Louis Fischer

Outubro de 1932

Pergunta: “Naquela época (1917) Lenin e seus partidários estavam convencidos de que somente uma revolução no exterior poderia salvá-los de uma derrota […] Não acreditavam que seria possível sobreviver a menos que as revoluções na Europa e na Ásia debilitassem a hostilidade externa e dessem à Rússia Vermelha um respiro para resolver seus problemas internos”, disse o Sr. Fischer. Lenin falava em salvar a Rússia da derrota e a subjugação apenas no sentido militar e político imediato, ou tinha ele em mente toda a perspectiva do desenvolvimento interno da Rússia, desde a ditadura do proletariado até a meta comunista final?

Resposta: Essa afirmação do Sr. Fischer, como muitas outras, demonstra o quão pouco familiarizado está com a teoria e a história do bolchevismo. Em 1917, não havia um único bolchevique que acreditasse possível a realização da sociedade socialista em um único país, e muito menos na Rússia. No apêndice de minha História da Revolução Russa, faço um estudo detalhado e documentado das ideias do Partido Bolchevique sobre a Revolução de Outubro. Espero que este estudo impeça que no futuro se atribua a Lenin a teoria do socialismo em um país. Aqui, limitar-me-ei, a citar um único parágrafo, em minha opinião decisiva. Lenin morreu em 1924; três meses depois, Stalin expôs por escrito a posição de Lenin sobre a revolução proletária. Transcrevo literalmente: “[…] derrubar em um país o poder da burguesia e implantar o do proletariado não significa ainda o triunfo total do socialismo. O objetivo fundamental do socialismo – a organização da produção socialista – ainda pertence ao futuro. É possível atingir esse objetivo, é possível alcançar a vitória definitiva do socialismo, em um único país, sem o esforço conjunto dos proletários de vários países avançados? Não, é impossível. Para derrubar a burguesia, basta o esforço de um país; a história de nossa revolução o atesta. Para a vitória definitiva do socialismo, para a organização da produção socialista, não basta o esforço de um país, especialmente um país camponês como a Rússia; isso exige o esforço dos proletários de vários países avançados […] “Stalin encerra a exposição dessas ideias assim: “Estas são, em geral, os traços mais característicos da concepção de Lenin sobre a revolução proletária.” (Problemas do Leninismo; o destaque é meu.)

Stalin descobriu apenas no outono de 1924 que justamente a Rússia, ao contrário de outros países, pode construir uma sociedade socialista valendo-se de suas próprias forças. “Depois de implantar seu poder e assumir a liderança do campesinato – escreveu ele em uma nova edição do mesmo livro – o proletariado vitorioso pode e deve construir a sociedade socialista.” Pode e deve! A proclamação desta nova concepção termina com as mesmas palavras: “Estes são, em geral, os traços mais característicos da concepção de Lenin sobre a revolução proletária.” No decorrer do mesmo ano, Stalin atribuiu a Lenin duas visões fundamentalmente opostas sobre o problema básico do socialismo. A primeira versão reflete a tradição real do partido; a segunda tomou forma na mente de Stalin após a morte de Lenin, no processo de luta contra o “trotskismo”.

P: motivos para supor que a revolução mundial (ou uma série de rebeliões sociais no continente eurasiático) deixou de ser “uma possibilidade imediata” por volta de 1921?

R: O que queres dizer com “possibilidade imediata”? Em 1923, na Alemanha, a situação era profundamente revolucionária, mas não houve uma estratégia correta para o triunfo da revolução. Naquele momento, escrevi um estudo sobre o tema, Lições de Outubro, que serviu de pretexto para eliminar-me do governo. Em 1925-1927 a revolução na China foi destruída devido à falsa estratégia revolucionária da facção stalinista. A este último problema, dedico meu livro Problemas da revolução chinesa. É evidente que as revoluções alemã e chinesa, caso triunfassem, teriam mudado a face da Europa e da Ásia e talvez de todo o mundo. Mais uma vez, aquele que ignora os problemas da estratégia revolucionária faria melhor em não falar sobre a revolução.

P: É verdade que “uma revolução germina apenas no campo nacional, que não é a consequência do dinheiro, folhetos ou agitadores importados, e que os capitalistas contribuirão mais que os comunistas para a liquidação do capitalismo”? É verdade que a mera existência de um sistema realmente soviético, quase socialista […] tem que acelerar a causa da revolução em outros países”, e que “uma forte União Soviética socialista é o estímulo mais eficaz para a revolução mundial”?

R: As posições implícitas nesta pergunta se contradizem claramente entre si. Que a existência da União Soviética é de uma importância revolucionária internacional, é ponto pacífico reconhecido tanto pelos amigos como pelos inimigos. No entanto, nestes últimos anos, apesar da existência da União Soviética, a revolução proletária não triunfou em nenhum outro país. Na própria Rússia, o proletariado triunfou embora não houvesse nenhum Estado soviético em lugar nenhum. Para triunfar, não apenas são necessárias determinadas condições objetivas, tanto internas quanto externas, mas também alguns fatores subjetivos: o partido, a direção e a estratégia. Nossas diferenças com Stalin são fundamentalmente estratégicas. Basta observar que, se em 1917 tivéssemos aplicado a política de Stalin, hoje não existiria o Estado soviético. Portanto, não é verdade que a mera existência da União Soviética possa garantir o triunfo da revolução em outros países. Mas também é falso que a revolução amadurece e se desenvolve apenas no terreno nacional. Nesse caso, qual utilidade teria a Internacional Comunista?

P: Supõe-se que uma economia capitalista, quanto mais se desenvolve, mais vem a depender dos outros países. Com a União Soviética isso não acontece dessa forma porque ela está marchando para uma economia socialista?

R: O autoabastecimento nacional ou “autarquia” é o ideal de Hitler, não de Marx e Lenin. A economia socialista não pode rejeitar as enormes vantagens que se derivam da divisão mundial do trabalho; pelo contrário, a estenderá ao máximo. Mas, na prática, não se trata da futura sociedade socialista, com um equilíbrio interno já estabelecido, mas de um determinado país técnico e culturalmente atrasado que, no interesse da industrialização e da coletivização, se vê obrigado a exportar o máximo possível para também importe o máximo possível.

P: É verdade que a teoria da revolução permanente, que constitui a plataforma sobre a qual você lutou contra Stalin desde 1924, “surgiu em um momento de depressão espiritual bolchevique, provocada por uma série de derrotas tanto internas quanto externas”, ou essa teoria representa uma linha coerente que aparece em “todos os seus escritos e atividades políticas desde 1903”? O Sr. Fischer afirma ambas as coisas.

R: A teoria da revolução permanente, diferente da do socialismo em um país, foi aceita por todo o Partido Bolchevique no período que vai de 1917 a 1923. Somente a derrota do proletariado alemão em 1923 deu um impulso decisivo à criação da teoria do socialismo nacional de Stalin. A curva revolucionária descendente deu origem ao stalinismo, não à teoria da revolução permanente, que formulei pela primeira vez em 1905. Essa teoria não está relacionada com uma determinada sucessão de acontecimentos revolucionários; apenas revela a extensão mundial do processo revolucionário.

P: Alega-se que “Trótski não teria eliminado a indústria artesanal da União Soviética”, assim como Stalin “teria ignorado a utilidade da Terceira Internacional”. Você concorda que “este quadro não está composto por brancos e pretos; tudo é uma questão de proporções e nuances”?

R: Só se pode afirmar isso se a história da luta entre a fração stalinista e a Oposição de Esquerda for desconhecida. A iniciativa do plano quinquenal e da coletivização acelerada pertence inteiramente à Oposição de Esquerda, e tropeçou com a constante e dura oposição dos stalinistas. Como não tenho possibilidade de fazer aqui uma longa crônica histórica, limitar-me-ei a um único exemplo. Corretamente se considera a Dnieprostroi como a maior conquista da industrialização soviética. No entanto, Stalin e seus partidários (Voroshilov, Molotov e outros), poucos meses antes do início de sua construção, opuseram-se decididamente. Cito a versão estenográfica da intervenção de Stalin no plenário do Comitê Central do partido em abril de 1926, dirigido contra minha atividade como chefe da comissão Dnieprostroi. “Fala-se […] de construir a Dnieprostroi com os nossos próprios meios. Mas são somas muito grandes, várias centenas de milhões. Como podemos fazer para não cair na posição do camponês que economizou algum dinheiro e em vez de consertar seu arado e renovar seu equipamento comprou um fonógrafo e faliu? (Risos.) […] Como não levar em conta a resolução do Congresso de que nossos planos industriais devem adequar-se aos nossos recursos? Mas o camarada Trótski evidentemente não leva em conta essa resolução do congresso” (registro estenográfico do plenário, p. 110).

Simultaneamente, durante vários anos, a Oposição de Esquerda lutou contra os stalinistas a favor da coletivização. Somente quando o cúlaque se recusou a entregar grãos ao estado, Stalin, pressionado pela Oposição de Esquerda, deu uma guinada brusca. Como é um empirista, foi ao extremo oposto, propondo um período de dois ou três anos para a coletivização de todo o campesinato, a liquidação dos cúlaques como classe e a redução do plano quinquenal para quatro anos. A Oposição de Esquerda alegou que as taxas de industrialização estavam além de nossas forças e que a liquidação dos cúlaques como classe ao longo de dois ou três anos era um objetivo ilusório. Se quiserem, podemos explicar a situação dizendo que neste momento somos “menos radicais” do que os stalinistas. O realismo revolucionário tenta tirar o máximo proveito de todas as situações – isso é o que o torna revolucionário –, mas, ao mesmo tempo, não permite estabelecer objetivos fantásticos – isso é o que o torna realista.

P: Se aceitarmos a posição de que a política de Stalin é puramente empiricamente, determinada pelas circunstâncias e é incapaz de prever qualquer coisa, como se explica o triunfo da facção stalinista sobre a Oposição de Esquerda?

R: Já destaquei a importância da estratégia revolucionária. Agora, devo enfatizar o significado decisivo das condições objetivas. Sem uma estratégia correta, o triunfo é impossível. Mas mesmo a estratégia mais correta não pode triunfar em condições objetivas desfavoráveis. A revolução tem suas próprias leis: em sua etapa culminante, empurra o setor mais desenvolvido, determinado e clarividente da classe revolucionária para as posições mais avançadas. Mas no proletariado, além da vanguarda, há uma retaguarda, e também estão o campesinato e a burocracia. Até agora, nenhuma revolução produziu tudo o que as massas esperavam dela. Por isso, é inevitável que haja alguma desilusão, uma diminuição da atividade da vanguarda e, consequentemente, um aumento do peso da retaguarda. A facção de Stalin fez parte da onda de reação contra a Revolução de Outubro. Voltemos na história: os que dirigiram as revoluções nos momentos culminantes nunca mantiveram suas posições por muito tempo depois de mudada a situação. Na França, o dirigente do jacobinismo morreu na guilhotina; entre nós, a mudança de direção consolidou-se com as prisões e expulsões. A técnica do processo é mais suave, mas na essência é a mesma.

P: Como você concilia suas críticas à União Soviética na imprensa revolucionária com suas inclinações revolucionárias? É verdade que você “afasta da Rússia a juventude inquieta”, “oferece aos inimigos da União Soviética os melhores argumentos e materiais possíveis” e proporciona aos “ex-radicais e simpatizantes comunistas uma desculpa para desconfiar de Moscou e absterem-se de participar na atividade revolucionária”?

R: O estado soviético não precisa de ilusão nem disfarce. Só pode aspirar à autoridade mundial que os fatos lhe dão. Quanto mais clara e profundamente compreenderem a opinião pública mundial, e em primeira instância as massas trabalhadoras, as contradições e dificuldades do desenvolvimento socialista em um país isolado, mais valorizará as conquistas alcançadas, menor será o perigo de que, devido à inevitável revelação desses erros e suas consequências, decline o prestígio não só do atual grupo governante, mas do próprio Estado operário. A União Soviética precisa de amigos reflexivos e conscientes que, além de a louvarem na hora da vitória, saibam contribuir com o seu esforço na hora da derrota e do perigo. Os jornalistas do tipo Fischer desempenham um papel progressista ao defender a União Soviética de calúnias, da invenção maliciosas e do preconceito. Mas esses cavalheiros se excedem em sua missão quando tentam nos dar lições de devoção ao Estado soviético. Se tivermos medo de falar dos perigos, nunca os superaremos. Se fecharmos os olhos para os aspectos desagradáveis do Estado operário que ajudamos a criar, nunca chegaremos ao socialismo.

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