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"Tem gente com fome..."

Solano Trindade, o poeta do povo negro

Solano Trindade alem de poeta, foi um dos maiores incentivadores da cultura negra de sua época e um aguerrido militante comunista

Carlos Drummond de Andrade o chamou de o maior poeta negro do Brasil. A figura de Solano Trindade se ergue na literatura afro-brasileira como um verdadeiro ícone.

Solano Trindade foi, além de poeta, um ativista político, agitador cultural, ator e teatrólogo. Deixou uma importante obra literária que ficou esquecida do grande público, ignorada pelas grades curriculares das universidades, dos livros especializados e é estudada por poucos.

Ele colocou em seus versos certeiros a luta do povo negro, os problemas sociais, os problemas da terra, temas que continuam tremendamente atuais. Em seu trabalho como agitador cultural funda teatros populares, centros e associações que buscam levar a arte ao povo trabalhador e divulgar os artistas e intelectuais negros.

Infancia no Recife

Francisco Solano Trindade nasceu no bairro de São José em Recife em 24 de julho de 1908. Era filho do sapateiro Manuel Abílio Trindade e da quituteira Emerenciana Maria de Jesus Trindade. Cresceu em um lar católico apesar de seu pai praticar o candomblé, incorporando entidades às escondidas. Sua origem está presente em um de seus poemas: “Minha mãe foi operária cigarreira/da Fábrica Caxias/ Nascida de índio/ E africano/ Meu pai/ Foi sapateiro/ Especialista em Luís XV/ Nasceu de branco e africano/ Sabia falar em nagô”.

Desde cedo tomou consciência da vida árdua dos trabalhadores e das injustiças contra o povo negro. Teve contato com a cultura popular e o folclore levado pelas mãos do pai em seus dias de folga. O carnaval, o maracatu e o frevo fascinaram o menino Francisco. A pedido da mãe, analfabeta, lia novelas, literatura de cordel e poesia romântica, que ambos apreciavam. Estudou até o equivalente ao Segundo Grau, depois estudando por um ano no Liceu de Artes e Ofícios. Abandonou os estudo para se aprofundar na poesia, onde iria se tornar uma das maiores vozes do povo negro.

No final da década de 20 tornou-se protestante, chegando a se tornar diácono da Igreja Presbiteriana, mas acaba desistindo após constatar que a religião não atua na resolução dos problemas dos negros. Por esta época começa a publicar seus primeiros poemas. Em 1934 conhece e se casa com Margarida, com quem teria quatro filhos.

Agitação cultural

Em 1934 foi realizado em Recife o primeiro Congresso Afro-Brasileiro, liderado pelo escritor e sociólogo Gilberto Freyre. Solano foi um dos idealizadores desse Congresso. O segundo Congresso foi realizado em Salvador três anos depois. Em 1936, entusiasmado com os movimentos em prol da consciência negra que surgiam em todas as partes do país fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura Afro-Brasileira, juntamente com o poeta Ascenso Ferreira, o pintor Barros e o escritor José Vicente Lima. Esses órgãos tinham o objetivo de divulgar as idéias e trabalhos de intelectuais e artistas negros. O documento de fundação do Centro de Cultura Afro-Brasileira proclama: “não faremos lutas de raças, porém ensinaremos os irmãos negros que não há raça superior, nem inferior, e o que faz distinguir uns dos outros é o desenvolvimento cultural. São anseios legítimos a que ninguém de boa fé poderá recusar cooperação.”

Primeiras publicações

Em 1936 estréia na literatura com a publicação de “Poemas Negros”. Em 1942 muda-se para o Rio de Janeiro onde se integra aos círculos literários, culturais e políticos. Filia-se ao Partido Comunista e forma em Caxias a célula Tiradentes, na qual se reuniam operários e camponeses da Baixada Fluminense. Em 1944 publica o seu livro “Poema d’Uma Vida Simples” que traz o seu poema mais famoso, “Trem Sujo da Leopoldina”, que se tornou extremamente popular entre os trabalhadores e os estudantes, especialmente aqueles que frequentam as leituras que Solano conduz no Centro de Cultura Popular da UNE, uma época em que as mobilizações operárias e estudantis estava em alta.

[…]
Só nas estações,
Quando vai parando,
Lentamente,
Começa a dizer:
Se tem gente com fome,
dá de comer…
se tem gente com fome,
dá de comer…
Mas o freio de ar,
Todo autoritário,
Manda o trem calar:
Psiuuuuu…

Durante a época do Estado Novo de Getúlio Vargas sofreu perseguições por ser do Partido Comunista e também por ser negro. Em uma ocasião foi preso, acusado de guardar armas no teto de sua casa.

Em 1945 funda o Teatro Experimental do Negro (TEN). Durante a estréia no Rio, em maio daquele ano, o TEN sofre violentos ataques dos conservadores. O editorial do jornal O Globo chegou a afirmar que se tratava de “um grupo palmarista tentando criar um problema artificial no país”, referindo-se ao racismo, que segundo o jornal não existiria no Brasil. Em 1950 funda, em Caxias, o Teatro Popular Brasileiro, que contava com um elenco formado por domésticas, operários e estudantes e tinha como projeto “pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte”. Nos anos seguintes vários dos espetáculos de dança e canto do TPB foram levados para apresentações na Europa.

Solano foi também ator, participando de vários filmes, entre eles o notável drama “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” em 1965, dirigido por Roberto Santos e inspirado na obra “Sagarana” de João Guimarães Rosa.

Seu terceiro livro, “Seis Tempos de Poesia” é lançado em 1958. Em 1960 passa a residir na cidade de Embu, próximo a São Paulo. Lá deflagra uma movimentação que se vai se tornar em uma grande cena cultural atraindo público da capital e estimulando o desenvolvimento da pintura e artesanato locais. Nos anos seguintes Embu viria a ser conhecida como “Embu das Artes”, uma grande atração turística. Em 1961 saiu o quarto livro de Solano, “Cantares ao Meu Povo”.

A partir de 1970 sua saúde começou a apresentar problemas. Durante toda sua vida se dedicou à arte e não se preocupou com bens materiais. Acabou falecendo, pobre, em 19 de fevereiro de 1974 no Rio de Janeiro.

Em 1976 virou tema da escola de samba Vai-Vai, com enredo elaborado por sua filha Raquel. Esta se tornou tambem uma escritora e folclorista e também a curadora da obra de Solano Trindade, mantendo o Centro Cultural Solano Trindade na cidade de Embu das Artes e dando continuidade a projetos de seu pai como o Teatro Popular Solano Trindade.

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