De acordo com o Ministério da Economia, a PEC do Teto de Gastos (2016) – que congelou investimentos públicos por 20 anos – e a reforma da Previdência (2019), fizeram com que R$ 900 bilhões em juros fossem “economizados” pelo governo federal nos últimos 50 meses (4 anos). A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia chegou a esses números estimando a taxa de juros implícita da dívida líquida do governo. O valor corresponde a 2,97% do Produto Interno Bruto (PIB) e mais de 28 vezes o valor anual do Bolsa Família, que está em aproximadamente em R$ 32 bilhões e mostra que ambas as medidas aprovadas pelos governos golpistas de Temer e Bolsonaro serviram para salvar os banqueiros da crise econômica.
Os técnicos do Ministério da Economia, buscando “mostrar serviço”, comemoraram essa “economia”, o que comprova que as duas reformas – que retiraram direitos e impactaram negativamente nas políticas públicas – foram efetivas para reduzir a taxa de juros paga pelo governo central em função da dívida pública. No entanto, acabaram deixando escapar que essa queda tem muito a ver com a queda da taxa de juros internacional.
Resta saber para onde foi esse dinheiro economizado, que foi retirado diretamente do bolso dos trabalhadores (Previdência) e indiretamente de toda a população (redução de investimentos sociais). A título de comparação, o dinheiro “economizado” pelos golpistas seria suficiente para pagar o auxílio emergencial de R$ 600 para 30,1 milhões de trabalhadores desde novembro de 2016!
Antes mesmo que a pandemia do coronavírus pudesse fazer efeito sobre a economia brasileira, o governo federal transferiu para o bolso dos bancos R$ 1,216 trilhão, valor correspondente a 16,7% do PIB. Recursos que eram destinados a “manter a liquidez do sistema” e fazer com que os bancos aumentassem seus empréstimos às empresas. Valor substancialmente superior ao que o Banco Central havia transferido para os bancos na crise mundial de 2008, segundo o Estadão (23/3/20).
Acontece que os bancos não emprestaram às empresas, mas estocaram esse dinheiro e ainda por cima deixaram esses valores sendo remunerados pelo próprio Banco Central. Do total transferido para os bancos em março de 2020, somente R$ 50,4 bilhões foram emprestados, segundo a Auditoria Cidadã da Dívida.
Esse comportamento dos bancos pressionou o governo a dar-lhes mais vantagens. Em maio o Congresso Nacional aprovou a PEC 10/20 que possibilitou ao Banco Central gastar mais de 1 trilhão de reais na compra de títulos podres dos bancos, que estavam em poder dessas empresas desde a crise de 2008. Além disso, os empréstimos dos pequenos e médios empresários passaram a ter a garantia do Tesouro Nacional e o Banco Central começou a pressionar o governo e o Congresso Nacional a isentá-lo de responsabilidade administrativa e criminal sobre operações realizadas. Essa história continuou até a aprovação da independência do Banco Central, que passou a ficar inteiramente nas mãos dos banqueiros.
O que foi visto no ano passado foi um assalto à mão armada (com a garantia dos militares) dos cofres públicos. Uma parcela significativa do PIB foi depositado nos cofres particulares dos bancos, que ainda levaram de lambuja a própria “independência” do Banco Central.
Foi o primeiro episódio de uma novela que vai continuar sangrando a economia nacional e os recursos dos trabalhadores. Enquanto as políticas sociais são desmontadas, as empresas públicas são privatizadas, o país diminui por conta das centenas de milhares de mortes – devido à política genocida dos golpistas na pandemia. O PIB tem a 3ª pior queda da história, o desemprego atinge metade da população e a fome aumenta, a direita comemora que economizou dinheiro do Estado para dar aos bancos.