A vontade das direções da esquerda pequeno-burguesa em esconder a palavra de ordem de “fora Bolsonaro” é quase tão grande quanto a vontade das massas que saem na rua pedindo a saída do governo ilegítimo e fraudulento. Tão situação mostra a distância cada vez maior entre o povo e a cúpula da maior parte dos partidos e organizações da esquerda pequeno-burguesa, que insistem na via institucional, no eleitoralismo e no parlamentarismo cretino. Tudo isso, em suma, representa uma política de sustenção do governo e do regime golpista de conjunto.
Em artigo para a revista Fórum, Valério Arcary tenta entender o que está acontecendo no País, mostrando o que para ele significa “três táticas da esquerda diante do governo”. Arcary é um tradicional dirigente do PSTU, mas que hoje se encontra no PSOL, depois de ter passado vergonha, junto com seus ex-correligionários, ao dizer que não havia “perigo de golpe no País” e que, portanto, “o PT era igual ao PSDB e a Temer” e outras coisas dessa natureza. A realidade acabou atropelando Arcary e boa parte do PSTU que acabou saindo do partido, criando uma corrente nova, que desde o anos passado se encontra no PSOL, o partido parece mais adequado para continuar com uma política parecida com a do PSTU, só que mais disfarçada.
Em primeiro lugar, em seu artigo, Arcary não chega a uma conclusão clara sobre qual das tais três táticas seria mais correta. Mas sabemos qual para ele não somente seria errada: o fora Bolsonaro. Não pelo que Arcary e sua corrente dentro do PSOL, na verdade a quase totalidade do PSOL, dizem defender, mas efetivamente pela sua política prática.
O fora Bolsonaro, que é o que o povo pede cada vez mais em alto e bom som nas ruas, não é parte da política dessa esquerda. Ao escrever um artigo sem maiores conclusões, apenas para apontar as tais três táticas, Arcary está nos dizendo que embora alguns por aí queiram derrubar o governo e achem que as condições para isso estão dadas, haveria também, em pé de igualdade, a “tática” de esperar até 2022 aceitando o governo que está aí ou a “outra tática”, que também é esperar até 2022 fazendo campanha parlamentar de baixa intensidade para “desgastar o governo”.
No final das contas, Arcary esconde que há apenas duas políticas: ou se derruba o governo, chamando as massas a derrubar todo o regime golpista, ou se sustenta esse governo fraudulento que cada vez mais tende a uma ditadura contra o povo.
O artigo com ar acadêmico de Arcary, como quem está simplesmente descrevendo as posições políticas dentro da esquerda, como se ele não fosse parte de uma corrente e de um partido que têm política determinada, serve para esconder o fato de que nem ele nem seu partido querem o fora Bolsonaro.
É uma capitulação diante do governo golpista, diante do presidente fascista que foi eleito depois de uma fraude escancarada. Se Arcary não conclui seu artigo, as conclusões tiramos por ele.