O Partido da Causa Operária inicia nesta terça-feira (5) a 46ª edição da Universidade de Férias, com o tema “O que foi o stalinismo?” O curso vem a calhar, dado o momento em que um revisionismo do papel desempenhado pelo stalinismo aparece no País, algo que parece um tanto aleatório, mas obviamente, cumpre um papel relevante para a crise política atual.
Resultado de uma derrota da ala revolucionária do bolchevismo, o stalinismo marcou a guinada à direita da Revolução Russa de 1917, sendo posteriormente, responsável por uma impressionante coleção de derrotas da classe operária a nível mundial.
A completa falta de orientação política da burocracia stalinista levou a União Soviética a adotar posições dignas de um filme de comédia pastelão: ora o stalinismo tratava como iguais fascistas e sociais democratas, ora criava distinções confusas entre imperialistas “democráticos” e imperialistas “antidemocráticos”, chegando mesmo a buscar acordos com o nazismo.
Duas derrotas monumentais na França, orientações desorientadas para operários da Itália e da Alemanha no combate ao fascismo, a insistência em querer submeter os comunistas da China à burguesia do país -com consequências trágicas para dezenas de milhares de chineses-, a traição aberta contra o levante dos trabalhadores espanhóis nos anos 1930, a manobra para submeter a classe operária da Europa ocidental à burguesia imperialista -pela crença da “democracia”-, e muitos outros fatos históricos derrubam o mito do “Guia genial dos povos”, como Stálin passou a ser conhecido após a Segunda Grande Guerra.
Sob diversos aspectos, as políticas erráticas adotadas pela burocracia soviética em muito se assemelham com as da esquerda pequeno-burguesa brasileira desde o Golpe de 16, levando a outra impressionante série de derrotas, o que não é um fenômeno aleatório.
Longe de endossar a mistificação criada em torno da figura de Stálin, tido em sua fase mais gloriosa como um deus vivo, os revolucionários não devem opor-se à mistificação por uma crítica igualmente mistificadora -comum em alguns meios pequeno-burgueses ditos trotskistas-, de que Stálin seria um demônio ou algo do gênero.
Sendo parte intrínseca da luta de classes, a melhor forma dos militantes revolucionários observarem o fenômeno do stalinismo é -naturalmente- a partir de sua composição social. Sustentando-se sobre um setor tradicionalmente pequeno-burguês, a burocracia, toda a falta de princípios sólidos, a fragilidade diante da burguesia, o uso da histeria como método de luta política e tantas marcas características da pequena burguesia e visíveis no stalinismo ganham um caráter mais concreto.
O desenvolvimento do stalinismo produziu uma crescente degeneração do Estado operário, processo que seria paulatinamente aprofundado até o fim da União Soviética, no final do século 20. Este processo, desde sua concepção até o retrocesso completo da revolução, nos anos 1990, ajuda a esclarecer as motivações políticas dos setores mais à direita dentro da esquerda, os quais têm levantado a necessidade de uma aliança com a burguesia, ainda que extremamente danosa à classe trabalhadora.
A compreensão do fenômeno do stalinismo, portanto, diz muito sobre a atualidade que os revolucionários brasileiros atravessam, fazendo com que o curso da 46ª Universidade de Férias seja muito bem vindo a todos que buscam não apenas compreender mas também atuar no momento histórico que o País atravessa.