Amanhã ocorrem as eleições legislativas na Grécia, país falido pelo saque do imperialismo a partir da crise de 2008. Segundo as pesquisas de intenção de voto, o direitista Nova Democracia deverá ganhar mais da metade das 300 cadeiras, o que seria uma vitória acachapante sobre o Syriza, partido do atual primeiro-ministro Alexis Tsipras.
Essa seria a derrota definitiva do partido da esquerda pequeno-burguesa, após ter perdido as recentes eleições locais e para o Parlamento Europeu. Isso obrigou Tsipras a antecipar as eleições legislativas, que ocorreriam em outubro.
Não adiantou para o Syriza se vender à burguesia para ajudar na espoliação do povo grego. O partido apareceu como um suposto contraponto à política neoliberal que foi imposta aos gregos pela Troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) alegadamente para “salvar” o país da crise de 2008.
A Grécia foi a nação europeia mais afetada por essa crise. O país foi à bancarrota. Isso gerou uma intensa polarização e derrocada do regime político, levando a esquerda e a extrema-direita a ganharem apoio. Por um lado, os trabalhadores realizaram grandes jornadas de manifestações, greves gerais e protestos radicalizados, com o Partido Comunista (KKE) e o Syriza ganhando apoio. Por outro, a burguesia percebeu que estava na hora de impulsionar um movimento fascista e o Aurora Dourada, partido de extrema-direita, passou a realizar importantes intervenções no cenário político.
A crise econômica de 2008 gerou também uma forte crise do regime político. Os partidos tradicionais, assim, foram praticamente varridos do mapa. O social-democrata Pasok, tradicional partido da ala esquerda da burguesia, afundou, assim como tem ocorrido com a social-democracia europeia de modo geral.
O Syriza se apresentou como uma alternativa ao desmonte dos direitos mais básicos dos gregos, denunciando a política neoliberal. Assim, conquistou a vitória nas eleições de 2015 e Tsipras se tornou primeiro-ministro.
Entretanto, logo quando iniciou seu governo, o Syriza mostrou que todas as suas denúncias não passavam de demagogia eleitoral e deu continuidade à implementação da chamada política de austeridade. Isso gerou um racha no partido, com a saída de importantes dirigentes, como o ministro das Finanças e intelectual da “nova esquerda”, Yanis Varoufakis.
O Syriza fez acordos com a Troika para “solucionar” a crise, o que significou entregar toda a economia da Grécia para os grandes bancos alemães e franceses, atacando os direitos dos trabalhadores, privatizando os principais setores estratégicos, “enxugando” a máquina pública e cortando os gastos sociais. Tudo isso, para pagar a dívida estratosférica que os bancos impuseram ao país mediterrâneo, uma dívida que, obviamente, nunca será paga. O desemprego na Grécia, por exemplo, continua sendo o maior da Zona do Euro (18%).
A verdade é que o Syriza não passa de uma versão 2.0 dos tradicionais partidos social-democratas, da ala esquerda da burguesia europeia. Tentou se apresentar como alternativa anticapitalista, mas é um primo pobre do Pasok.
Foi colocado pela burguesia para conter o movimento revolucionário dos trabalhadores gregos, com sua política que nem mesmo é reformista. Isso porque, diante da crise total do regime, era a opção que o imperialismo encontrou para salvá-lo. O Syriza sustentou o regime burguês e está pagando o preço agora, ao impor uma política totalmente impopular. Os trabalhadores já não acreditam mais no Syriza.
Essa é a mesma política de partidos como o Podemos na Espanha, o Bloco de Esquerda em Portugal, o França Insubmissa ou o Die Linke na Alemanha. O Psol é o representante dessa política no Brasil.
Trata-se de partidos criados na esteira da crise dos partidos social-democratas tradicionais, em meio à putrefação do regime político e econômico. Inicialmente, adotam discursos radicais, mas não conseguem congregar uma base de massas e por isso acabam adotando uma política totalmente capituladora e pequeno-burguesa. Desses partidos, somente o grego chegou ao poder, e demonstrou o que acontece quando a esquerda pequeno-burguesa tenta substituir os partidos tradicionais a mando da burguesia: adota a mesma política que eles, mas, como não têm o apoio de toda a burguesia de conjunto, são facilmente descartáveis quando os capitalistas percebem que já está na hora de trocá-los.
A política para solucionar a crise a favor dos trabalhadores é uma política da classe operária: a expropriação da burguesia e a ascensão de um governo proletário, controlado pelos trabalhadores, que estatize a propriedade privada e distribua emprego e salário aos mortos de fome pelo saque capitalista. Essa, no entanto, não é a política dos partidos da esquerda pequeno-burguesa.