Entre segunda-feira (8) e quarta-feira (10), mais de 600 estudantes beneficiários das cotas raciais, que foram selecionados para o segundo semestre letivo na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), tiveram que comparecer perante a Comissão Complementar, à Autodeclaração, para validarem seus respectivos registros de matrícula.
Tal comissão realiza a denominada “hetero-identificação”, isto é, um procedimento por meio do qual uma banca, designada pela reitoria da universidade, analisa se o estudante possui as características fenotípicas (cor da pele, cor e textura do cabelo, formato do nariz e dos lábios etc.) associadas ao povo negro.
Esse verdadeiro tribunal racial foi instaurado sob a justificativa do já gasto argumento do “combate às fraudes” no sistema de ingresso da universidade, um argumento que serve de pretexto — ao estilo do “combate à corrupção”, da “luta pela moralidade”, tão utilizado, por exemplo, pela golpista e farsesca Operação Lava Jato — para a realização de objetivos políticos que não são declarados abertamente.
No caso em questão, o objetivo político é, claramente, sabotar e desmoralizar o sistema de cotas raciais, tendo em vista bloquear a entrada do negro na universidade, ou simplesmente expulsá-lo de lá, e, em última análise, atacar e reprimir o movimento negro e estudantil de conjunto.
A direita golpista sempre lutou para acabar com a política de cotas. Com a subida do fascista Jair Bolsonaro ao poder, essa luta ganhou ainda mais força, e os ataques tornaram-se mais agressivos e mais amplos.
Os ministros da Educação de Bolsonaro, o já demitido Vélez Rodríguez e o atual Abraham Weintraub, fizeram questão de deixar claro suas opiniões e a linha política que seguirão — para eles, a universidade deve ser privilégio de uma “elite”, dos membros abastados da sociedade, dos filhos da burguesia e da pequena-burguesia endinheirada, e os negros, os pobres e a juventude operária e popular não devem entrar na universidade. A universidade pública e gratuita deve ser desmontada, já que, como dizem, é espaço de “balbúrdia”, e as universidades privadas, com suas altas mensalidades e público branco e elitizado, devem dominar o ensino do país.
É preciso denunciar mais esse ataque ao povo negro. É preciso denunciar o pretexto do “combate às fraudes”, expondo as reais intenções da direita fascista com relação às universidades e ao movimento negro. É preciso defender a derrubado do governo Bolsonaro e de todos os golpistas.