Muito além das mensagens adolescentes no twitter, dos discursos atrapalhados ou da promoção de iniciativas inócuas, Bolsonaro e seu governo representam um mal real para o país e, em particular, para os trabalhadores.
São muitos os ataques promovidos pelo governo, desde a entrega de recursos e de empresas nacionais, como foi o caso da Embraer e o sucateamento da Petrobrás, à promoção da violência contra movimentos sociais e partidos de esquerda, passando por propostas como o pacote anticrime de Sérgio Moro, o desmonte do Ibama, do Instituto Chico Mendes, da Funai, de órgãos de defesa dos Direitos Humanos, de fomento à cultura, até a promoção do fim das pesquisas científicas, do desenvolvimento cientifico no país, da educação pública em todos os níveis.
Não há sinais de que o desemprego vá ser objeto de uma política concreta nem que o setor produtivo retome os níveis dos últimos 10 anos. O comércio vai ma e nossa comida será, cada vez mais, envenenada.
E a reforma da Previdência promete promover o maior roubo de recursos públicos dos últimos tempos e, na prática, impossibilitar a aposentadoria da maior parte da população, retirando direitos de idosos e de pessoas com deficiência, reduzindo ou eliminando pensões, aumentando o tempo de serviço e a idade mínima para aposentadoria, penalizando as mulheres e os trabalhadores do campo de uma forma cruel.
Além disso, a promessa de metralhar petralhas, de desconstruir o país – o que implica criminalizar os movimentos sociais e a esquerda – mal começou a ser efetivada. Os ataques mais recentes às universidades públicas, visando professores e estudantes, vistos como inimigos do governo e de um projeto de país violento, desigual, autoritário, são apenas uma peça nesse jogo para desconfigurar de vez o país desenhado na Constituinte 1987/88.
É por esse motivo que não se pode conceber o enfrentamento ao governo Bolsonaro por meio reivindicações parciais. Evidentemente, elas podem ser levantadas, e devem ser levantadas. Mas não podem ser um fim em si mesmo, nem iludir a militância sobre seu sentido.
É preciso que os protestos realizados daqui em diante tenham, cada vez mais, com um eixo central, uma proposta política para a crise do país. Mas, diferente do que advogam alguns membros da esquerda pequeno-burguesa, para isso é necessário e urgente exigir Fora Bolsonaro!,
É isso que, nas ruas, tem se mostrado capaz de unificar todas as pautas e é o que pode evitar uma dispersão do movimento que está crescendo contra o governo.
Não há como a esquerda justificar sua inação e não montar sua estratégia de enfrentamento sem incluir o Fora Bolsonaro.
Não é possível convencer ninguém que se está combatendo o governo golpista de Bolsonaro, nascido da fraude eleitoral de 2018, afirmando que ele é legitimo.
Não há como honestamente se apresentar como oposição a Bolsonaro sem pressionar por sua saída, pelo fim de seu governo.
O governo de extrema-direita não vai ser convencido a ser menos violento, a não perseguir e buscar a eliminação, física inclusive, de seus adversários. Bolsonaro não vai se converter nem à direita, muito menos à esquerda. Mas parece que a esquerda quer se transformar em esteio do governo que anunciou a destruição do país.
Sim, lutar pela educação pública, pela ciência, pelo financiamento do desenvolvimento científico, pelo meio ambiente, pela cultura, por mais emprego, contra a desigualdade, mas, no contexto do governo autoritário, fruto de um golpe, essa luta deve ter como centro, ainda, a derrota do próprio golpe, ou seja, derrotar Bolsonaro e seu governo.
O PSDB, o PMDB e o DEM, junto com outros partidos de direita como o PP, e alguns que se intitulam de esquerda como o PSB e o PPS, conceberam e executaram, com o financiamento de parte do empresariado nacional e com a coordenação da grande imprensa, o golpe de 2016. Atores internacionais agiram para amplificar a crise política e promover a criminalização de partidos e movimentos sociais, de forma a tornar mais palatável aquele golpe.
São esses os mesmos elementos que hoje, depois de terem falhado em eleger um dos seus e fechar a conta do Golpe, trabalham para a manutenção, tutelada, do governo Bolsonaro. E a esquerda golpeada se entrega a esse jogo, negando o Golpe e agindo como se acreditasse que não vivemos num Estado de Exceção.
Apesar disso, nas ruas, nas mobilizações, está claro que não há forma de compor com o governo. Fora Bolsonaro tornou-se a palavra de ordem mais constante e a que melhor sintetiza o sentimento da maior parte da população.
Unificar a luta é promover o Fora Bolsonaro.