Enquanto o coronavírus se espalha pelo país se tornando um problema cada vez mais incontrolável, as equipes de saúde denunciam a falta de equipamentos de proteção e até itens básicos. Desde o começo da crise representantes sindicais e os próprios profissionais – enfermeiros, médicos, técnicos – denunciam e pedem providências urgentes a prefeituras, estados e à União.
Em Pernambuco a presidente do Sindicato dos Enfermeiros (SEEPE), Ludmila Outtes, denuncia a precariedade e risco a que os profissionais estão expostos “o problema não é de hoje, mas se agravou com o coronavírus. Nós estamos na linha de frente e não podemos aceitar falta de máscaras, aventais e até sabão”. No dia 21 os trabalhadores anunciaram uma greve pelo descaso geral e pela falta de equipamentos na atual crise, porém foram reprimidos pelo TJ-PE que julgou liminar pela suspenção do movimento acatando pedido do governo do Estado.
No Rio Grande do Sul as denúncias das equipes de saúde sobre a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs) já ultrapassam 500. Em nota o Sindisaude-RS denuncia: “Chegamos ao Clínicas e os trabalhadores na entrada da Emergência do hospital não tinham equipamento de proteção para recepcionar pacientes – lembrando que não é possível saber se quem chega no hospital está com o vírus. Além disso, também não vimos luvas. Os trabalhadores da saúde precisam ser cuidados nesse momento porque são eles que vão ajudar a salvar vidas!”. O sindicato criou ainda uma página dedicada a acolher as denúncias pelos profissionais da área, com certeza o único meio de saber, de fato, o que está acontecendo: (http://www.sindisaude.org.br/).
Já em Macapá, a situação é tão crítica que médicos, enfermeiros e equipes de limpeza impulsionam uma campanha pedindo à população que ajude doando EPIs (luvas, máscaras, óculos de proteção, álcool em gel, toucas), macacões e aventais e até mesmo materiais de limpeza.
No Rio e em São Paulo, estados em que a Covid-19 tem maior número de infectados, a falta de pessoal problema crônico se soma à falta de EPIs, aumentando exponencialmente os riscos aos trabalhadores, sendo vários casos de infecção por dia. O SindEnf-RJ ingressou com ação na justiça do trabalho e obteve liminar, nesta sexta 27/03, determinando o fornecimento imediato de EPIs a todas Organizações Sociais da área da saúde aos trabalhadores. O sindicato denuncia que, só na capital, faltam cerca de 111 enfermeiros e 288 técnicos. Em São Paulo, os problemas da escassez de EPIs somados à falta de pessoal, enfermeiros e técnicos principalmente, ampliam as denúncias de aumento substancial da carga horária das equipes de saúde, estresse, aumentando a exposição e risco de contaminação em múltiplas vezes.
Em Belo Horizonte, o SEE-MG denuncia que já há casos de enfermeiros afastados por suspeita de contaminação, por terem contato com pacientes que faleceram por coronavírus, inclusive tendo contato com pacientes vindos do exterior. Tudo isso sem as mínimas condições de proteção.
O problema é geral e toma conta das unidades de saúde do país. Na rede pública o problema é pior por conta dos vários anos de ataques que o SUS sofre, com cortes, redução de pessoal e falta de investimentos em equipamentos e nas estruturas das unidades de saúde, problema que aumentou sobremaneira após o golpe de 2016, em que o governo do golpista Michel Temer aprovou a famigerada Emenda Constitucional nº 95 que congelou investimentos, inclusive na saúde.
Assim, apesar de toda a demagogia que tomou conta das três esferas do poder público no momento, fazendo inclusive campanhas demagógicas de “é hora de unir o país”, “todos pela saúde”, homenagens às equipes de saúde, etc. A realidade é que as equipes de saúde estão sendo jogadas na linha de frente, usadas como principal “ferramenta” do Estado para combater a expansão da pandemia, mas estão fazendo isso completamente desamparadas, sendo obrigadas a trabalharem com um alto risco, administrarem os riscos de contágio próprio, dos colegas e dos pacientes e, também, de suas famílias. É uma política verdadeiramente criminosa dos governos.