Diferente do que alguns políticos e dirigentes esportivos brasileiros defendem a situação da covid-19 na Alemanha está longe de estar sobre o controle isto se revela na divulgação de três novos surtos afastados entre si mais de 130 km. Um foi descoberto em um bloco residencial em um subúrbio de Berlim, Neukölln, descoberto no dia 13 de junho que identificou mais de 100 pessoas infectadas, na sua grande maioria imigrantes; outro, descoberto no dia 17, foi em frigorífero da empresa Tonnies. maior processadora de carne do País, na cidade Gutersloh no estado da Renânia do Norte-Vestfália com mais de 1500 contaminados sem esquecer o mais antigo descoberto em 3 de junho em Göttingen na Baixa Saxônia que já conta com mais de 120 contaminados em um outro conjunto residencial de baixa renda onde vivem 700 pessoas
Assim vemos que o Estado europeu que teria tido o melhor desempenho contra a epidemia volta a ter de encarar este desafio. Contudo não é só isto porque se na chamada “primeira onda” as pessoas transmissoras do Corona vírus eram das classes mais abastadas ou envolvidas em atividades que exigiam viagens internacionais, agora quem está sendo afetado são os imigrantes pobres, residentes em grandes conjuntos habitacionais, e os trabalhadores envolvidos em condições propícias para a disseminação do vírus.
A reportagem da jornalista Clarice Neher na sua coluna Checkpoint Berlim da Deutsche Welle é destacada uma situação de desigualdade social que qualquer leitor dos clássicos de Frederick Engels, como Situação da Classe trabalhadora na Inglaterra ou Sobre a questão da moradia não se espantaria. Só que a pandemia deixa isto mais evidente. Mostra como o Estado e a Burguesia tratam a classe operária. Portanto o elogiado governo alemão tem tomado medidas extremamente duras com pessoas que já vivem em condições difíceis, assumindo uma postura diferente de quando os casos ocorriam em áreas nobres das cidades alemães.
Igualmente a diferença do tratamento que o governo alemão, mesmo em seus diversos níveis administrativos, concedeu aos clubes de futebol em comparação às instalações industriais principalmente as alimentícias. Por exemplo, a cidade de Dresden proibiu um jogo da segunda divisão alemã uma vez que o Dinamo Dresden revelou que tinha três jogadores testado positivo para a covid-19, enquanto a instalação frigorifica da Tonnies precisou ter 600 casos para ser fechada no dia 17 de junho por 14 dias. Atualmente já identificaram aproximadamente 1500 casos e dois distritos da região, Güttesloh e Warendorf, tiveram de tomar medidas restritivas como fechamento de cinemas, teatros, escolas e creches e a proibição de manifestação mesmo que seja para reclamar desta empresa capitalista que por utilizar terceirizados oriundos do leste europeu, principalmente Polônia, Romênia e Bulgária, não soube informar os endereções de 30 % dos 6500 operários daquela unidade. Mais uma dificuldade para o rastreio de possíveis infectados. Cabe a reflexão que não é uma surpresa o aparecimento de surtos com grande quantidade de pessoas nos frigoríferos isto ocorreu em todos os lugares do mundo à medida que a propagação do vírus foi ocorrendo, entretanto os capitalistas e seus representantes no governo procuram escamotear o problema até que se torne impossível mais uma prova da crise capitalista mundial.
Em relação aos conjuntos habitacionais, Neher destaca que são locais que concentram uma grande parcela de imigrantes . muitos que nem dominam o alemão e por receberem baixos salários e pela dificuldade de serem aceitos, grupos de dez pessoas, incluindo crianças e mulheres, residem em apartamentos alugados de dois quartos com dependências. Administração Pública isolou os conjuntos habitacionais sem a possibilidade de separar as pessoas que testassem negativos caso estas desejassem ou tivesse alguma opção de ir para outro lugar bem como as que tivessem positivas pudessem ir para um hotel ou um abrigo onde pudesse ter um apoio diferenciado para cumprir a quarentena. Para garantir a quarentena foram colocadas grades metálicas e em Göttingen as portas foram bloqueadas com represália dos moradores terem cortado as grades. Em Neukölln somente que trabalha na área de saúde ou vai passear com um cachorro é permitido se ausentar da habitação.
No final do seu artigo, Clarice Neher se pergunta se a pandemia trará uma resposta positiva para as questões do trabalho e da moradia para a classe operária. A superação efetiva da crise econômica e sanitária na Alemanha, na Europa e no mundo só poderá ocorrer como aponta Marx e Engels quando a classe operária mundial alcançar a sua consciência política e tomar as rédeas do seu destino.