Segundo estudo produzido pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), a renda média da classe trabalhadora sofreu perdas da ordem de R$53 bilhões somente no mês de maio, em decorrência da crise impulsionada pelo coronavírus.
Para chegar a este número, o técnico do Ipea Sandro Sacchet baseou-se nos dados produzidos no último Pnad Contínua e também no Pnad COVID-19, ambas as pesquisas produzidas pelo IBGE. Sacchet considerou os salários perdidos com o desemprego, a perda da renda percebida pelos informais e autônomos e também as reduções salariais ocorridas.
Ainda segundo a pesquisa divulgada pelo Ipea, em média, os trabalhadores com carteira assinada receberam 92% do total recebido anteriormente, isto é, até o mês de abril. Entre os empregados sem carteira assinada, a redução nos salários atingiu uma média de 24% e finalmente, entre os informais, o setor mais explorado da classe trabalhadora, o rendimento percebido ficou em 60% do total anterior. Com isso, a massa salarial média dos trabalhadores saiu de R$210 bilhões em abril para R$158 bilhões em maio.
O estudo em questão não leva em conta o peso da inflação sobre os custos de vida da população, por isso, ele serve para ilustrar o vertiginoso processo de empobrecimento da classe trabalhadora, contudo, sem fornecer detalhes mais concretos dos dramas experimentados pelos trabalhadores, que aumentam com o aprofundamento da depressão econômica.
Nesse sentido, o próprio Ipea publicou recentemente outro estudo revelador sobre a alardeada propaganda da “deflação”. Seguindo o consenso demonstrando pelo cotidiano dos trabalhadores, a deflação (isto é, a redução nos valores praticados no mercado) é um fenômeno percebido apenas na faixa de renda superior a R$15 mil mensais. Entre os pobres, a alta dos alimentos (4,3% nos primeiros cinco meses do ano) não pode ser compensada pela redução de 39,4% no preço médio das passagens aéreas, o que é naturalmente uma obviedade.
Estes dados colocam mais evidência sobre o caráter selvagem da luta de classes no Brasil, na medida em que evidenciam também o gigantesco contraste entre a fortuna trilionária dispensada dos cofres públicos para os grandes capitalistas (supostamente para manter os empregos e os salários dos trabalhadores durante a crise) e o empobrecimento generalizado da população, que nada recebe do governo além de uma esmola (que inclusive dividem com amplos setores da burguesia e da pequena burguesia) que mal paga uma cesta básica na maioria das capitais brasileiras. Fica claro que no centro de toda a situação está a luta política, evidenciando também a necessidade urgente de se derrubar o regime golpista de Bolsonaro, de modo a se estabelecer um regime político dedicado aos interesses da classe trabalhadora.