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Futebol brasileiro: a criatividade do oprimido vs a agressividade do imperialismo

Veja de modo detalhado o posicionamento marxista com relação ao futebol, que é um posicionamento de politização de todas as atividades sociais, no trecho a seguir da Análise Política da Semana:

https://soundcloud.com/radiocausaoperaria/futebol-brasileiro-a?in=radiocausaoperaria/sets/perguntas-da-analise-politica-da-semana-1662018

“Abriu-se toda uma polêmica no interior da esquerda sobre a questão da Copa do Mundo, algumas pessoas defendem a posição antiga e tradicional de que o futebol é o ópio do povo, uma posição sem muito significado porque tudo aquilo que não seja a luta direta é uma espécie de ópio. O ópio também faz parte da vida, senão não existiria no mundo a religião, a frase do Marx, ‘A religião é o ópio do povo’ não implica que se deve abolir a religião por ser o ópio do povo, ela explica que o que é a religião. O povo sofre muito e precisa-se de uma anestésico, um ópio, algo que permita diminuir o sofrimento, é isso que Marx diz da religião, ou seja, justamente a força da religião é que ela é o ópio do povo, não é uma mera crítica pelo fato dela ser uma espécie de ópio.

Uma explicação da importância da religião, o ser-humano que não consegue satisfazer suas necessidades no mundo material, procura no mundo imaginário, religião, sua satisfação. Em um certo sentido, tudo aquilo que é usado para enfrentar a vida e que não seja diretamente um instrumento de luta, acaba sendo uma espécie de ópio. Logicamente que quando se fala de coisas como a arte, não vai se encontrar um significado único para ela, sendo que há momento em que ela é um instrumento de luta, enquanto em outros ela é um consolo.

Se o futebol é o ópio do povo ou não, é uma necessário fazer uma discussão com maior profundidade pela pessoas que formulam isso. O que acontece com o futebol, acontece com outras atividades na sociedade humana no ramo do entretenimento e todos os esportes, tudo aquilo que não significa diretamente trabalho ou uma atividade política de luta se enquadra na mesma situação. Existe no país há muito tempo, uma separação do futebol com as demais atividades parecidas com ele, que devemos dizer claramente que implica em certo preconceito. Ou seja, o futebol seria um ópio por ser uma atividade do trabalhador, da classe operária brasileira, se a classe média procura acalmar suas frustrações com o uso de drogas, ninguém fala que isso é o ópio do povo, embora seja literalmente um ópio. Então, é óbvio que há um preconceito social que muita gente da esquerda assimilou sem perceber um sentido geral deste preconceito.

Uma segunda questão importante sobre o tema é que todas as pessoas que estão procurando mobilizar o povo e esclarecê-lo sobre o golpe, não pode ignorar o problema do futebol. O futebol, queira ou não, atrai a atenção popular, independe do juízo de valor que se faça. Se isso ocorre, é preciso entrar nessa discussão, se se quer influenciar sobre os rumos da atenção popular, é preciso estar lá e entrar na discussão se você efetivamente quer influenciar a ação popular. Essa é a questão mais decisiva sobre o problema do futebol, se há no país o carnaval, que também pode ser considerado um ópio do povo, o que é correto? Deixar o carnaval para que a direita use para influenciar o povo ou buscar influenciar o povo? No futebol é a mesma coisa, é preciso aproveitar o interesse da população para levar adiante uma determinada luta política.

O fato de que se tenha lançado uma camisa vermelha substituindo a camisa tradicional, já deu todo um sentido politizado para o futebol. O Partido dos Trabalhadores (PT) teve uma iniciativa muito positiva, que é a transmissão dos jogos com os comentários do Lula, ou seja, aproveitar o interesse pelo esporte para levar adiante a luta contra o golpe, uma política que deve ser seguida.
É necessário explicar isso para todo mundo: que se há interesse pessoal ou não pelo futebol, isso é secundário, pois o povo tem interesse e se deve atuar aí de uma maneira política, portanto revolucionária. Cabe uma outra colocação com relação ao futebol que contraria o posicionamento com relação ao fato de coloca-lo como ópio.

O futebol é uma expressão popular, como toda expressão deste tipo, ela se opõe as tendências aristocráticas da burguesia. Em vários países do mundo é normal ver a oposição de classes dada na escolha pelos esportes, no Brasil ocorre o mesmo. O esporte é uma forma de afirmação das classes populares contra a burguesia, ao contrário do que se diz, a burguesia não gosta do futebol, mas explora-o. Ela não tem nada a ver com o esporte popular de fato, vimos aí que a direita que saiu com a camisa da seleção para protestar, se fosse feita uma pesquisa, seria possível ver que a maioria destes nem assistem aos jogos da seleção. Essas pessoas consideram que o país é um lixo, um país de gente inferior, que não merece respeito nenhum e, portanto, eles não respeitam a cultura brasileira que é bastante popular.

Não se pode colocar de maneira simplista que o futebol seja uma distração, pois ele faz parte da afirmação do povo diante das classes dominantes brasileiras. Isso já apareceu várias vezes, sendo que no começo do futebol no país, a elite buscou barrar os negros na prática do esporte. Foi necessário uma luta para que a participação popular se desse no futebol, isso tudo mostra que o futebol é um meio da afirmação da personalidade das camadas populares brasileiras contra a burguesia brasileira. A burguesia trava uma luta sem fim contra o futebol, procura banir as torcidas organizadas, busca colocar preços exorbitantes nos ingressos, vigiar todos os estádios. Tudo isso mostra que a luta contra o futebol é uma luta contra o povo.

No que diz respeito a seleção brasileira, há o fato do nacionalismo, uma questão pouco entendida. Muita gente não entende de que o nacionalismo em um país como o Brasil, Paraguai, Argentina é diferente do nacionalismo da França, Inglaterra. O nacionalismo destes últimos é o nacionalismo dos países capitalistas opressores, é uma afirmação destes países de impor ao mundo a sua vontade aos demais povos, enquanto os outros é um nacionalismo de povos oprimidos. O Brasil luta para ser independente destes países. Assim, o nacionalismo do brasileiro é a luta da liberdade do povo brasileiro contra a opressão estrangeira. É a mesma coisa que ocorreu na época da independência do Brasil de Portugal, quando ele se manifestou como grande corrente política e cultural, uma afirmação do povo oprimido para ser independente.

Torcer pela seleção brasileira contra as seleções europeias é um aspecto da luta anti-imperialista do povo brasileiro. O nacionalismo futebolístico brasileiro é isso aí, no caso do Brasil isso é mais forte, pois o futebol é em primeiro lugar um aspecto muito grande da cultura nacional e onde o futebol é mais praticado e com mais originalidade. No caso brasileiro, é uma grande afirmação da cultura popular brasileira contra o estrangeiro. O Brasil é o único país que esteve em todas as Copas do Mundo, o que mais foi campeão, sendo que só não foi mais vezes por causa da politicagem internacional. É absolutamente natural que um povo na luta pela sua emancipação, procure destacar os aspectos que mais marcam a afirmação de sua personalidade.
É como se o negro norte-americano não destacasse a cultura negra como sendo uma realização e uma conquista da afirmação de sua personalidade na luta pela sua independência, seria um contrassenso total. No caso dos EUA, também no Brasil, o esporte é um aspecto muito importante da luta do negro contra a opressão, quem é uma das personalidades mais destacada na luta pela libertação do negros: Cassius Clay e Mohamed Ali, boxeadores que assumiram uma posição nacionalista na questão do negro. Como eles expressaram conscientemente isso, ficou totalmente esclarecido. Mesmo que não fizessem o enfrentamento político, o esporte ainda continuaria sendo uma forma de afirmação, mas não com a intensidade da consciência dada. A posição política de Cassius Clay não era particularmente de esquerda, ele era da organização dos muçulmanos negros, que embora fosse nacionalista negra, tinha posições muito direitistas. Da mesma forma, ele se destaca como uma pessoa que defendeu os negros contra o racismo nos EUA.

Em matéria publicada no jornal em que buscou-se analisar os motivos da popularidade do futebol, destacou-se que é um esporte prático e fácil de se praticar, sendo que num país como o Brasil se improvisa uma bola e já pode-se jogar. Isso é correto, mas não explica o fundamental, que está relacionado com o caso do Cassius Clay, quando ele derrotou Sony Liston, Malcolm X declarou para a imprensa: é a vitória da inteligência do negro contra a força do branco. Ambos os lutadores eram negros, sendo que a frase significa que Cassius Clay ganhou por ser inteligente e representar os negros oprimidos pelos brancos, enquanto o Liston era mais forte, mas tinha mentalidade do escravista branco. Os esportes que são populares são esportes da habilidade e inteligência, enquanto os esportes da classe dominante em geral são da força. Isso é uma espécie de recriação do cenário da luta de classes, é a inteligência do oprimido, o talento, a improvisação, a capacidade criativa do oprimido contra a força do opressor, isso também é um dos grandes atrativos do futebol para o povo brasileiro, por que o futebol é acima de tudo o esporte da criatividade, da habilidade, da inteligência. Por isso, durante tanto tempo se contratava o futebol brasileiro, chamado futebol arte, com o futebol europeu, futebol força.

Os comentaristas colocavam que haviam duas grandes escolas de futebol, que se observarmos de perto é a escola dos países imperialistas, onde o futebol é levado adiante pela força muscular, física, que é uma coisa típica da classe dominante. O futebol latino-americano, onde a coisa é levada adiante pela criatividade, pela Inteligência, característica típica dos oprimidos na luta de classes. Muita gente não se dá conta disso, fazendo uma análise superficial, que acaba prejudicando o debate. Devemos aproveitar o período da Copa do Mundo para aprofundar o debate, pois isso ajuda não só a esclarecer como também a politizar o problema do esporte no país.

A política domina tudo, é como se ela fosse a ossatura de todas as atividades sociais, não dá para escapar. Em todos os lugares, em todos os níveis sociais, em todas as facetas da atividade humana, há uma luta pelo poder: dentro da fábrica, dentro da escola, por que em todo lugar há a opressão capitalista e a luta contra ela. Nossa função não é estigmatizar determinadas atividades, mas politizar. Os marxistas, com relação a religião, nunca se opuseram e se colocaram fora do terreno religioso como muita gente acha, a política marxista é para ganhar os elementos progressistas contra os elementos da classe dominante. Também a religião é um terreno da luta de classes, é um terreno da influência política. Então temos que ter um ponto de vista mais abrangente nesta questão.”

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