Conforme uma pesquisa desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP), os atletas de futebol do estado de São Paulo, vinculados à Federação Paulista de Futebol (FPF), no período de 2020, apresentaram uma taxa de incidência de infecção pelo COVID-19 de 11,7%. Este percentual é equivalente ao dos profissionais da saúde que atuam na linha de frente no combate à pandemia nos hospitais e postos de saúde do País.
Os pesquisadores avaliaram 30 mil testes de RT-PCR de 4.269 atletas no decorrer de oito torneios, seis masculinos (Taça Paulista, Sub-23, Sub-20 e as três divisões do Campeonato Paulista) e dois femininos (Campeonato Paulista e Sub-17). No total, 501 testes confirmaram a presença do SARS-CoV-2. Também foram analisados 2.231 testes feitos em integrantes das equipes de apoio (profissionais da saúde, comissão técnica, dirigentes, roupeiros etc.) e 161 deram positivo, ou seja, 7%.
Provavelmente os números são subestimados, o que aponta para um quadro de ainda maior gravidade. O Comitê Médico da Federação Paulista de Futebol elaborou um protocolo com testagem sistemática dos atletas e equipes de apoio, isolamento de infectados, rastreio de contactantes (dentro do ambiente esportivo) e uma série de medidas de higiene. As medidas de rastreio dos contactantes, fundamental para evitar a propagação do vírus, jamais foram implementadas. Assim, não é possível conceber o impacto das infecções secundárias pelos jogadores em domicílios e círculos sociais.
O professor da Faculdade de Medicina da USP, Gualano, elenca uma série de fatores que permitem o avanço dos contágios no futebol brasileiro. Porém, um dos mais fundamentais, é a desigualdade social que permeia o futebol. Uma coisa são os clubes grandes, que têm dinheiro e infraestrutura e outra são os clubes pequenos.
A pesquisa foi realizada no âmbito da coalizão Esporte-Covid-19, formada por pesquisadores do Hospital das Clínicas (FM-USP), Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Coração (HCor), Complexo Hospitalar de Niterói, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Núcleo de Alto Rendimento Esportivo, com o apoio da Federação Paulista de Futebol.
Diante dos contágios de jogadores de futebol e funcionários dos clubes, os capitalistas cartolas que controlam a Federação Paulista de Futebol não permitem a interrupção dos torneios. Para eles, trata-se de manter seus negócios e lucros, não existindo qualquer tipo de preocupação com a saúde e a vida dos atletas e trabalhadores.