80 anos de seu assassinato

Trótski: “Aonde vai a França?”

Trótski explica a necessidade do proletariado se armar e organizar-se em um poderosa milícia para enfrentar as forças opressoras da burguesia

No próximo dia 21 completam-se 80 anos do assassinato de um dos maiores dirigentes revolucionários da história da humanidade, morto covardemente a mando de Stálin em uma ação abertamente contrarrevolucionária e que castrou a classe operária de sua principal liderança: Leon Tróstki.

Como parte das homenagens do Partido da Causa Operária (PCO) ao líder bolchevique, este diário publicará uma série de textos de Tróstki, bem como artigos elaboradores por nossos redatores e materiais de vídeos acerca de Trótski e do trotskismo. Este artigo, é um recorte de um importante texto de Tróski sobre o fascismo intitulado “Aonde vai a França ?”, escrito no outrubro de 1934, é a segunda peça desse especial. Trata-se de um importante texto sobre o problema da democracia burguesa e o fascismo. Os capítulos destacados explicam o problema do armamento do povo.

 

A Milícia Operária e Seus Adversários

Para poder lutar, é preciso conservar e reforçar os instrumentos e meios de luta: as organizações, a imprensa, as reuniões, etc. O fascismo os ameaça, direta ou indiretamente. Ainda é muito fraco para lançar-se à luta direta pelo poder; mas é bastante forte para tentar abater as organizações operárias, pedaço a pedaço, para temperar seus grupos nesses ataques, para semear nas fileiras operárias o desalento e a falta de confiança em suas próprias forças. Mais que isso, o fascismo encontra auxiliares inconscientes em todos aqueles que dizem que a “luta física” é inadmissível e sem esperanças, e que reclamam de Doumergue o desarmamento de seus guardas fascistas. Nada é tão perigoso para o proletariado, especialmente nas condições atuais, que o veneno açucarado das falsas esperanças. Nada aumenta tanto a insolência dos fascistas quanto o brando “pacifismo” das organizações operárias. Nada destrói tanto a confiança das classes médias no proletariado quanto a passividade expectante, a ausência de vontade para a luta.

Le Populaire, e particularmente L’Humanité, escreve todos os dias: “A Frente única é uma barreira contra os fascistas”, “A Frente única não permitirá…”, “Os fascistas não se atreverão”, etc. Frases. É preciso se dizer exatamente aos operários, socialistas e comunistas: “Não permitam que os jornalistas e discursadores superficiais e irresponsáveis os adormeçam com frases. Trata-se de nossas cabeças e do futuro do socialismo”. Não somos nós que negamos a importância da Frente Única. Nós a exigimos quando os dirigentes dos partidos estavam contra ela. A Frente Única abre enormes possibilidades. Porém, nada mais. A Frente Única, em si mesma, não decide nada. Somente a luta das massas decide. A Frente Única se revelará uma grande coisa quando os destacamentos comunistas socorrerem os destacamentos socialistas – e vice-versa -, no caso de um ataque dos grupos fascistas contra Le Populaire e L’Humanité. Mas, para que isso ocorra, os destacamentos de combate proletários devem existir, educar-se, treinar-se, armar-se. Se não há organização de defesa, isto é, milícia do povo, Le Populaire e L’Humanité poderão escrever tudo o que quiserem sobre a onipotência da Frente Única e estarão indefesos diante do primeiro ataque bem preparado dos fascistas. Tratemos de fazer o exame crítico dos “argumentos” e das “teorias” dos adversários da milícia do povo, que são muitos e bastante influentes nos dois partidos operários.

Necessitamos de autodefesa de massas e não de milícia, nos dizem freqüentemente. Mas, o que é “autodefesa de massas”? Sem organização de combate? Sem quadros especializados? Sem armas? Transferir para as massas não-organizadas, não-equipadas, não-preparadas, entregues a si mesmas, a defesa contra o fascismo, seria representar um papel incomparavelmente mais baixo que o de Pôncio Pilatos. Negar o papel da milícia é negar o papel da vanguarda. Nesse caso, para que um partido? Sem o apoio das massas, a milícia não é nada. Mas, sem destacamentos de combate organizados, as massas mais heróicas serão esmagadas, em debandada, pelos grupos fascistas. Opor a milícia à autodefesa é absurdo. A milícia é o órgão da autodefesa.

Conclamar a organização da milícia é uma “provocação”, dizem alguns adversários certamente pouco sérios e pouco honestos. Isto não é um argumento, mas um insulto. Se a necessidade de defender as organizações operárias surge de toda a situação, como é possível não se conclamar a criação de milícias? É possível nos dizer que a criação de milícias “provoca” os ataques dos fascistas e a repressão do governo? Neste caso, trata-se de um argumento absolutamente reacionário. O liberalismo sempre disse aos operários que eles “provocam” a reação, com sua luta de classes. Os reformistas repetiram essa acusação contra os marxistas; os mencheviques contra os bolcheviques. No fim das contas, essas acusações se reduzem a este pensamento profundo: se os oprimidos não se pusessem em movimento, os opressores não seriam obrigados a golpeá-los. É a filosofia de Tolstoi e de Gandhi, mas de modo algum a de Marx e Lênin. Se L’Humanité quer também desenvolver a doutrina da “não-resistência ao mal pela violência”, deve tomar com símbolo não a foice e o martelo, emblema da Revolução de Outubro, mas a bondosa cabra que nutre Gandhi com seu leite.

“Mas armar os operários não é oportuno, a não ser em uma situação revolucionária, que ainda não existe.” Este argumento profundo significa que os operários devem se deixar espancar até que a situação se torne revolucionária. Os que ontem pregavam o “terceiro período” não querem ver o que se passa diante de seus olhos. A própria questão do armamento só surgiu na prática porque a situação “pacífica”, “normal”, “democrática”, deu lugar a uma situação agitada, crítica, instável, que facilmente pode transformar-se tanto em situação revolucionária quanto contra-revolucionária. Esta alternativa depende, antes de tudo, da resposta a esta questão: os operários de vanguarda se deixarão espancar, impunemente, uns após outros, ou a cada golpe responderão com dois golpes, aumentando a coragem dos oprimidos e unindo-os ao seu redor? Uma situação revolucionária não cai do céu. É criada com a participação ativa da classe revolucionária e do seu partido.

Os stalinistas franceses alegam agora que a milícia não salvou o proletariado alemão da derrota. Até ontem, negavam que tivesse havido derrota na Alemanha, e afirmavam que a política dos stalinistas alemães tinha sido justa do princípio ao fim. Hoje, vêem todo o mal na milícia operária alemã (Rote Front). Assim, de um erro caem no erro oposto, não menos monstruoso. A milícia não resolve a questão por si mesma. Falta uma política correta. A política dos stalinistas na Alemanha (“o social-fascismo é o inimigo principal”, a cisão sindical, o flerte com o nacionalismo, o putchismo) conduz fatalmente ao isolamento da vanguarda proletária e a seu desmoronamento. Com uma estratégia totalmente errônea, nenhuma milícia pode salvar a situação.

É uma tolice dizer que a organização da milícia, por si mesma, abre o caminho para aventuras, provoca o inimigo, substitui a luta política pela luta física, etc. Em todas essas frases não há senão covardia política. A milícia, como uma forte organização de vanguarda, é, de fato, o meio mais seguro contra as aventuras, contra o terrorismo individual, contra as sangrentas explosões espontâneas. A milícia é, ao mesmo tempo, o único meio sério de se reduzir ao mínimo a guerra civil que o fascismo impõe ao proletariado. Que os operários, embora não exista uma “situação revolucionária”, corrijam ao menos uma vez os “filhinhos de papai” patriotas com seus próprios métodos, e o recrutamento de novos grupos fascistas se tornará, de imediato, incomparavelmente mais difícil.

Mas aqui os estrategistas, confundidos em seu próprio raciocínio, nos lançam argumentos ainda mais surpreendentes. Lemos textualmente: “Se respondemos aos tiros dos grupos fascistas com outros tiros – escreve L’Humaníté, em 23 de outubro -, perdemos de vista que o fascismo é produto do regime capitalista e que, lutando contra o fascismo, enfrentamos todo o sistema.” É difícil acumular em tão poucas linhas mais confusão e erros. É impossível defender-se contra os fascistas porque representam “um produto capitalista!” Isto significa que se deve renunciar a toda luta, pois todos os males sociais contemporâneos são “produtos do sistema capitalista”.

Quando os fascistas matam um revolucionário ou incendeiam a sede de um jornal proletário, os operários devem contestar filosoficamente: “Ah, os assassinatos e os incêndios são produtos do sistema capitalista”, e voltar para casa com a consciência tranqüila. A prostração fatalista substitui a teoria militante de Marx, com vantagem, unicamente, para o inimigo de classe. Certamente, a ruína da pequena burguesia é produto do capitalismo. O crescimento dos grupos fascistas é, por sua vez, produto da ruína da pequena burguesia. Mas, por outro lado, o aumento da miséria e da revolta do proletariado é também, por sua vez, produto do capitalismo, e a milícia, produto da exacerbação da luta de classes. Então, por que para os “marxistas” de L Humanité os grupos fascistas são produto legítimo do capitalismo e a milícia do povo produto ilegítimo… dos trotskistas? Decididamente, não se pode entender nada disso.

Dizem-nos: é necessário enfrentar todo o “sistema”. Como? Passando sobre a cabeça de seres humanos? No entanto, os fascistas começaram pelos tiros e terminaram com a destruição de todo o “sistema” das organizações operárias. Como deter a ofensiva armada do inimigo senão por meio de uma defesa armada, para depois passar à ofensiva?

Certamente L’Humanité admite, em palavras, a defesa, mas somente como “autodefesa de massas”: a milícia é prejudicial porque, veja você, separa os destacamentos de combate das massas. Mas, então, por que entre os fascistas existem destacamentos armados independentes que não se separam das massas reacionárias, pelo contrário, através de seus golpes bem organizados aumentam a coragem dessas massas e reforçam sua audácia? Ou as massas proletárias são, talvez, por suas qualidades combativas, inferiores à pequena burguesia desqualificada?

Confuso até o fim, L’Humanité começa a hesitar: a autodefesa de massas precisa criar seus “grupos de autodefesa”. Em lugar da milícia repudiada se colocam grupos especiais, destacamentos. À primeira vista, parece que a diferença é apenas de nome. Na verdade, sequer o nome proposto por L Humanité vale alguma coisa. Pode-se falar de “autodefesa de massas”, mas é impossível falar de “grupos de autodefesa”, pois os grupos não têm por objetivo defender-se, e sim as organizações operárias. No entanto, não se trata, certamente, de nome. Os “grupos de autodefesa”, segundo L Humanité, devem renunciar ao uso de armas, para não caírem no “putchismo“. Estes sábios tratam a classe operária como uma criança em cujas mãos não se deve deixar uma navalha. Além disso, como se sabe, as navalhas são monopólio dos Camelots du Roi que, como legítimo “produto do capitalismo”, derrubaram o “sistema” da democracia. Mas, então, como os “grupos de autodefesa” vão se defender contra os revólveres fascistas? “Ideologicamente”, é claro. Dito de outro modo: não lhes resta outro remédio que ir dormir. Não tendo em mãos o que lhes falta, devem buscar a “autodefesa” nas pernas. Enquanto isso, os fascistas saquearão impunemente as organizações operárias. Mas, se o proletariado sofrer uma terrível derrota, ao menos não terá sido culpado de “putchismo!” Desgosto e desprezo: isto é o que provoca essa tagarelice de poltrões sob a bandeira do “bolchevismo”.

Já no tempo do “terceiro período”, de feliz memória, quando os estrategistas do L’Humanité tinham o delírio das barricadas, “conquistavam” a rua todos os dias e chamavam de social-fascistas todos os que não compartilhavam de suas extravagâncias, prevíamos: “No momento em que queimarem a ponta dos dedos, se tornarão os piores oportunistas.” A profecia se confirmou completamente agora. No momento em que no partido socialista se reforça e cresce o movimento em favor da milícia, os chefes do partido que se chama comunista correm a pegar a mangueira de incêndio para esfriar as aspirações dos operários de vanguarda a formar colunas de combate. É possível imaginar um trabalho mais nefasto e desmoralizante?

É Preciso Construir a Milícia Operária

Nas fileiras do partido socialista, às vezes escuta-se esta objeção: “É necessário formar a milícia, mas não há necessidade de se falar tão alto.” Não se pode senão felicitar os camaradas que têm o cuidado de subtrair o lado prático do assunto a olhos e ouvidos indesejáveis. Mas é demasiadamente ingênuo pensar que se pode criar a milícia em segredo, entre quatro paredes. Precisamos de dezenas e, em seguida, de centenas de milhares de combatentes. Eles só virão se milhões de operários e operárias, e atrás deles também os camponeses, compreenderem a necessidade da milícia e criarem, em torno dos voluntários, um clima de ardente simpatia e de apoio ativo. A clandestinidade pode e deve envolver unicamente o lado técnico do assunto. Enquanto campanha política, deve desenrolar-se abertamente nas reuniões, nas fábricas, nas ruas e praças públicas.

Os quadros fundamentais da milícia devem ser os operários fabris, agrupados segundo o lugar de trabalho, uns e outros se conhecendo e sendo capazes de proteger seus destacamentos de combate contra as provocações de agentes inimigos com muito mais facilidade e segurança que os burocratas mais educados. Sem a mobilização aberta das massas, os estados-maiores clandestinos ficarão suspensos no ar no momento do perigo. necessário que todas as organizações operárias ponham mãos à obra. Nesta questão não pode haver uma linha divisória entre os partidos operários e os sindicatos. Ombro a ombro, devem mobilizar as massas. Assim, o êxito da milícia operária estará plenamente assegurado.

“Mas de onde os operários vão tirar armas?” objetam os sérios “realistas”, isto é, os filisteus assustados. O inimigo de classe tem os fuzis, os canhões, os tanques, os gases, os aviões; os operários têm apenas revólveres e facas.

Nesta objeção, mistura-se tudo para assustar os operários. Por um lado, nossos sábios identificam o armamento dos fascistas com o armamento do Estado; por outro, se voltam para o Estado, suplicando que desarme os fascistas. Admirável lógica! Na verdade, sua posição é falsa nos dois casos. Na França, os fascistas ainda estão longe de ter-se apoderado do Estado. Em 6 de fevereiro, entraram em confronto armado com sua polícia. Por isso é falso falar de canhões e tanques quando se trata no imediato da luta armada contra os fascistas. Os fascistas, evidentemente, são mais ricos que nós, e podem comprar armas mais facilmente. Contudo, os operários são mais numerosos, mais decididos, mais devotados, ao menos quando contam com uma direção revolucionária firme. Entre outras fontes, os operários podem armar-se à custa dos fascistas, desarmando-os sistematicamente. Atualmente, esta é uma das formas mais sérias de luta contra o fascismo. Quando os arsenais operários começarem a se encher a expensas dos depósitos fascistas, os bancos e os trustes se tornarão mais prudentes ao financiar o armamento de seus guardas assassinos. Pode-se mesmo admitir que nesse caso – mas só nesse caso – as autoridades, alarmadas, começarão realmente a impedir o armamento dos fascistas, para não oferecer uma fonte suplementar de armamento aos operários. Há muito se sabe que somente uma tática revolucionária gera, como produto acessório, “reformas” ou concessões do governo.

Mas como desarmar os fascistas? Naturalmente, é impossível fazê-lo unicamente por meio de artigos nos jornais. É preciso criar esquadras de combate. É preciso criar os estados-maiores da milícia. É preciso instituir um bom serviço de informações. Milhares de informantes e auxiliares voluntários se aproximarão de nós quando compreenderem que encaramos o assunto com seriedade. É necessária uma vontade de ação proletária.

Mas os armamentos fascistas não são, naturalmente, a única fonte. Na França, há mais de um milhão de operários organizados. De um modo geral, é pouco, porém mais que suficiente para iniciar uma milícia operária. Se os partidos e sindicatos armassem somente a décima parte de seus membros, já haveria uma milícia de 100 mil homens. Não há dúvidas de que o número de voluntários, no dia seguinte à convocação da Frente única para se formar a milícia, ultrapassaria de longe esse número. As cotizações dos partidos e dos sindicatos, as coletas e contribuições voluntárias dariam a possibilidade de, em um ou dois meses, assegurar armas a 100 mil ou 200 mil combatentes operários. A canalha fascista colocaria rapidamente o rabo entre as pernas. Toda a perspectiva do momento se tornaria incomparavelmente mais favorável.

Invocar a ausência de armamento ou outras causas objetivas para explicar por que ainda não se começou a criação da milícia é enganar-se a si mesmo e aos demais. O principal obstáculo, pode-se dizer o único, está no caráter conservador e passivo das organizações operárias dirigentes. Os céticos que as chefiam não acreditam na força do proletariado. Colocam sua esperança em todo tipo de milagres vindos do alto, em vez de dar uma saída revolucionária à energia daqui debaixo. Os operários socialistas devem forçar seus chefes, seja a passar imediatamente à criação da milícia do povo, seja a ceder lugar para forças mais jovens e frescas.

O Armamento do Proletariado

Um greve é inconcebível sem propaganda e agitação, mas também sem piquetes que, onde puderem, atuem através da persuasão, e onde se virem obrigados, recorram à força física. A greve é a forma mais elementar da luta de classes, na qual se combinam sempre, em proporções variáveis, os procedimentos “ideológicos” e os físicos. A luta contra o fascismo é, na sua essência, uma luta política, que requer uma milícia do mesmo modo que uma greve exige piquetes. No fundo, o piquete é o embrião da milícia operária. Aquele que pensa ser necessário renunciar à luta física deve renunciar a toda luta, pois o espírito não vive sem a carne.

De acordo com a magnífica expressão do teórico militar Clausewitz, a guerra é a continuação da política por outros meios. Esta definição também se aplica plenamente à guerra civil. A luta física não é senão um dos “outros meios” da luta política. É impossível opor uma à outra, porque é impossível deter arbitrariamente a luta política quando se transforma, pela força de suas necessidades internas, em luta física. O dever de um partido revolucionário é prever a inevitabilidade da transformação da luta política em conflito armado declarado e preparar-se com todas as suas forças para esse momento, como para ele se preparam as classes dominantes.

Os destacamentos da milícia para a defesa contra o fascismo são os primeiros passos no caminho do armamento do proletariado, e não o último. Nossa palavra de ordem é: “Armamento do proletariado e dos camponeses revolucionários”. A milícia do povo, no fim das contas, deve abarcar todos os trabalhadores. Não será possível cumprir esse programa completamente, a não ser no Estado operário, para cujas mãos passarão todos os meios de produção e, conseqüentemente, também os meios de destruição, isto é, os armamentos e todas as fábricas que os produzem.

No entanto, é impossível chegar ao Estado operário com as mãos vazias. Somente os políticos inválidos, do tipo de Renaudel, podem falar de uma via pacífica, constitucional, para o socialismo. A via constitucional está cortada por trincheiras ocupadas pelos grupos fascistas. Há muitas dessas trincheiras diante de nós. A burguesia não vacilará em provocar uma dúzia de golpes de Estado para impedir a chegada do proletariado ao poder. Um Estado operário socialista não pode ser criado senão por uma revolução vitoriosa. Toda revolução é preparada pela marcha do desenvolvimento econômico e político, mas é decidida sempre por conflitos armados declarados entre as classes hostis. Uma vitória revolucionária não é possível a não ser graças a uma ampla agitação política, a um amplo trabalho de educação, uma ampla tarefa de organização das massas. Mas o próprio conflito armado também deve ser preparado com muita antecedência. Os operários devem saber que terão de bater-se numa luta de morte. Devem querer armar-se, como garantia de sua liberação. Em uma época tão crítica quanto a atual, o partido da revolução deve pregar aos operários, incansavelmente, a necessidade de armar-se e de fazer tudo o que possam para assegurar, pelo menos, o armamento da vanguarda proletária. Sem isso, a vitória é impossível.

Mas de onde tirar armas para todo o proletariado? objetam novamente os céticos, que tomam sua inconsistência interior por uma impossibilidade objetiva. Esquecem que a mesma questão foi colocada em todas as revoluções ao longo da história. E, apesar de tudo, as revoluções triunfantes marcam etapas importantes no desenvolvimento da humanidade.

O proletariado produz armas, transporta-as, constrói os arsenais em que são depositadas, defende esses arsenais contra si mesmo, serve no exército e cria todo o equipamento deste último. Não são fechaduras nem muros que separam as armas do proletariado, mas o hábito da submissão, a hipnose da dominação de classe, o veneno nacionalista. Basta destruir esses muros psicológicos e nenhum muro de pedra resistirá. Basta que o proletariado queira ter armas e as encontrará. A tarefa do partido revolucionário é despertar no proletariado essa vontade e facilitar sua realização.

Eis porém que Frossard e algumas centenas de parlamentares, jornalistas e funcionários sindicais assustados lançam seu último argumento, o de mais peso: “Podem as pessoas sérias, em geral, pôr suas esperanças no êxito da luta física depois das últimas experiências trágicas da Áustria e da Espanha? Pensai na técnica atual: os tanques! os gases! os aviões!!!” Este argumento demonstra somente que algumas “pessoas sérias” não só não querem aprender nada como, medrosas, esquecem o pouco que aprenderam em outros tempos. A história dos últimos vinte anos demonstra, de modo particularmente claro, que os problemas fundamentais nas relações entre as classes, assim como entre as nações, são resolvidos pela força. Os pacifistas esperaram durante muito tempo que o progresso da técnica militar tornasse a guerra impossível. Durante décadas, os filisteus repetiram que o progresso da técnica militar tornaria impossível a revolução. No entanto, guerras e revoluções seguem seu caminho. Nunca houve tantas revoluções, até mesmo revoluções vitoriosas, como depois da última guerra, que exatamente revelou toda a força da técnica militar.

Sob a forma de novidades, Frossard e Cia. apresentam velhos esquemas: se limitam a invocar, em lugar de fuzis automáticos e metralhadoras, tanques e aviões de bombardeio. Respondemos: atrás de cada máquina há homens, e esses homens não são apenas instrumentos técnicos, mas possuem também laços sociais e políticos. Quando o desenvolvimento histórico coloca diante da sociedade uma tarefa revolucionária inadiável, como questão de vida ou morte, quando existe uma classe progressiva a cuja vitória se encontra ligada a salvação da sociedade, a própria marcha da luta política abre diante dela as possibilidades mais diversas: assim que paralisar a força militar do inimigo, apoderar-se dela, ao menos parcialmente. Na consciência de um filisteu, essas possibilidades se apresentam sempre como “êxitos ocasionais”, devidos ao acaso, que nunca mais se repetirão. De fato, em toda grande revolução verdadeiramente popular, abre-se todo tipo de possibilidade, nas combinações mais inesperadas, porém no fundo completamente naturais. Mas, apesar de tudo, a vitória não se produz por si mesma. Para utilizar as possibilidades favoráveis, é preciso uma vontade revolucionária, uma firme resolução de vencer, uma direção sólida e audaciosa.

L’Humanité admite, em palavras, a bandeira “armamento dos operários”, mas só para renunciar a ela na prática. Atualmente, neste período, é inadmissível lançar uma palavra de ordem que não é oportuna senão em “plena crise revolucionária”. É perigoso carregar o fuzil, diz o caçador excessivamente “prudente”, enquanto não vê a presa. Mas, quando a avista, é tarde demais para carregar o fuzil. Os estrategistas de L’Humanité pensam que, “em plena crise revolucionária” poderão, sem preparação, mobilizar e armar o proletariado? Para conseguir muitas armas é preciso ter ao menos algumas. É preciso quadros militares. É preciso que as massas tenham o desejo invencível de apoderar-se das armas. É preciso um trabalho preparatório ininterrupto, não só nas salas de ginástica, mas indissoluvelmente ligado à luta cotidiana das massas. Isto quer dizer: é preciso construir imediatamente a milícia e, ao mesmo tempo, fazer propaganda em favor do armamento geral dos operários e dos camponeses revolucionários.

 

 

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